A ação de denúncia envolveu 10 trabalhadores e ativistas do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), cuja dirigente sindical defende que a diferenciação entre as tabelas A e B poderia fazer sentido há algumas décadas, mas já não se justifica na atualidade.
"A tabela salarial destes trabalhadores ainda define que os funcionários de supermercados nos distritos de Porto, Lisboa e Setúbal ganham mais do que os que exercem as mesmas funções e têm a mesma carga horária nas outras regiões do país", explicou à Lusa Cláudia Pereira.
"Um dos casos mais evidentes é aqui em Espinho [no distrito de Aveiro] onde, para a mesma categoria de operador especializado, um empregado do Pingo Doce ganha menos 41 euros por mês do que uma pessoa a exercer exatamente o mesmo serviço no supermercado de São Félix da Marinha, que só está a três quilómetros de distância, mas já pertence ao concelho de Gaia, no distrito do Porto", realçou a sindicalista.
Cláudia Pereira recordou que as diferentes tabelas terão sido definidas "há uns 30 anos" para compensar os trabalhadores que, nas principais metrópoles do país, tinham que despender recursos extra em serviços como infantários e transportes públicos para poder trabalhar.
"Mas isso agora é igual para toda a gente ou ainda pior para quem está fora das grandes cidades e não tem alternativa a não ser ir trabalhar no próprio carro", defende.
A mesma responsável afirma que a situação também afeta outras cadeias de distribuição nacionais, como a Sonae, em que "há, por exemplo, discriminação entre os trabalhadores de Coimbra e os do Porto".
O CESP reivindica, por isso, a extinção da tabela B e também a correção da "injustiça na carreira profissional dos operadores de armazém", cuja categoria profissional não os reconhece como operadores especializados.
Essas e outras questões motivam na próxima quinta-feira uma manifestação em Lisboa, junto à sede da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce.
"É que a vergonha é ainda maior no caso do Pingo Doce, porque a Jerónimo Martins está na presidência da APED [Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição] e não acaba com esta discriminação", conclui Cláudia Pereira.
Contactada pela Lusa, a administração da Jerónimo Martins referiu que as tabelas salariais em causa são as do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) aplicável ao setor da distribuição, pelo que remeteu quaisquer esclarecimentos para a APED.
A direção dessa estrutura, por sua vez, nota que "estão a decorrer em sede própria as negociações relativas ao novo CCT", o que, no contexto das empresas suas associadas, envolve um universo de 111.000 trabalhadores.
Por esse motivo, "a APED apela ao sentido de responsabilidade dos sindicatos para que o debate continue a acontecer à mesa de negociações, de modo a que sejam encontradas as soluções mais adequadas neste processo".
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