Com esta decisão, Paris torna-se na única capital europeia a proibir completamente o uso de trotinetas elétricas, conta o Le Monde. Assim, as três operadoras na capital francesa — Lime, Tier e Dott — vão ter os seus contratos terminados a 31 de agosto, o que significa que vão desaparecer as 15 mil trotinetas.

Os resultados do referendo, que aconteceu este domingo, mostram que 89,03% da população não quer que as trotinetas continuem a correr na cidade. Contudo, a votação foi marcada por uma baixa afluência às urnas: 103.084 pessoas, ou seja, menos de 7,5% dos eleitores registados.

A população contra as trotinetas elétricas alega que estas são frequentemente abandonas em qualquer local do espaço público, circulam em excesso de velocidade e que têm uma alta pegada de carbono.

No que diz respeito à velocidade, foram registados 408 acidentes em Paris em 2022, nos quais três pessoas morreram e 459 ficaram feridas, de acordo com as autoridades.

A autarca de Paris, Anne Hidalgo, tinha-se comprometido a respeitar a decisão dos parisienses, apoiando mesmo a campanha pelo "não", sublinhando que a remoção das trotinetas iria reduzir o "incómodo" nos passeios e calçadas da capital. Por isso, fez o anúncio oficial ao fim da noite: "A 1 de setembro não haverá mais trotinetas em Paris".

As três operadoras criticam o referendo, afirmando que poucas pessoas votaram — e que poucos jovens entre os 18 e os 24 anos sabiam do referendo — e que os locais de votação deveriam ter sido distribuídos de outra forma pela cidade ou optar-se pela votação eletrónica.

"O resultado desta votação terá um impacto directo nas viagens de 400.000 pessoas por mês", dizem. "A partir de agora, a nossa prioridade como empregadores responsáveis é assegurar o futuro dos nossos empregados". No total, as três empresas empregam cerca de 800 pessoas em Paris.

E em Portugal?

O secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, defendeu no início do ano que existe um problema de mobilidade nas cidades, podendo a solução passar por modos suaves partilhados, apesar de as trotinetas estarem a ser diabolizadas.

“As pessoas vão mudar a sua forma de se moverem quando conseguirem identificar que há uma alternativa que as serve. Para isso estamos a fazer os investimentos no sistema pesado de transporte, redes de metro e na capacitação de autoridades para terem redes de transporte rodoviário mais eficientes”, sublinhou.

Para Jorge Delgado, a micromobilidade “faz parte do sistema de uma forma natural”, frisando mesmo ser “fundamental”, justificando que é através demovimentos pedonais, cicláveis e de trotinetas que se podem fazer os percursos complementares que, de outra forma, não permitem aceder ao transporte público mais geral.

O secretário de Estado lembrou também que o sentimento geral na comunidade é de “alguma preocupação pela forma, às vezes, pouco racional da utilização” das trotinetas, resultando não da ausência da regulação “mas do não cumprimento da regulação” já existente.

“Gosto sempre de lembrar que, se olharmos para a forma como a invasão do automóvel é feita na nossa cidade, pela sua quantidade e pela forma desorganizada com que muitas vezes circula e para em cima do passeio, é também um problema. Não diabolizemos as trotinetas”, disse, frisando que há que trabalhar no tema.

Jorge Delgado admitiu a possibilidade de haver mais trotinetas nas cidades, mas para isso o espaço público terá de ser dimensionado e cada município terá de o fazer através dos planos de mobilidade sustentável.

Para o secretário de Estado, “à medida que formos conseguindo retirar mais veículos automóveis das cidades, vamos ter mais espaço para trotinetas”.

“Há que encontrar uma forma de se dimensionar. Se se conseguisse retirar de cada rua 2/3 lugares de estacionamento e os dedicasse a trotinetas, conseguia garantir estacionamento lógico e sem ser em cima do passeio. Sabemos que é uma medida que vai incomodar muito as pessoas que usam o automóvel, mas temos de começar a ter alguma coragem de o fazer, caso contrário, a culpa vai ser sempre da trotineta, mas na realidade quem, ainda assim, é o invasor maior é o veículo automóvel”, considerou.

No que diz respeito à segurança, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) registou um aumento nos acidentes que envolvem este meio de transporte nos grandes centros urbanos.

No total, 1.691 utilizadores de trotinetes ficaram feridos. Os acidentes aumentaram 78% no ano passado em relação a 2021, quando se registaram 946, voltando a descer em 2020 (367), enquanto em 2019 o INEM registou 577 feridos.

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