Os comentários do presidente republicano, que se tornaram conhecidos em entrevistas divulgadas nesta quarta-feira, foram denunciados como algo "quase criminoso" pelo seu rival democrata nas eleições de novembro, Joe Biden, que lidera as sondagens.

As gravações, divulgadas pela CNN, constam de "Rage", novo livro de Woodward sobre a presidência de Trump, que será lançado no próximo dia 15. Nas conversas com Woodward, o presidente americano reconhece, no início da pandemia, que o novo coronavírus é "muito difícil" devido às suas formas de transmissão, e aponta que o mesmo mata mais do que a gripe. "É transmitido pelo ar, Bob (...) Isso é algo fatal", disse Trump a Woodward em 7 de fevereiro.

Semanas mais tarde, o presidente afirmou que procurou deliberadamente não dar grande importância ao tema, mesmo depois de declarar emergência nacional. "Sempre quis minimizar a sua importância. Ainda gosto de minimizá-lo, porque não quero criar pânico", comentou Trump em 19 de março, durante outra conversa com Woodward.

Com mais de 190 mil mortos e 6,3 milhões de infetados, os Estados Unidos são o país mais afetado do mundo pelo novo coronavírus. A gestão da pandemia por Trump, acusado por muitos de negligência visando a aumentar as chances de ser reeleito, é desaprovada por cerca de dois terços dos americanos, segundo as sondagens citadas pela agência France-Presse.

"Mentiu-nos durante meses"

Joe Biden já disparou contra o adversário republicano. "Donald Trump sabia. Mentiu-nos durante meses. Embora uma doença fatal tenha arrasado o nosso país, não fez o seu trabalho, a propósito. Foi uma traição de vida ou morte ao povo americano", escreveu o democrata na rede social Twitter.

"É repugnante", declarou Biden, em seguida. "Pensem no que ele não fez e é quase criminoso."

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, líder democrata no Congresso, considerou que as conversas mostraram a "fraqueza" de Trump ao enfrentar o desafio, bem como "o seu desprezo pela ciência. Claramente, o presidente não esteve à altura", disse ao canal de televisão MSNBC.

"Mostrar calma"

Definindo-se como um "animador" da nação, Trump insistiu esta quarta-feira que a sua obrigação era "mostrar calma e fortaleza como nação. Amo este país e não quero que as pessoas se assustem. Não vou levar este país ou o mundo a um frenesim. Seja Woodward ou qualquer outra pessoa, não pode mostrar uma sensação de pânico, ou terá problemas maiores que os de antes", declarou o presidente na Casa Branca.

A assessora de imprensa do governo, Kayleigh McEnany, afirmou que a única motivação de Trump para minimizar os riscos era tranquilizar o público. "É importante expressar confiança, é importante expressar calma", disse. "O presidente nunca mentiu para o público americano sobre a Covid-19."

O principal especialista em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci, membro da unidade instalada na Casa Branca para responder à crise, disse não achar que Trump alterou os factos. "Não me lembro de nada que tenha sido uma grande distorção das coisas que lhe disse", declarou ao canal Fox News.

Questão de ética

Trump considerou que o livro, baseado em 18 entrevistas gravadas por Woodward com a autorização do presidente entre dezembro de 2019 e julho de 2020, é "outro sucesso político".

O jornalista ganhou fama quando, como funcionário do jornal "Washington Post", ajudou, juntamente com Carl Bernstein, a revelar o escândalo Watergate, que derrubou o presidente americano Richard Nixon em 1974.

Rage (raiva) é o segundo livro de Woodward sobre a presidência Trump, depois de Fear (medo), lançado em setembro de 2018. Mesmo sendo um profissional reconhecido, o jornalista recebeu críticas por manter as informações guardadas por tanto tempo, a pensar no livro.

"Na situação atual, de vida ou morte, será ética esta prática tradicional?", questiona David Boardman, decano da faculdade de jornalismo da Temple University. Consultado pelo Washington Post, Woodward respondeu que procurava dar mais contexto do que poderia proporcionar num artigo informativo.