O Air Force One, avião do presidente norte-americano, aterrou pouco antes das das 20:30 locais em Singapura, poucas horas depois da chegada do líder norte coreano.
O arsenal nuclear de Pyongyang, que lhe rendeu várias séries de sanções do Conselho de Segurança da ONU e ameaças de ações militares do governo de Trump, será a questão central na agenda de um encontro há muito esperado, mas até agora marcado por avanços e recuos nas relações entre os dois países e respetivos líderes.
Encerrar formalmente a Guerra da Coreia, 65 anos após o fim das hostilidades, também estará sobre a mesa no primeiro encontro entre o líder norte-coreano e um presidente em exercício do seu "inimigo imperialista".
Kim chegou a Singapura a bordo de um 747 da Air China, que segundo o site de registo de voos Flightradar24 descolou de Pyongyang esta manhã com destino a Pequim antes de alterar o número do voo, já no ar, para se dirigir para o sul, onde se localiza o palco da cimeira.
O ministro das Relações Exteriores da cidade-Estado, Vivian Balakrishnan, publicou nas redes sociais uma foto de si mesmo saudando o líder norte-coreano, no aeroporto. Kim foi levado para o centro da cidade numa limusine acompanhada por um comboio de mais de 20 veículos.
O líder norte-coreano tem marcado um encontro com o presidente de Singapura, Lee Hsien Loong, ainda na tarde deste domingo, de acordo com o ministério das Relações Exteriores.
Os cliques das câmaras
A cimeira desta terça-feira (12/06) em Singapura é o clímax de uma espetacular ofensiva diplomática recente em torno da península coreana, mas muitos críticos alertam para os riscos de um triunfo da forma sobre a substância.
Washington exige uma desnuclearização completa, verificável e irreversível da Coreia do Norte, mas até agora Pyongyang só prometeu publicamente um compromisso com a desnuclearização da península, um termo difícil de interpretar.
Richard Armitage, subsecretário de Estado de Washington durante o governo de George W. Bush, aposta em poucos progressos na questão-chave da desnuclearização. "O sucesso será nos cliques das câmaras", disse, citado pela agência France-Presse
Trump insistiu na semana passada que a cimeira não seria "apenas uma sessão de fotos", dizendo que ajudaria a forjar um "bom relacionamento" que poderia levar a um "processo".
Mas, antes de embarcar para Singapura, mudou o tom e afirmou que o seu encontro com Kim Jong Un é "uma ocasião única", assegurando que "desde o primeiro minuto" saberia se um acordo pode ser alcançado.
Donald Trump também levantou a possibilidade de Kim Jong Un visitar Washington se tudo correr bem em Singapura.
Mas embora a reunião tenha mérito em si, já que era um anseio de Pyongyang atendido por Trump impulsivamente em março, também levanta questões.
"As pessoas dizem que é uma cimeira histórica (...) o que é importante entender é que esta cimeira estava ao alcance de qualquer presidente dos Estados Unidos, e a questão é que nenhum presidente americano quis e tinham as suas razões", explicou Christopher Hill, ex-negociador-chefe dos Estados Unidos sobre a questão da Coreia do Norte.
Décadas de tensão
Os dois países enfrentam-se há décadas.
A Coreia do Norte invadiu o Sul em 1950, provocando uma guerra em que a Coreia do Sul foi assistida por um contingente da ONU liderado pelos Estados Unidos, que enfrentou as tropas de Pyongyang, auxiliadas pela Rússia e pela China.
O conflito terminou com um armistício que selou a divisão da península sem um tratado de paz.
Ao longo dos anos, a Coreia do Norte continuou a lançar provocações esporádicas, ao mesmo tempo que avançava o seu programa nuclear, apresentado como uma garantia contra os riscos de uma invasão americana.
No ano passado, realizou o teste nuclear mais poderoso da sua história e testou mísseis capazes de atingir o continente dos Estados Unidos, alimentando tensões, que atingiram níveis sem precedentes, com ameaças e insultos trocados entre Kim e Trump.
Mas a oportunidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos de Inverno em fevereiro na Coreia do Sul catalisou uma série de reuniões com o líder de Seul, Moon Jae-in, que procurou pavimentar o diálogo.
Kim encontrou-se duas vezes com Moon e com o presidente chinês Xi Jinping.
Pyongyang também procurou demonstrar boa vontade ao libertar americanos detidos e destruir o local onde os seus testes nucleares eram realizados.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou na semana passada que "progressos" deveriam ser feitos para aproximar as posições de ambos os lados sobre o que é a desnuclearização.
Mas Trump confundiu os especialistas quando disse que não planeava preparar-se muito para o encontro. "É uma questão de atitude", disse Trump.
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