"A minha declaração provocou a reação de muitas pessoas, mas eu mantenho o que disse", declarou o presidente francês esta terça-feira, dia 3, numa entrevista ao lado de Donald Trump — que considerou as declarações foram "muito ofensivas".
Porém, Trump não foi o único. Também o secretário-geral, Jens Stoltenberg, criticou as declarações francesas sobre a entidade ao afirmar que "a Aliança é ativa, ágil e efetiva".
Com as suas declarações polémicas, Macron tentou sacudir a cimeira da NATO que se iniciou esta terça-feira em Londres.
Diante do presidente dos Estados Unidos, o presidente francês disse que a Aliança, nascida dos escombros da Segunda Guerra Mundial para enfrentar a vizinha União Soviética na Europa, não é "apenas dinheiro".
A França defende uma reforma na estratégia da NATO, num contexto paralelo ao crescimento militar da China e aos ataques de grupos extremistas, razão, aliás, pela qual Paris está preocupada com a ofensiva da Turquia no norte da Síria.
Macron afirmou que a Turquia deveria combater as milícias curdas das Unidades de Proteção Popular (YPG), peça-chave na luta contra o grupo radical Estado Islâmico, ainda que exista a noção de que Ancara "às vezes" trabalha com os seus "intermediários".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou a visão de Macron no passado e, antes de viajar para Londres, anunciou que vetaria as decisões NATO — desde que o YPG não seja reconhecido como "terrorista".
Numa reunião, com a presença do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel, Erdogan e Macron concordaram que a prioridade é lutar contra o autoproclamado Estado Islâmico.
Todavia, "nem todos os esclarecimentos foram obtidos nem todas as ambiguidades foram resolvidas", alongou Macron, para quem não se deve "misturar as situações" em relação aos grupos terroristas.
Investimentos "morosos"
O último dia, no qual será apresentado um documento para relembrar os sucessos da NATO, deve ser o mais agitado, uma vez que é esperado que Trump volte novamente a fazer pressão sobre os aliados que não gastam o suficiente.
Contudo, o presidente dos Estados Unidos, o primeiro poder da NATO e cujos gastos militares nacionais atingiram 3,30% do PIB em 2018, elogiou os esforços dos aliados para aumentar as contribuições para o organismo.
Ainda assim, na sua opinião, os processos para o aumento nos investimentos estão "morosos". Segundo dados da Aliança, apenas nove dos seus 29 membros atingiram 2% do PIB durante este ano em gastos militares, meta prometida até 2024.
O líder norte-americano apontou como exemplo o caso da primeira economia europeia, a Alemanha, que vai atingir 1,38% do PIB em 2019. Contudo, não esqueceu aqueles com menos gastos, uma referência ao Luxemburgo (0,56%) e Espanha (0,92%).
Apesar das suas criticas e da disputa comercial em relação imposto francês sobre o setor digital, Trump adotou uma postura mais conciliatória com Macron sobre a estratégia da NATO.
China no retrovisor
Trump defendeu examinar, por exemplo, desafios como "o enorme crescimento da China", peça-chave para a Rússia e os Estados Unidos, deixando um tratado fundamental da Guerra Fria sobre armas nucleares.
"Acabámos com o tratado INF [Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance] porque a outra parte [Moscovo] não vai aderir, mas quer firmar um acordo e nós também", disse Trump, considerando possível "conseguir uma solução" para as armas nucleares.
Macron pediu também, nesse contexto, um "diálogo estratégico", mas sem "ingenuidade" para com a Rússia, o principal foco de preocupação dos países bálticos desde o início do conflito na Ucrânia em 2014.
Pouco antes, o presidente russo, Vladimir Putin, disse estar disposto a "cooperar" em questões como "terrorismo" ou "o perigo da proliferação de armas de destruição em massa" — apesar do comportamento dos aliados.
Esta quarta-feira, os líderes terão em cima da mesa as propostas de Paris e Berlim para iniciar uma reflexão sobre o futuro da NATO e devem confirmar a sua aposta no espaço, entre outras decisões.
Por: Toni Cerdà da agência France-Press (AFP)
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