Num relatório hoje divulgado, esta organização não-governamental (ONG) revelou que os refugiados foram sujeitos a violência policial e a ameaças para assinar documentos em que declaravam a intenção de regressar à Síria, quando, na realidade, a Turquia os forçava a voltar para uma zona de guerra e a colocar as suas vidas em risco.
“A alegação da Turquia de que os refugiados da Síria estão a escolher voltar diretamente ao conflito é perigosa e desonesta. Em vez disso, a nossa investigação mostra que as pessoas estão a ser enganadas ou forçadas a voltar”, indicou Anna Shea, investigadora da Amnistia Internacional em direitos dos refugiados e migrantes.
“A Turquia merece o reconhecimento por ter recebido mais de 3,6 milhões de mulheres, homens e crianças da Síria, durante mais de oito anos, mas não pode usar essa generosidade como desculpa para desrespeitar a lei internacional e nacional ao deportar pessoas para uma zona de conflito ativo”, realçou a investigadora da AI.
Com base em dezenas de entrevistas realizadas entre julho e outubro deste ano para o relatório “Enviado para uma zona de guerra: deportações ilegais de refugiados sírios da Turquia”, a AI estima que, nos últimos meses, o número de deportações forçadas rondará as centenas.
No entanto, sem estatísticas oficiais, torna-se “difícil” precisar esse número, explicou a AI.
Segundo o relatório, as autoridades turcas afirmam que um total de 315.000 pessoas partiram para a Síria de forma totalmente voluntária.
“É arrepiante que o acordo da Turquia com a Rússia esta semana concorde com o ‘retorno seguro e voluntário’ de refugiados para uma ‘zona de segurança’ ainda a ser estabelecida. Os regressos até agora foram tudo menos seguros e voluntários — e neste momento milhões de refugiados da Síria estão em risco”, argumentou Anna Shea.
O Governo turco alegou que todos aqueles que regressaram à Síria fizeram-no de forma voluntária, contudo, a investigação da AI mostrou que muitos foram coagidos ou induzidos em erro ao assinar os chamados documentos de “retorno voluntário”.
Esta ONG de defesa dos direitos humanos documentou 20 casos verificados de deportações forçadas, em que cada um envolvia pessoas a serem enviadas para a fronteira em autocarros cheios de dezenas de outras pessoas algemadas e aparentemente também deportadas à força.
“As autoridades turcas devem parar o retorno forçado de pessoas na Síria e garantir que qualquer pessoa que tenha sido deportada possa voltar à Turquia com segurança e com acesso aos serviços básicos”, apelou Anna Shea.
“A União Europeia e o resto da comunidade internacional, em vez de concentrarem as suas energias para manter as pessoas que procuram asilo nos seus territórios, devem aumentar drasticamente os compromissos de reassentamento de refugiados sírios da Turquia”, sublinhou a investigadora da AI.
A Turquia lançou a 09 de outubro uma ofensiva contra a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG), que considera terrorista, mas que foi apoiada pelos países ocidentais na luta contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico.
Ancara interrompeu a operação na semana passada após um acordo com os Estados Unidos que previa a retirada das YPG de uma faixa de 30 quilómetros de largura e 120 de comprimento junto à fronteira turca, entre as cidades de Tal Abyad e Ras al-Ayn.
Na terça-feira, a Turquia indicou que não iria retomar a operação militar na Síria por ter alcançado um acordo com a Rússia, segundo pelo qual as forças curdas da Síria vão recuar 30 quilómetros a partir da zona fronteiriça do nordeste da Síria, de forma a partilhar o controlo desta zona.
O acordo prevê também um esforço conjunto para facilitar o regresso de refugiados.
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