No seu relatório anual, no capítulo intitulado “O Desafio de Biden: Resgatar o Papel dos Estados Unidos para os Direitos Humanos” e quase sempre em torno do papel norte-americano, a HRW sublinha que Trump foi um Presidente “frequentemente hostil e indiferente” em relação aos Direitos Humanos, quer interna quer externamente.
Razão mais do que suficiente para que a organização de defesa e promoção dos Direitos Humanos, com sede em Nova Iorque, veja no vencedor das eleições presidenciais norte-americanas de 03 de novembro, Joe Biden, que será empossado a 20 deste mês, como “uma oportunidade para uma mudança fundamental de rumo”, tal como escreve o diretor executivo da HRW, Kenneth Roth.
“Donald Trump foi um desastre para os Direitos Humanos. Internamente, desrespeitou as obrigações legais que permitem que as pessoas que temem pelas suas vidas procurem um refúgio, retirou crianças migrantes aos seus pais, deu um poder aos supremacistas brancos e fomentou o ódio contra as minorias raciais e religiosas”, lê-se no preâmbulo do documento.
Para Roth, o Presidente cessante norte-americano “fechou os olhos” ao racismo no policiamento, “removeu as proteções legais” para lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT), “revogou as proteções ambientais” para o ar puro e ???????água , e “procurou minar” o direito à saúde, “especialmente na saúde sexual e reprodutiva e para os mais idosos”.
Internacionalmente, Trump “aproximou-se de um autocrata amigável”, à custa de “populações abusadas”, promoveu a venda de armas para governos implicados em crimes de guerra e atacou ou retirou os Estados Unidos de iniciativas internacionais importantes para defender os direitos humanos, promover a justiça internacional, divulgar saúde e prevenir as alterações climáticas.
“Esta combinação destrutiva fez erodir a credibilidade do Governo dos Estados Unidos, mesmo quando não reagiu a abusos. As condenações à Venezuela, Cuba ou Irão soaram como ocas quando efetuou, paralelamente, elogios à Rússia, Egito, Arábia Saudita ou Israel.
Por outro lado, o apoio a liberdade religiosa no estrangeiro acabou por ser minado devido à política islamófoba nos Estados Unidos.
“A administração Trump impôs sanções específicas e outras punições ao governo chinês e a entidades corporativas pelo envolvimento em violações de direitos humanos, mas o seu próprio fraco histórico em humanos direitos, os seus motivos evidentes em criticar Pequim e o bode expiatório da China pelos seus próprios fracassos pandémicos deixaram essas intervenções com tudo menos com princípios, tornando difícil trabalhar com aliados”, escreve o diretor executivo da Human Rights Watch.
No entanto, Roth considera que seria “ingenuidade” ver a futura presidência de Biden como uma “panaceia” para todos os males.
“Nas últimas décadas, a chegada de um novo residente da Casa Branca tem trazido oscilações selvagens na política de direitos humanos dos Estados Unidos. George W. Bush com a ‘Guerra Global ao Terrorismo’, com as sistemáticas torturas em Guantánamo, Barack Obama, apesar de ter rejeitado parte dessa política, manteve e expandiu os ataques com ‘drones’ [aparelhos aéreos não-tripulados], vigilância intrusiva e venda de armas a autocratas desagradáveis”, acrescenta-se Roth na introdução do relatório.
Ainda relacionado com o novo podre nos Estados Unidos, o diretor executivo da HRW realça que os líderes globais que procuram defender os Direitos Humanos, perguntam, “compreensivelmente, se podem contar com o governo dos Estados Unidos.
“Mesmo que Biden melhore substancialmente os registos dos Estados Unidos, as profundas divisões políticas no país significam que há pouca margem para evitar a eleição de outro Presidente norte-americano com o desdém pelos Direitos Humanos de Trump dentro de quatro ou oito anos”, refere-se no relatório.
Para Roth, não será suficiente para Biden recuar quatro anos no tempo para responder a Trump, revertendo as políticas do Presidente cessante, face à devastação causada.
“O mundo mudou e também deve mudar a promoção dos Direitos Humanos. Muitos países que respeitam os direitos responderam ao vazio criado pela indiferença e hostilidade de Trump aos Direitos Humanos com um passo à frente para jogar um papel de liderança mais ativo. A administração Biden deve juntar-se a esse defesa de direitos, não procurar substituí-los”, aconselhou.
“Biden precisa também de reconhecer que Trump alterou a tradicional mudança na política entre as administrações dos Estados Unidos para uma crise de credibilidade com um risco profundo para os direitos das pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo. Biden deve procurar reformular a apreciação do público sobre Direitos Humanos, para que o compromisso se fortaleça de uma forma que não seja facilmente revertido pelos seus sucessores. O papel sustentado do governo dos Estados Unidos como um parceiro útil na defesa dos Direitos Humanos em todo o mundo depende do sucesso de Biden”, conclui o documento.
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