Para o bispo emérito de Leiria-Fátima, a situação na Ucrânia traz o “risco de se tornar ‘uma guerra fria’ alargada que pode sufocar a vida de gerações e povos inteiros”.
“Não só de quem hoje habita a nossa terra, mas de quem virá depois de nós. Uma guerra louca, cruel, desumana, sacrílega em que são arrasadas cidades, são mortos milhares de inocentes e milhões de refugiados são obrigados a abandonar a sua terra, a sua casa, os seus bens”, afirmou António Marto, na homilia da missa da 89.ª peregrinação da diocese de Leiria-Fátima ao Santuário da Cova da Iria.
Perante milhares de fiéis, o cardeal Marto recorreu às palavras do Papa Francisco na oração da consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, realizada no dia 25 de março: “Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. (…) Por isso acolhe, ó Mãe, esta nossa súplica: liberta-nos da guerra, protege o mundo da ameaça nuclear. Rainha da paz, alcança a paz para o mundo”.
O bispo emérito de Leiria-Fátima recordou ainda a mensagem deixada em Fátima em 1917, “uma mensagem impressionante de advertência, para que a humanidade e a Igreja tomassem consciência da dimensão infernal da loucura do mal e do pecado na história e do seu poder devastador, aniquilador, que atingiu formas e proporções inéditas, inauditas e inimagináveis em duas grandes guerras mundiais. Uma mensagem para urgir a conversão, a mudança do coração humano e do rumo da humanidade”.
A homilia foi, ainda, aproveitada para, a partir do evangelho do dia, que narra a passagem da mulher adúltera, falar da misericórdia de Deus.
A Igreja “não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor entranhado que é a misericórdia de Deus”, disse António Marto, recorrendo a palavras do Papa Francisco.
“Se as pessoas se sentem condenadas à partida, nós não estamos a transmitir a mensagem evangélica. A misericórdia abre o nosso coração às necessidades e à miséria dos outros, aos problemas escondidos, ocultos, à pobreza material e a todo o sofrimento: de uma criança que sofre, de uma família em dificuldade, de um sem abrigo, de um jovem que não encontra sentido para a vida, de um idoso na solidão, esquecido e sem reconhecimento, de um refugiado sem apoio solidário”, afirmou.
Segundo António Marto, “quando a comunidade cristã acolhe as pessoas com delicadeza, as escuta com atenção, as ama como são, quando cura, reconcilia, anima e encoraja a viver a vida boa do evangelho, torna-se no que ela tem de mais luminoso: uma comunhão de amor, de compaixão, de consolação e perdão”.
António Marto presidiu à peregrinação de hoje face à impossibilidade de o bispo titular da diocese, José Ornelas, estar presente, devido a estar infetado com covid-19, em Roma, onde se deslocou para um encontro com o Papa.
Comentários