Ao evitar boicotes e exclusões, o Comité Olímpico Internacional (COI) conseguiu reunir delegações de todo o mundo para os Jogos Olímpicos de Paris, de 26 de julho a 11 de agosto, mas ainda tem o desafio de alcançar uma trégua olímpica.
Qualquer “propaganda política” é proibida pela Carta Olímpica em recintos de competição ou pódios, mas a medida não se estende à Vila Olímpica ou às conferências de imprensa.
Será que o evento vai conseguir evitar os perigos dos conflitos atualmente em curso?
Russos "neutros" e sob a lupa
A invasão russa da Ucrânia com o apoio da Bielorrússia em fevereiro de 2022 pareceu durante muito tempo impedir a possibilidade de atletas das três nacionalidades coabitarem em Paris-2024: russos e bielorrussos foram banidos de quase todo o desporto mundial até março de 2023 e os ucranianos ameaçaram boicotar os Jogos se a presença dos inimigos na capital francesa fosse permitida.
Mas Kiev acabou por abandonar essa posição em meados de 2023 e o COI orquestrou uma reintegração progressiva de russos e bielorrussos em competições internacionais sob condições estritas: a título individual, sob uma bandeira neutra e desde que não tivessem "a apoiar ativamente a guerra na Ucrânia" e que não tenham contrato com o exército ou com as agências de segurança do seu país.
Na sexta-feira, o COI anunciou a ampliação para 28 russos e 19 bielorrussos da sua lista de atletas autorizados a estar em Paris-2024, em nove modalidades (luta livre, levantamento de peso, ciclismo, trampolim, ténis, tiro, remo, judo e canoagem). A lista poderá ser expandida em breve.
Será uma gota d'água em comparação com os 330 russos e 104 bielorrussos que estiveram presentes nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021.
Além disso, estes “atletas neutros” estarão sujeitos a uma vigilância permanente: qualquer manifestação de apoio à ofensiva na Ucrânia, por exemplo, com um “Z” simbolizando a invasão, implicará um procedimento que pode levar “à exclusão imediata dos Jogos”, alertou o presidente do COI, Thomas Bach, em declarações à AFP no final de abril.
Palestinianos querem falar ao mundo
Desde os últimos meses do ano passado, o COI tem tentado manter-se fora da guerra entre Israel e o Hamas, protegendo-se com a “solução de dois Estados”. Os Comités Olímpicos nacionais israelita e palestiniano coexistem desde 1995.
Nunca esteve em discussão que os atletas israelitas competissem sob uma bandeira neutra, apesar de os bombardeamentos israelitas em retaliação ao sangrento ataque de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas terem destruído as principais instituições desportivas em Gaza e terem matado personalidades do mundo olímpico.
O Comité Olímpico palestiniano, que segundo o COI deveria ter "seis a oito representantes" graças aos convites, espera ter pelo menos uma voz perante o mundo graças aos Jogos.
"Paris é um momento histórico e importante para dizer ao mundo que já chega", declarou o seu presidente, Jibril Rajub, em meados de junho.
Do lado israelita, o desafio centra-se sobretudo na segurança, como em todas as edições olímpicas desde a sangrenta tomada de reféns em Munique, em 1972: por enquanto, a delegação pretende “participar na cerimónia de abertura como qualquer outra equipa”, segundo o Comité Olímpico.
Afeganistão sem os talibãs
O retorno dos talibãs ao poder em Cabul, em meados de 2021, colocou as entidades desportivas num dilema: como dosear o diálogo e a pressão para ajudar os atletas no exílio ou aqueles que permaneceram no país, sem ignorar a proibição à prática feminina do desporto?
Em meados de junho, o COI anunciou ter conseguido a presença em Paris de uma equipa afegã composta por três homens (no atletismo, natação e judo) e três mulheres (atletismo e ciclismo), sem revelar as identidades. Todos moram no estrangeiro, exceto o judoca, afirmou posteriormente o diretor-geral do Comité Olímpico afegão, Dad Mohammad Payenda Akhtari.
“Como o desporto feminino está suspenso no Afeganistão”, as três mulheres “do país não foram enviadas”, explicou.
O eco dado às suas atuações é uma das incógnitas destes Jogos. O COI esperava em meados de junho “lançar um símbolo muito forte para o mundo e para o Afeganistão”, segundo o seu porta-voz, Mark Adams.
O Afeganistão, que tem o terceiro maior contingente de exilados do mundo, também terá cinco representantes na Seleção Olímpica de Refugiados, incluindo a sua capitã, a ciclista Masomah Ali Zada.
A jovem pretende ir torcer pelos seus compatriotas que vão competir sob a bandeira afegã: “Estou muito feliz por haver três mulheres afegãs nos Jogos Olímpicos e por estarem em igualdade com os homens”, disse ela recentemente à AFP.
por Coralie FEBVRE, da AFP.
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