“Precisamos de acelerar o reforço das capacidades europeias em áreas absolutamente cruciais como a diversificação energética, a segurança alimentar, a logística comercial, a competitividade industrial e tecnológica e a articulação militar com a Aliança Atlântica”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República falava, através de uma mensagem pré-gravada, na conferência “A Invasão da Ucrânia”, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, e em que participam personalidades como o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, Durão Barroso, a antiga alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança Catherine Ashton ou o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho.

No entender do chefe de Estado português, “a invasão russa da Ucrânia constitui o maior abalo sistémico na arquitetura da segurança europeia desde o final da Guerra Fria, por ter enterrado a premissa da impossibilidade da guerra convencional entre Estados numa Europa economicamente interdependente e regulada por acordos escritos”.

O Presidente da República considerou que a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, expôs “os limites da vulnerabilidade energética europeia, cuja segurança nos abastecimentos e diversificação das fontes andaram excessivamente devagar nas últimas décadas perante, por um lado, os crescentes imperativos climáticos e, por outro, a dependência da Federação Russa”.

Além disso, Marcelo frisou que o conflito revelou também "a fragilidade de um modelo de integração política, jurídica, económica, comercial, financeira, social, sem o necessário reforço do seu pilar de segurança e defesa, enquanto retaguarda vital ao sucesso da sua diplomacia”.

O chefe de Estado apelou assim ao reforço das capacidades europeias e sublinhou a necessidade de resiliência perante os impactos da guerra, “quer na manutenção de sanções, quer na manutenção da unidade”, designadamente com os Estados Unidos da América “e outros aliados cruciais, desde logo o Reino Unido e outros Estados europeus”.

“A manutenção desta unidade é fundamental e é particularmente sensível sabendo nós que há atos eleitorais na Europa e atos eleitorais nos Estados Unidos da América”, disse, referindo-se às eleições presidenciais francesas, cuja primeira volta se disputa a 10 de abril, e às eleições intercalares nos Estados Unidos, que terão lugar em novembro.

"Aquilo que se pretende construir é uma solução duradoura, sustentada, para além dos micro-horizontes que temos mais próximos de nós", reforçou.

Abordando a invasão da Ucrânia, que entrou hoje no seu 26.º dia, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que é necessário “encontrar rapidamente um roteiro do cessar-fogo permanente”, assim como o “fim dos bombardeamentos indiscriminados".

“Precisamos de encontrar rapidamente um roteiro de negociações eficazes, mas negociações eficazes sérias, e não manobras de diversão para ganhar tempo, ou enfraquecer, ou dividir a outra parte envolvida no conflito”, sublinhou.

O chefe de Estado pediu uma “mediação à altura” e “uma disponibilidade diferente da parte russa”, considerando que o regime de Vladimir Putin tem, “no dia a dia, colocado exigências que objetivamente inviabilizam soluções”.

Quanto às relações com a Federação Russa, Marcelo apelou a que se mantenham “canais de diálogo” abertos, nomeadamente “ao seu mais alto nível”, para “influenciar as suas decisões”, sem, no entanto, se vacilar no julgamento que se faz “das suas ações, todas elas penalizadoras da soberania ucraniana, da paz europeia e da economia russa”.

Qualificando a guerra da Ucrânia como, “acima de tudo, uma tragédia para o povo ucraniano”, o Presidente da República defendeu que a situação exige “total solidariedade e prontidão” em termos humanitários, mas também económicos, políticos, diplomáticos e militares.

“Mas, para assegurarmos o rápido final da guerra, evitando qualquer escalada indesejada e perigosíssima, tudo devemos fazer, naquilo que está ao nosso alcance, para que a diplomacia reconquiste o seu espaço e determine os termos futuros da paz na Europa, indissociável na paz do mundo”, concluiu.