"Tendo em conta a gravidade da situação atual, os presidentes reconheceram que é aconselhável intensificar a busca de soluções por meios diplomáticos através dos departamentos de política externa e os assessores políticos dos líderes do Formato da Normandia" (Rússia, Ucrânia, Alemanha e França), diz o Kremlin em comunicado.

O Presidente francês manteve hoje uma conversa telefónica de uma hora e 45 minutos com o chefe de Estado russo, num esforço para evitar a invasão russa da Ucrânia.

No final, a Presidência francesa anunciou que os dois dirigentes estão de acordo em levar a cabo "um trabalho intenso" que conduza a um cessar-fogo no leste da Ucrânia.

Os dois líderes, continuou o Eliseu, concordam que o Grupo de Contacto Trilateral se reúna nas próximas horas "com o objetivo de obter de todas as partes implicadas um compromisso de cessar-fogo” na região, onde nos últimos dias se têm intensificado os confrontos entre o exército ucraniano e os separatistas pró-russos.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, deverá reunir-se "nos próximos dias" com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, e esse trabalho diplomático, envolvendo a Ucrânia e outros países visa conseguir, "se as condições o permitirem, um encontro ao mais alto nível para definir um novo quadro de paz e segurança na Europa", acrescenta a presidência francesa.

O Kremlin, por seu lado, informou que Putin atribuiu a “provocações ucranianas” o agravamento dos combates no leste da Ucrânia, mas disse ao homólogo francês estar aberto a intensificar esforços diplomáticos para resolver o conflito.

Segundo o Kremlin, durante a mesma conversa, Putin pediu que a NATO e os Estados Unidos "levem a sério" as exigências de Moscovo sobre a sua segurança, que estão no centro da crise atual entre a Rússia e o Ocidente.

O chefe de Estado russo alertou ainda para o fornecimento de armamento moderno à Ucrânia por parte dos países da NATO, o que na sua opinião pode levar Kiev a solucionar o conflito no Donbass através da força.

Após falar com Putin, Macron falou novamente com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que apelou a um cessar-fogo imediato na região de Donbass.

“Defendemos a intensificação do processo de paz. Apoiamos a convocação imediata do GCT [Grupo de Contacto Trilateral] e um cessar-fogo imediato", escreveu Zelensky na sua conta na rede social Twitter.

O líder ucraniano acrescentou ter informado o seu homólogo francês sobre a situação atual no leste da Ucrânia e os novos ataques das milícias separatistas.

Putin garantiu a Macron que quer retirar tropas da Bielorrússia

O presidente russo garantiu hoje ao seu homólogo francês que tem intenção de retirar as suas tropas da Bielorrússia no fim dos exercícios que hoje foram prolongados, divulgou a Presidência francesa.

"Será necessário verificar se é assim e poderá levar algum tempo", indicou o Eliseu após uma conversa telefónica entre os dois líderes, notando que as autoridades bielorrussas declararam que as forças russas vão continuar no país, o que "não coincide com as declarações do Presidente Putin".

As autoridades de Minsk, aliadas de Moscovo, anunciaram hoje que as tropas russas que estão no país desde 10 de fevereiro para exercícios militares ali vão continuar para mais manobras.

No âmbito da escalada de tensão militar entre a Rússia e a Ucrânia, Macron irá falar "nas próximas horas" com o chanceler alemão, Olaf Scholz, e com o Presidente norte-americano, Joe Biden, acrescentou a Presidência francesa.

Macron poderá ainda falar com os chefes de governo do Reino Unido, Boris Johnson e de Itália, Mario Draghi, tal como "outros aliados", acrescenta, garantindo que o Presidente francês e Putin querem "intensificar os esforços diplomáticos" para manter a paz.

Além disso, os chefes da diplomacia francesa e russa irão falar ao telefone na segunda-feira, anunciou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

"Sergei Lavrov estava preparado para ter hoje uma conversa telefónica com o seu homólogo francês, mas [Jean Yves] Le Drian não tinha disponibilidade", indicou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.

Biden pronto para encontro com Putin e evitar guerra

O Presidente dos EUA, Joe Biden, está pronto a encontrar-se com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, “a qualquer momento e em qualquer formato”, se isso evitar uma guerra na Ucrânia, garantiu hoje o chefe da diplomacia norte-americana.

Depois de, nos últimos dias, ter estabelecido contacto com os vários líderes europeus, “o Presidente Biden está pronto para se encontrar com o Presidente Putin a qualquer momento e em qualquer formato”, se isso evitar uma guerra na Ucrânia, afirmou Antony Blinken, na CBS.

O secretário de Estado norte-americano reiterou ainda que a Rússia está “à beira” de invadir a Ucrânia.

Já em declarações à CNN, Blinken vincou que a situação é séria e que o facto de as tropas russas continuarem em exercícios militares na Bielorrússia também reforçou a possibilidade da invasão estar prestes a acontecer.

O Ocidente e a Rússia vivem atualmente um momento de forte tensão, com o regime de Moscovo a ser acusado de concentrar pelo menos 150.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia, numa aparente preparação para uma potencial invasão do país vizinho.

Moscovo desmente qualquer intenção bélica e afirma ter retirado parte do contingente da zona.

Entretanto, aumentaram nos últimos dias os confrontos entre o exército da Ucrânia e os separatistas pró-russos no leste do país, onde a guerra entre estas duas fações se prolonga desde 2014.

Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) anunciaram no sábado ter registado em 24 horas mais de 1.500 violações do cessar-fogo na Ucrânia oriental, número que constitui um recorde este ano.

Os líderes dos separatistas pró-russos de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, decretaram no domingo a mobilização geral para fazer face a este aumento da violência.

(Artigo atualizado às 17:09)