Segundo Remi Duflot, chefe da delegação da UE na Ucrânia, foi criada uma equipa específica para tratar os crimes de guerra, onde se incluem os casos de abusos sexuais, violações e violência sexual de uma forma genérica.
“Pusemos à disposição da Ucrânia o mecanismo de proteção civil, que tem uma janela para evacuações de casos médicos, no caso para retirar mulheres e crianças que foram afetadas por estes horrores, por estas atrocidades, e que querem receber tratamento fora do país”, explicou, numa entrevista à distância.
A entrevista com Remi Duflot aconteceu no contexto de uma visita de jornalistas à Moldova, país que faz fronteira com a Ucrânia, a convite da Comissão Europeia, para ver no local os vários projetos das Operações Europeias de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO, na sigla em inglês).
De acordo com o chefe da delegação da UE na Ucrânia, atualmente em Kiev, há já “uma longa lista de casos [de violência sexual] que estão atualmente a ser analisados por uma organização não-governamental local em coordenação com o Ministério da Saúde ucraniano”.
“Quando tivermos essa lista de pessoas que querem ter tratamento na União Europeia, iremos retirá-las o mais rapidamente possível, nas melhores condições possíveis, de modo que tenham o tratamento de que precisam, não só psicológico, mas também médico da forma mais abrangente possível”, adiantou o representante a partir da capital ucraniana.
Segundo o responsável, as autoridades europeias receberam uma lista com 150 nomes, entre mulheres e crianças, logo a seguir à retirada das tropas russas da cidade de Bucha, no início de abril, mas não significa que todas queiram ser retiradas do país.
Bucha é uma localidade a noroeste de Kiev onde foram descobertos várias dezenas de corpos nas ruas e em valas comuns após a retirada das forças russas e onde estão a ser investigados crimes de guerra.
Alguns corpos tinham as mãos atadas nas costas e apresentavam sinais de execução.
Existem também relatos de violência e violações sexuais em Bucha, que fica a cerca de 30 quilómetros de Kiev.
“Este é um assunto muito sensível e [para ser retirada da Ucrânia para um país europeu] a vítima tem de aceitar o tratamento, pelo que algumas delas preferirão receber tratamento na Ucrânia, o que é perfeitamente compreensível também”, apontou Remi Duflot.
Acrescentou que pediu às autoridades ucranianas para que as vítimas que aceitem tratamento fora do país sejam acompanhadas por um psicólogo que fale ucraniano, sublinhando que “o apoio psicológico requer uma relação direta e estreita, que não se pode fazer através de um tradutor”.
Relativamente a todas as vítimas de violência sexual que optem por ser acompanhadas na Ucrânia, Remi Duflot garantiu que o sistema de saúde no país está a funcionar em quase todo o território e que essas pessoas terão acompanhamento psicológico e tratamento médico.
O responsável garantiu que a questão da violência sexual “é um assunto muito importante”, que está a ser tratado de “forma muito próxima do coração”, sublinhando que, além de mulheres e crianças, também são conhecidos casos de violações de homens.
“O horror não tem limites e é impensável que não reajamos a isso”, defendeu, apontando que a ajuda para estes casos consiste também em apurar os factos e levar as provas à justiça, responsabilidade que foi delegada no procurador-geral da Ucrânia.
Remi Duflot apontou que se desconhece ainda a realidade dos territórios que estão ocupados pelas tropas russas, mas salientou que tendo em conta o que se tem visto em Bucha, Irpin ou Hostomel, “não se espera nada de bom”.
“Infelizmente para as populações locais estamos à espera de muitos mais crimes de guerra, desde que a Rússia não os consiga esconder”, apontou.
Sublinhou que todos os países da UE estão juntos no apoio à Ucrânia — “o que é uma coisa extraordinária” — e deixou a garantia de que continuarão a trabalhar para isolar a Rússia enquanto as agressões continuarem e até a guerra terminar, destacando o recente quinto pacote de sanções.
Garantiu também que continuarão a apoiar economicamente a Ucrânia, tendo em conta o nível de destruição do país, nomeadamente a nível humanitário.
O chefe da delegação da UE na Ucrânia adiantou também que os 27 Estados-membros do bloco “já estão a refletir sobre como financiar a reconstrução”, sendo que esse processo “já está a ganhar forma também do lado ucraniano”.
Relativamente ao impacto das sanções, Remi Duflot deixou a garantia de que enquanto não houver paz elas irão manter-se e disse acreditar que serão “devastadoras para a economia russa”.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra causou a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para os países vizinhos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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