"Como ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo português, de um dos 27 Estados-membros que vão começar a negociar as condições da saída com o Reino Unido, [digo] que nós negociamos com toda a boa-fé, defendendo os interesses europeus, mas procurando acautelar a relação futura mutuamente benéfica com o Reino Unido, [e fazemo-lo] com qualquer Governo britânico, com qualquer composição do parlamento britânico", afirmou à Lusa Augusto Santos Silva.
O Partido Conservador, liderado pela primeira-ministra, Theresa May, foi o mais votado mas perdeu a maioria absoluta nas eleições legislativas antecipadas de quinta-feira no Reino Unido, segundo resultados oficiais divulgados hoje.
"Nós, os europeus, não precisávamos que a senhora Theresa May tivesse uma maioria reforçada para negociar o 'Brexit'. Nem sequer precisávamos que a senhora Theresa May continuasse primeira-ministra. Isso não é um assunto nosso", considerou Santos Silva, que se escusou a comentar se a líder do Partido Conservador britânico ficou fragilizada na negociação com a União Europeia, após perder a maioria absoluta nas eleições antecipadas que convocou.
"Qualquer que seja o primeiro-ministro britânico ou a composição do parlamento britânico, os termos de referência, da parte dos europeus para negociar o ?Brexit', estão aprovados e são conhecidos", mencionou.
O governante português reconheceu que o resultado eleitoral no Reino Unido "é complexo do ponto de vista do habitual padrão britânico, onde a regra é a constituição de maiorias absolutas", mas, comentou, "não causa nenhuma estranheza a quem está habituado ao sistema português ou de outros países da Europa continental".
"Estou certo que o parlamento britânico, com a composição que agora tem, saberá gerar, com a eficácia que lhe é reconhecida, uma solução de Governo. O novo Governo britânico saberá interpretar a mensagem que o conjunto do eleitorado dirige aos senhores deputados e deputadas do Reino Unido", afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.
Sem querer pronunciar-se sobre a política interna britânica, Santos Silva garantiu que "Portugal trabalhará, como sempre trabalha, com o máximo de proximidade e de lealdade com qualquer Governo que seja formado no Reino Unido".
Como esse executivo se formará, "cabe ao parlamento britânico decidir".
"Sei que o partido que teve mais votos e lugares não tem a maioria absoluta. Sei também que é possível constituir maiorias parlamentares em diferentes coligações ou acordos parlamentares menos formais que coligações, mas isso é uma matéria que diz respeito ao britânicos e não ao Governo português", acrescentou.
O chefe da diplomacia portuguesa disse ainda que não espera que haja "atrasos substanciais" nas negociações do ?Brexit', que está previsto arrancarem a partir de 19 de junho, e cujo prazo de dois anos decorre desde que o Reino Unido acionou o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, a 29 de março deste ano.
"Não estou à espera que haja atrasos substanciais no ponto que nos diz respeito a nós, europeus, isto é, na negociação do ?Brexit'. Talvez possa haver um reajustamento do calendário inicial das negociações", admitiu, recordando que os dois partidos mais votados - Conservador e Trabalhista - sempre garantiram que o resultado do referendo de há um ano, que ditou a saída do Reino Unido da UE, "é para cumprir".
O ministro português salientou que "mais uma vez, a democracia britânica funcionou em pleno", com os cidadãos britânicos a acorrerem às urnas "com o espírito cívico e de participação que os caracteriza, apesar de todos os ataques terroristas de que foram vítimas nos dias anteriores".
A líder do partido Conservador britânico, Theresa May, vai deslocar-se ao palácio de Buckingham às 12:30 para pedir autorização à rainha para formar governo, mesmo sem ter maioria absoluta, segundo fonte do gabinete.
Declarados 649 dos 650 lugares na Câmara dos Comuns, o Partido Conservador elegeu 318, menos oito do que os necessários para uma maioria absoluta e menos 12 do que antes das eleições.
O Partido Trabalhista adicionou 29 aos que possuía, somando 261 deputados.
O Partido Nacionalista Escocês conquistou 35 lugares, os Liberais Democratas 12 (+4), o Partido Democrático Unionista (Irlanda do Norte) 10 (+2), o Sinn Féin sete (+3), os nacionalistas galeses do Plaid Cymru quatro (+1), os Verdes um e foi eleito um independente na Irlanda do Norte.
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