"Sabíamos que começava hoje o processo porque vimos nas notícias. Estamos a visitar Paris e viemos ver o aparato à volta deste julgamento. Os atentados foram um momento muito assustador. E depois aconteceram os ataques em Bruxelas e tudo isto estava ligado", indicou Chris, que vindo da Bélgica, está a passar uma semana de férias com a família em Paris, em declarações à Agência Lusa.

Tal como esta família belga, algumas dezenas de pessoas reuniram-se hoje na praça em frente ao Palácio de Justiça de Paris para assistir ao aparato do início do maior julgamento de sempre na história francesa.

A segurança no histórico edifício, que engloba a Sainte-Chapelle, uma das maiores atrações da capital, foi reforçada com dezenas de carrinhas da polícia e ruas cortadas, mas a entrada no tribunal fazia-se de forma ordeira.

Perto da entrada, alinham-se câmaras de televisão com jornalistas que falam inglês, espanhol ou japonês. Devido à atenção mediática, as associações de vítimas aconselharam-nas a não vir nos primeiros dias de audiência.

Sylvia fazia o seu passeio matinal de bicicleta quando se deparou com a rua cortada. Instalado no coração de Paris, o Palácio de Justiça localiza-se num ponto nevrálgico da cidade, junto à Catedral de Notre Dame, ligando a margem direita à margem esquerda do Sena.

"É algo muito presente nas nossas vidas, especialmente porque já aconteceram tantos outros ataques depois deste, que é algo com que vivemos todos os dias. E, infelizmente, não acho que tenha chegado ao fim", lamentou Sylvia, descendo da bicicleta.

Esta advogada, retirada da barra dos tribunais e dedicada agora à academia, considera que este processo "faz sentido", assim como a infraestrutura criada para acolher o julgamento que vai durar até maio.

"Sou advogada, portanto claro que acho que este julgamento faz sentido. As autoridades deram uma dimensão enorme a este julgamento e eventualmente isso dá um peso e relevância a tudo que se passou", indicou.

Para outros, torna-se mais difícil encontrar a justiça num ataque que provocou 130 mortos e mais de 400 feridos.

"Não sei se há justiça, já que as pessoas morreram e não têm as suas vidas de volta. O que é a justiça nesse caso? Foi tudo tão traumático. A única solução é prisão perpétua para quem fez isto", declarou Charlotte, que passava no local a caminho do trabalho.

Esta é uma das opções para Salah Abdeslam, o único terrorista que participou ativamente no atentado e sobreviveu, e que vai estar presente na sala de audiência durante todo o julgamento. Ao seu lado mais 13 condenados, havendo ainda seis pessoas que serão julgadas apesar de estarem parte incerta.

Os primeiros dias da audiência vão servir só para enumerar as vítimas, perto de 1.800. Os primeiros testemunhos vão ser ouvidos a partir de dia 13 de setembro e as vítimas começam a ser ouvidas a 28 de setembro. Durante cinco semanas, as pessoas tocadas diretamente pelos atentados vão contar o terror vivido no Stade de France, no Bataclan e nos cafés do 11º bairro.

Depois dos ataques, a vida não voltou a ser mesma em Paris e, segundo quem estava hoje à porta do Palácio de Justiça, isso não vai mudar.

"Ficámos com medo. E sempre que ando de metro ou comboio, tenho medo. Foi há seis anos, mas isto está na nossa cabeça sempre", concluiu Charlotte.