A tomada de posição da Rússia foi considerada pelo Ocidente como tentativa de ocultar as transferências de armas entre aquele país e a Coreia do Norte.
O veto russo é “uma tentativa de esconder transferências ilegais de armas entre a Coreia do Norte e a Rússia”, considerou a União Europeia (EU), acrescentando que “esta situação terá consequências graves para a capacidade de aplicar as resoluções do Conselho de Segurança e de responder a ações desestabilizadoras” de Pyongyang, prejudicando “a arquitetura global de não proliferação” de armamento nuclear.
Desde 2006, a Coreia do Norte está sujeita a sanções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ligadas ao seu programa nuclear, que foram reforçadas várias vezes em 2016 e 2017.
Desde 2019, a Rússia e a China pedem o abrandamento destas sanções, que não têm data para terminar, invocando a situação humanitária da população norte-coreana.
O embaixador russo na ONU, Vassili Nebenzia, justificou o veto argumentando que o comité de controlo de sanções já não é necessário, centrando-se em “questões irrelevantes que não são proporcionais aos problemas que a península enfrenta”.
Em vez disso, propôs que o Conselho de Segurança reavaliasse o regime de sanções, uma proposta apoiada pela China.
“Durante muitos anos, as restrições internacionais não contribuíram para melhorar a situação de segurança na região. Pelo contrário, na ausência de mecanismos de revisão e flexibilização destas sanções, este instrumento é um grande obstáculo à criação de confiança e à manutenção do diálogo político”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Também hoje, o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, na sua conferência de imprensa diária, disse que esta é a posição que “melhor serve” os interesses do seu país.
Por seu turno, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês considerou que “a situação atual na península coreana continua tensa e a imposição indiscriminada de sanções não resolve o problema”.
Já o Departamento de Estado norte-americano acusou a Rússia de “minar a paz e a segurança em todo o mundo”.
“Este veto não é um sinal de preocupação com o povo da Coreia do Norte ou com a eficácia das sanções. Trata-se de dar à Rússia a liberdade de violar as sanções em busca de armas para utilizar contra a Ucrânia”, acusou, por sua vez, a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward.
No mesmo sentido foi a reação do embaixador sul-coreano, Joonkook Hwang, para quem “não pode haver justificação para o desaparecimento dos guardiões do regime de sanções”, acrescentando que “é como destruir as câmaras de vigilância para evitar que sejam apanhados em flagrante”.
Este veto “é, de facto, uma admissão de culpa. Moscovo já não esconde a sua cooperação militar com a Coreia do Norte (…) e a utilização de armas norte-coreanas na guerra contra a Ucrânia”, comentou o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba.
No seu último relatório, no início de março, o comité de peritos sublinhou que a Coreia do Norte continua a “desrespeitar as sanções do Conselho de Segurança”, nomeadamente através do desenvolvimento do seu programa nuclear, do lançamento de mísseis balísticos, da violação das sanções marítimas e dos limites à importação de petróleo.
O comité afirmou ter começado a investigar “relatos” de que a Coreia do Norte exportou “armas e munições convencionais” em violação das sanções, nomeadamente para a Rússia.
O veto do Kremlin surge poucos dias depois de uma visita à Coreia do Norte do chefe de espionagem russo, Sergey Narishkin, que discutiu as relações bilaterais com funcionários norte-coreanos “no contexto de pressões crescentes de forças externas”.
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