A atual situação de insegurança no Haiti é inaceitável, afirmou a diretora-executiva da Unicef, Catherine Russell, que regressou de uma visita ao país esta semana e relata níveis surpreendentes de violência contra mulheres e crianças.
As mulheres, diz a responsável, são vítimas de violações, usadas como tática de intimidação e controlo pelos gangues, enquanto as crianças são recrutadas à força por grupos armados para combater. Na capital, Porto Príncipe, há bairros inteiros abandonados à sua sorte.
A situação no país é insustentável e mais de metade da população, 5,2 milhões de pessoas, precisa de ajuda para sobreviver. Três milhões são crianças. Mas o mundo não está a olhar para o Haiti e esta crise sem precedentes está a ser negligenciada, diz Catherine Russell.
A diretora-executiva fala em "níveis históricos" de fome, desnutrição, pobreza, economia debilitada, ressurgimento do cólera e insegurança em massa, a par de uma tendência cada vez maior para uma violência mortal, com milhares de crianças vítimas de fogo cruzado em confrontos que nos últimos meses já mataram pelo menos 200 membros de gangues. Os índices da criminalidade no Haiti pioraram depois do assassínio do presidente Jovenel Moise, em 2021.
O observador independente William O'Neill propõe que a comunidade internacional declare imediatamente o embargo de armas e autorize uma força de intervenção para combater "a violência" na região, que agrava a miséria num país ainda a recuperar do sismo catastrófico de 2010. Está "em causa a sobrevivência de uma nação inteira", afirmou.
William O'Neill lamenta ainda as "deportações em massa" de haitianos que fogem à situação no país, sobretudo para a República Dominicana, e que não respeitam os acordos bilaterais de migração e repatriamento. Só no ano passado foram quase 177 mil pessoas, muitas delas menores desacompanhados.
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