Segundo Frederico de Brito, preletor do tema “O Impacto da Desnutrição na Vida das Crianças”, no ‘workshop’ promovido pela Assembleia Nacional de Angola, alusivo ao Dia Internacional da Família, as intervenções foram realizadas, em 2023, nas províncias da Huíla, Benguela e Cunene, sul do país e zonas afetadas pela seca.

“Esta é uma intervenção que estamos a fazer com apoio dos nossos parceiros, a USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] e a União Europeia, no âmbito das respostas às mudanças climáticas à zona sul de Angola”, referiu Frederico de Brito, em declarações à imprensa.

Frederico de Brito disse que as intervenções foram feitas em hospitais, quer com a mobilização de nutrientes, leites terapêuticos e produtos terapêuticos para consumo imediato, seguindo um protocolo de tratamento, “que faz com que elas sejam rapidamente tratadas”, salvando as crianças “de uma progressão de desnutrição grave”.

O apoio envolve também a formação de mães, para assegurar que a partir de alimentos existentes na comunidade seja dada alimentação adequada às crianças.

“Foi um grande sucesso esses resultados, salvamos vidas, mas com a participação do Governo”, frisou.

Durante a sua apresentação, o responsável manifestou preocupação com a falta de dados estatísticos sobre a desnutrição em Angola, tendo-se a sua apresentação baseado em informação do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, de 2015.

“De facto, há um desafio muito grande de dados a nível de Angola, porque sem dados concretos é difícil focalizar as intervenções. Os dados que nós usamos são do Governo, foram produzidos em 2015, e estamos felizes por ver que há um novo estudo que vai sair no próximo ano”, disse Frederico de Brito, salientando que o Unicef também participou do estudo para assegurar que as metodologias usadas seguiram os padrões internacionais.

Baseando-se nos dados de há quase dez anos e na situação do país no decorrer deste período, Frederico de Brito disse que a perceção do Unicef “é que a questão da desnutrição ainda continua crítica em Angola”.

De acordo com o chefe de secção de Saúde e Nutrição do Unicef, de 2015 para cá, Angola registou vários choques, como a questão macroeconómica do país, com a redução do poder de compra das famílias, as mudanças climáticas, que afetaram sobretudo a zona sul do país, e a pandemia da covid-19, que também criou grande desestabilização a nível das famílias.

“Leva a crer que a situação ainda permanece. Esta é a razão pela qual, no ano passado, 100.000 crianças foram tratadas por causa da desnutrição no sul do país”, referiu Frederico de Brito, sublinhando que as crianças tratadas correspondiam a 5% do universo de menores nessa região.

“O estudo de 2015 mostrava que 5% das crianças eram desnutridas, então isso leva-nos a crer que há uma manutenção desse problema, sobretudo na zona sul – ainda não temos entendimento do país no geral -, mas a nível do sul do país ainda se mantém a situação”, vincou.

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