A intenção foi expressa hoje, em Luanda, pelo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, numa conferência de imprensa destinada a proceder a um balanço das exéquias fúnebres do líder histórico do Galo Negro, Jonas Savimbi, sepultado a 01 deste mês na terra natal dos pais, 17 anos depois da sua morte.
“O Protocolo de Lusaca [assinado a 20 de novembro de 1994] ainda não foi totalmente cumprido pelo Governo. Ainda não entregaram, por exemplo, os corpos dos dirigentes da UNITA que foram mortos após as eleições [de setembro] de 1992″, disse, aludindo a nomes como o do então vice-presidente e do secretário-geral do Galo Negro, Jeremias Chitunda e Alicerces Mango, bem como o de Elias Salupeto Pena, sobrinho de Savimbi.
O que ficou conhecido por “massacre” começou a 30 de outubro de 1992 em Luanda e, no espaço de três dias, espalhou-se a todo o país, tendo sido mortos milhares de apoiantes da UNITA e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA, então liderada por Holden Roberto, já falecido).
O “massacre”, que quer a UNITA quer a FNLA atribuem às forças governamentais, surgiu na sequência da fase de paz que se seguiu aos acordos de Bicesse, assinados pelas partes a 31 de maio de 1991 e viria a desencadear nova escalada de violência em Angola, com o prolongamento da guerra civil até à morte de Savimbi, em fevereiro de 2002 – a paz foi oficialmente declarada a 04 de abril de 2002.
Os assassínios ocorreram também após as eleições presidenciais e legislativas de 1992, as primeiras na história do país, em que nem o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, que presidiu Angola entre 1979 e 2017, nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguiram maioria absoluta nas presidenciais.
A segunda volta nunca se realizou e a guerra civil reacendeu-se, dizimando também muitos membros dos grupos étnicos Ovimbundu e Bakongo, historicamente tidos como adversários do MPLA.
Hoje, na conferência de imprensa, Samakuva, que chegou a líder da UNITA em 2003, em resposta a uma questão da Lusa, salientou que o resgate da memória dos principais dirigentes do Galo Negro mortos em 1992, bem como a reabilitação de todas as vítimas dos vários conflitos que assolaram o país entre 1975 e 2002, é um “assunto que tem de ser abordado sem tabus”.
Samakuva, aliás, assumiu que essa reabilitação, ideia que partiu do Presidente angolano, João Lourenço, é “boa” e que poderá constituir um ponto de partida para se avançar “definitivamente” na reconciliação nacional.
No entanto, sublinhou, não são só os corpos de combatentes e de dirigentes que a UNITA pretende, mas reaver também o seu património, “nas mãos do Governo”.
Por outro lado, Samakuva referiu que o MPLA tem estado também a reclamar ao Galo Negro o resgate de combatentes e dirigentes seus, algo que o líder do partido cofundado por Savimbi nega.
“A UNITA não guarda os corpos de ninguém. O conflito angolano fez muitas vítimas São milhares os mortos. O MPLA arrasou aldeias inteiras, há muitas valas comuns no Planalto Central [centro de Angola, sobretudo nas províncias do Moxico, Cuíto e Huambo] e no sudeste do país [Moxico e Cuando Cubango]”, respondeu Samakuva, insistindo, porém, que os “males, responsáveis e vítimas” são todos os angolanos.
“Não há nenhum angolano que não tenha perdido um ente querido na guerra”, concluiu.
Comentários