Este estudo, publicado na revista Materials Chemistry and Physics, foi desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos no Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Decorreu no âmbito do projeto “SterilAerogel” e foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia com 230 mil euros.
De acordo com a coordenadora do projeto, Mara Braga, o “SterilAerogel” tem como grande objetivo dar resposta a um problema de saúde que afeta cada vez mais a população mundial, especialmente a população idosa, que sofre com maior frequência fraturas ósseas e de problemas degenerativos e inflamatórios.
Esta resposta chega através “do desenvolvimento de aerogéis inovadores à base de polímeros naturais, prontos a ser usados na regeneração de tecidos, mas também em pensos para tratar feridas”, revelou.
Para obter um novo aerogel natural e completamente esterilizado, o projeto envolveu várias fases.
De acordo com a Universidade de Coimbra, primeiro, após uma exaustiva triagem de combinações de polieletrólitos naturais, “os investigadores verificaram num dos estudos que o complexo polieletrólito de quitosano e goma xantana era o mais adequado para o fim pretendido”.
A partir daqui, a equipa de Mara Braga avançou para “a produção do novo aerogel, através de um processo integrado, em que a secagem e a esterilização são realizadas sequencialmente e no mesmo equipamento, evitando procedimentos adicionais”.
“Este processo envolveu diferentes etapas, sendo a primeira a gelificação para obter um hidrogel, que foi depois convertido em alcogel e colocado dentro de uma embalagem de esterilização, para permitir o manuseamento da amostra após o processo sem que haja qualquer risco de contaminação”, destacou.
Por último, a amostra foi “seca e esterilizada com um equipamento específico recorrendo a dióxido de carbono (CO₂) em estado supercrítico, num sistema sequencial nunca antes feito”.
“No final, foi obtido um aerogel natural com todas as propriedades adequadas para aplicação em medicina regenerativa”, acrescentou.
Segundo a investigadora da FCTUC, a grande inovação do projeto está precisamente na técnica usada para o processamento do polímero natural.
“Os biopolímeros caracterizam-se pela elevada biocompatibilidade para utilização nos organismos vivos, no entanto, exigem um processo rigoroso de esterilização, garantindo que não se perdem as propriedades físico-químicas e estruturais, ou seja, que não se degradem no processo de esterilização”, indicou.
Ao ser adotada “a tecnologia com fluído supercrítico para a preparação e esterilização do aerogel”, é garantida “a biocompatibilidade ao interagir com o organismo sem causar grandes efeitos secundários, comparativamente aos sintéticos, e resíduos de solventes orgânicos do seu processamento”.
Mara Braga disse ainda que para que o novo aerogel “completamente natural e sem resíduos químicos” possa ser utilizado na área da saúde, ainda são necessários mais estudos.
“Pretendemos saber se, depois de esterilizado, o aerogel garante seis meses de validade, que é o prazo standard para este tipo de produtos”, sustentou.
Embora o projeto se tenha focado na área da saúde, “o novo aerogel tem potencial para outras aplicações, por exemplo, como adsorventes para tratamento de águas residuais”.
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