Em declarações à Lusa ao telefone a partir de Cucuta, Colômbia, o eurodeputado social-democrata português Paulo Rangel adiantou que ainda não havia a essa hora “novidades quanto à ajuda humanitária” e que o comboio de camiões que pretende fazer passar a ajuda para a Venezuela continuava bloqueado.

O eurodeputado, integrado numa comitiva de eurodeputados do Partido Popular Europeu (PPE) que se deslocou à Venezuela para acompanhar a situação de crise humanitária, encontra-se em Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela onde foi instalado um centro de operações logísticas para distribuir a ajuda humanitária e onde também está o autoproclamado Presidente interino Juan Guaidó.

No decorrer da conversa telefónica com a Lusa Paulo Rangel recebeu a informação por parte dos seus colegas eurodeputados que um grupo de mulheres polícias, sem saber precisar quantas, tinha sido colocado na dianteira do bloqueio à entrada da ajuda humanitária e que estas se tinham recusado a impedir a passagem dos donativos, entregando-se e afirmando estar de Juan Guaidó.

“Um momento curioso”, relatou Rangel, “muito celebrado pelas mulheres no centro de operações” e que se reveste de “um certo simbolismo” que provocou “algum entusiasmo” e a saída apressada de Juan Guaidó, possivelmente para se encontrar com esse grupo de mulheres, presumiu o eurodeputado.

Para Paulo Rangel o comboio humanitário e, sobretudo, a decisão do Governo de Maduro de bloquear a sua entrada na Venezuela, está a ter um “efeito colateral” de provocar a contestação popular, podendo isto, aliado às deserções de militares – sobretudo baixas patentes (soldados), mas também médias e altas patentes como tenentes e majores – representar “um ponto de viragem” em direção ao fim do regime.

“No território venezuelano está a haver uma imensa reação, em muitas províncias, em muitos estados da Venezuela, uma imensa reação à proibição de Maduro de receber ajuda humanitária. Isso está a criar uma onda de contestação interna grande e está a criar fricção e fração dentro do exército que ainda apoia Maduro. Nesta conformidade, aquilo que estamos a assistir é provavelmente ao início de um movimento que já não tem apenas a ver com a ajuda humanitária, mas tem a ver com a tal contestação ao regime de Maduro. Este 23 de fevereiro pode marcar um ponto de viragem”, disse Paulo Rangel à Lusa.

Sublinhando que esta não é uma “análise objetiva”, mas um sentimento que tem por base as reações no centro de operações, “onde estão muitos políticos e militares em que muita gente considera que nada será igual depois deste 23 de fevereiro,” Rangel acredita que há “um novo alento ao movimento que durante muito tempo foi um movimento de oposição e que hoje, em termos constitucionais e até internacionais é o Governo legítimo, o Governo de Guaidó”.

Reforçando a necessidade de “sentido crítico” face a todas as informações recebidas, Rangel referiu ainda ter notícias de “uma reação negativa e forte” de milícias paramilitares armadas pelo regime de Nicolás Maduro, e garantiu ter “informação confirmada” de que essas milícias foram na última semana deslocadas da região de Caracas, a capital, para a zona de fronteira.

“Essas milícias que apoiam o regime já existiam no tempo de Chávez e era Maduro quem as coordenava. Ele tem uma relação umbilical com esse movimento, que é muito mais ideológico e muito mais perigoso, porque ao contrário das Forças Armadas não tem disciplina, não tem hierarquia, a sua capacidade de contenção é muito menor. As pessoas do lado de Guaidó estavam com mais receio destas milícias do que propriamente dos militares. Acham que as Forças Armadas estão educadas para reagir com grande contenção e que não atuariam contra o seu povo de forma indiscriminada. Um acidente, incidente, pode acontecer, mas têm um sentido patriótico em que eles confiam grandemente”, disse o eurodeputado.

“Diferentemente, as milícias são uma espécie de células partidárias, mas com armas”, acrescentou.

Hoje é a data limite anunciada pelo autoproclamado Presidente interino venezuelano, Juan Guaidó, para a entrada no país de 14 camiões e 200 toneladas de ajuda humanitária reunida para a Venezuela.

Juan Guaidó, opositor de Maduro e reconhecido por mais de 50 países como Presidente interino do país, prometeu introduzir essa ajuda humanitária na Venezuela neste dia, numa operação para a qual estão mobilizados milhares de cidadãos.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos do Presidente Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já dezenas de mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou cerca de 3,4 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.

Em 2016, a população da Venezuela era de aproximadamente 31,7 milhões de habitantes e no país residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

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