“Estamos a correr contra o tempo, o mais rápido possível, para podermos passar antes que a fronteira feche”, disse ao portal de notícias G1 Genson Medina, um venezuelano de 22 anos que na tarde de hoje comprou mantimentos em Pacaraima, município do estado de Roraima.
Também o morador da cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén, Nelson Rodrigues, confirmou ao G1 que decidiu comprar no Brasil o dobro dos produtos alimentares por precaução.
“Vou levar mais por precaução. Fechar a fronteira é ruim porque nós precisamos de comprar comida aqui”, disse Nelson, numa referência à escassez de comida e medicamentos que o seu país atravessa.
Já Osmar Cardoso, um comerciante brasileiro de 55 anos, afirmou que perdeu a conta ao número de produtos vendidos, declarando que esgotou “tudo muito rápido”.
A informação transmitida pela imprensa brasileira que se encontra no terreno contraria a mensagem transmitida hoje pelo governador de Roraima, Antonio Denarium, de que a fronteira já teria sido encerrada pelas 14:00 locais (18:00 em Lisboa).
À agência Lusa, habitantes no local confirmaram que a fronteira entre o Brasil e a Venezuela ainda se mantinha aberta.
O taxista Eliseu Dias, morador em Pacaraima, capital de Roraima, contou à Lusa que até às 16:20 locais (20:20 em Lisboa), a fronteira do Brasil com a Venezuela estava aberta.
“Fui lá dentro, em Santa Elena de Uairén [do lado venezuelano], e estão falando que vão fechar a fronteira. Está todo o mundo agitado do lado de lá. Acabei de abastecer meu carro em Santa Elena e voltei para o Brasil. Está todo a gente apavorada, vendendo gasolina, vendendo as coisas para comprar alimentos aqui”, contou.
O morador disse que o comércio na cidade de Pacaraima continua muito movimentado, mas que já não há pessoas a dormir nas ruas.
“Tem muitos venezuelanos aqui, parece uma feira, mas não estão dormindo nas ruas mais. Vejo também muitos deles descendo na estrada em direção ao Brasil e a Boa Vista”, descreveu.
Apesar de o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ter anunciado hoje o encerramento da fronteira entre os dois países sul-americanos, o governador de Roraima acredita que isso não impedirá a entrada de ajuda humanitária na Venezuela.
“[O encerramento da fronteira] não vai impedir a distribuição da ajuda humanitária. Acredito que, mesmo que esses géneros alimentícios e medicamentos estejam em território brasileiro, não haverá dificuldades em distribui-los entre os venezuelanos, mesmo com a fronteira fechada. É atravessar e pegar na ajuda”, disse o governador ao portal G1.
“A fronteira é seca (terrestre). Então, se uma pessoa não quiser passar pela fronteira, onde é o local oficial, passa pelas ‘laterais’. Temos 1.850 quilómetros de fronteira”, acrescentou.
Nicolás Maduro ordenou hoje o encerramento das passagens de fronteira da Venezuela com o Brasil, e disse que está a avaliar fazer o mesmo na fronteira com a Colômbia.
“Decidi (que) no sul da Venezuela (…) a partir das 20:00 de hoje (00:00 de sexta-feira em Lisboa) (…) fica encerrada total e absolutamente, até nova ordem, a fronteira terrestre com o Brasil”, anunciou Maduro numa reunião com militares no forte Tiuna de Caracas, o maior quartel do país.
Numa mensagem na rede social Twitter, justificou a decisão como “ações para proteger a paz nacional”.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou mais de 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
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