“O Presidente da República não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do Chega, não será o Presidente da República um obstáculo à construção de um governo se os partidos políticos aceitarem formar esse Governo, se as bases dos partidos aceitarem, e se houver essa disponibilidade e essa capacidade de formar uma maioria à direita”, afirmou.
O líder do Chega falava aos jornalistas no Palácio de Belém, em Lisboa, no final de uma audiência de cerca de 35 minutos com o Presidente da República.
André Ventura – que já tinha dito que iria pedir esse esclarecimento a Marcelo Rebelo de Sousa na sequência de notícias divulgadas na semana passada – afirmou que o que ouviu “foi particularmente importante e satisfatório”.
“Este para nós era um dado muito importante, uma vez que, se queremos que haja uma mudança, se queremos uma haja uma dissolução do parlamento, tem que haver aí mesmo tempo uma alternativa, e era importante esclarecer junto do Presidente da República. Embora sempre fosse esse o meu sentimento, de que o Presidente da República não estava contra uma solução política que envolvesse o Chega ou que fosse liderada pelo Chega à direita”, afirmou.
O presidente do Chega agradeceu as “palavra claras” de Marcelo Rebelo de Sousa e classificou como “uma atitude responsável”.
Questionado se já não acredita que o chefe de Estado obrigou o líder do PSD a dizer que não aceitaria soluções de Governo com o Chega, acusação feita por Ventura na terça-feira, respondeu: “O senhor Presidente da República transmitiu-me de forma clara e direta que nada teve a ver com isso, que a sua posição é esta e que não obstacularizará o Chega no Governo”.
“O que faz o líder do terceiro partido nestes casos? Não é inventar nem especular, é vir perguntar. Fui esclarecido e estou satisfeito”, disse.
Sobre a posição do Presidente da República de que não dissolverá o parlamento, invocando a conjuntura e falta de “uma alternativa óbvia em termos políticos", André Ventura apontou que compreende esta atitude.
"Só um Presidente irresponsável fazia uma dissolução sem saber o que o futuro reservaria. Acho que isto é o repto para a direita compreenda o momento histórico em que está e o que tem de fazer", salientou.
À saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, o líder do Chega reiterou o desafio ao PSD para apresentar uma moção de censura ao Governo e voltou a garantir que, se os sociais-democratas não o fizerem, o seu partido avança “nos primeiros dias da próxima sessão legislativa”, após o verão.
"Nós entendemos que este ponto de não retorno praticamente está alcançado e que está em causa o regular funcionamento das instituições" e acusou o Governo de "falta de honestidade, coerência, malabarismos" e de ter "tentáculos no aparelho de Estado".
Outro assunto que levou à reunião com Marcelo Rebelo de Sousa foi o veto do texto sobre a morte medicamente assistida e apontou que, se a lei entrar em vigor, vai tentar recolher assinaturas junto de deputados de outros partidos para pedir a fiscalização da constitucionalidade "após a promulgação", precisando para tal de um décimo dos deputados, ou seja, 23 (sendo que o Chega tem 12).
A meio da tarde, André Ventura tinha admitido pedir "alguma fiscalização por parte do Tribunal Constitucional a esta norma antes de ela entrar em vigor”.
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