Anabela Carvalheira, sindicalista da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), explicou à Lusa que ao longo dos últimos tempos os utentes têm reclamado de um serviço público que agora “não é assegurado por dois motivos diferentes: falta de trabalhadores nas áreas operacionais e desinvestimento nos últimos quatro anos, com o objetivo de privatizar a empresa”.
O facto de haver material circulante para arranjar e não haver peças para a sua substituição agravou os problemas, segundo a representante.
Perante a falta de trabalhadores e de material circulante, aponta, há “grandes picos de espaçamento de tempo entre comboios”, conforme tem sido relatado com maior frequência nas redes sociais.
Em setembro, o presidente do Metro, Tiago Farias, apontou a expansão da rede e a redução de trabalhadores e de orçamento como principais razões para o aumento dos tempos de espera.
“Sem a matéria-prima e matéria humana não se consegue prestar um serviço público de qualidade e os utentes queixam-se de que andam no Metro com espaçamentos enormes e que não têm as condições que tiveram em anos anteriores”, identifica Anabela Carvalheira.
Os problemas na Linha Verde, que liga o Cais do Sodré a Telheiras, são conhecidos, já que a estação de Arroios não permite comboios com seis carruagens devido ao tamanho do cais.
Anabela Carvalheira refere que o sindicato não está contra as anunciadas obras — que, segundo a empresa, vão começar no verão de 2017 –, reconhecendo que “para haver evolução tem de haver sacrifício de alguns utentes e trabalhadores num determinado período”.
“Mas não aceitamos que as coisas sejam feitas em cima do joelho. Não podemos dizer que vamos fechar Arroios sem saber se há concurso, se já foi aprovado, se está orçamentado ou por quanto tempo a estação vai estar encerrada”, diz, lembrando que esta é uma “estação nevrálgica na Almirante Reis” que serve uma população envelhecida.
Cecília Sales, representante da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa, foi ainda mais longe, exigindo que o Metro “reconsidere e reponha as quatro carruagens na Linha Verde, para ver se acabam as sobrelotações horríveis dignas de terceiro mundo”.
Segundo a comissão, a nível técnico é possível repor a quarta carruagem, retirada em 2012 “sem justificação e por motivos economicistas”.
A Lusa fez nas duas últimas semanas várias viagens pelas quatro linhas, sobretudo nas horas de ponta — entre as 08:00 e as 10:00 e das 17:15 às 20:00.
Num desses dias (já depois da cimeira tecnológica Web Summit), as viagens foram realizadas com autorização para recolha de imagem. De manhã, o período mais problemático foi identificado no Cais do Sodré entre as 08:45 e 09:07, com o cais lotado, as três carruagens com destino a Telheiras completamente apinhadas e um espaçamento de tempo entre comboios cujo tempo de espera médio foi de cerca de quatro minutos.
Seguindo para a Baixa-Chiado, o panorama na estação, que serve de interface com a Linha Azul (Santa Apolónia – Reboleira), foi menos complicado, mas também aqui o cais se encheu facilmente, apesar de os utentes terem mais três carruagens ao dispor do que na Linha Verde – seis.
Na estação de São Sebastião – que serve a Linha Amarela e a Vermelha, esta última com destino ao Aeroporto – os tempos de espera foram também variáveis. No dia da recolha de imagens, para o destino Aeroporto, a diferença entre comboios chegou a estar nos 6:20, mas se a opção final fosse a Reboleira podia-se esperar 7:10.
Durante as tardes dos dias úteis, apesar de as estações e os comboios estarem cheios, houve pouco tempo de espera, inclusive de dois ou três minutos. Nos dois sábados observados, durante o dia, a espera não passou dos 10 minutos, mas chegou a duplicar à noite.
Constatou-se que por vezes as pessoas se acumulavam nas escadas de acesso à plataforma para poderem estar mais próximas da composição (que, devido à sua dimensão, não ocupa toda a extensão da plataforma).
Uma utilizadora da rede há vários anos disse à Lusa ter começado a sentir diferenças em 2009, aquando da chegada da ‘troika’ a Portugal, explicando que o tempo que faz diariamente no percurso entre os Olivais e o Colégio Militar aumentou em cerca de 20 minutos.
Outra utilizadora da Linha Azul relatou que à noite, pelas 21:00, quando sai do emprego, encontra habitualmente uma espera de 15 minutos no Colégio Militar.
Contatada pela Lusa, a Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor adiantou não ter notado que “tivesse havido aumento de queixas ou acréscimo de reclamações”.
O Metro de Lisboa disse não ter nada a acrescentar em relação a declarações anteriores.
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