Em declarações à agência Lusa, António Cruz, referiu que aquele número é o que consta da plataforma criada, em 2012, pela corporação da capital do Alto Minho, admitindo poder ser "muito superior".

O responsável lamentou que, há oito anos, quando "apareceu um fenómeno completamente desconhecido", o concelho tenha enfrentado "completamente sozinho" o seu combate.

"Ninguém pode afirmar que, se em 2012 tivéssemos tido a capacidade de juntar tudo e todos, teríamos evitado o que se passou. Mas uma certeza temos, foi feito muito pouco em 2012", explicou o comandante da única corporação profissional do distrito de Viana do Castelo.

A vespa velutina é uma espécie asiática com uma área de distribuição natural pelas regiões tropicais e subtropicais do Norte da Índia ao leste da China, Indochina e ao arquipélago da Indonésia, sendo a sua existência reportada desde 2011 no distrito de Viana do Castelo.

"A praga foi-se estendendo pelo país, chegou a Lisboa e nós vemos que qualquer vespeiro em Lisboa é notícia nacional. Nós aqui, em 2012, destruíamos 13 a 14 ninhos por dia, ainda hoje destruímos ninhos todos os dias, mas aqui não é notícia porque, infelizmente, convivemos com isto desde 2012", reforçou.

Desde o início deste ano, a Companhia de Bombeiros Sapadores de Viana do Castelo já destruiu 263 ninhos.

"A Câmara de Viana do Castelo assumiu, desde o primeiro segundo, a responsabilidade de combater a praga e esteve, ao longo de muito tempo, completamente sozinha. Seguramente, são muitas dezenas de milhares de euros, que a câmara assumiu do seu próprio orçamento", garantindo estar "tudo registado" na plataforma criada pela corporação, desde o "número de horas de serviço gastas na destruição dos ninhos, aos quilómetros percorridos e ao número de operacionais empenhados".

Viana do Castelo é o concelho do Alto Minho com maior número de casos de ninhos daquela espécie predadora que foi introduzida na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004. Os primeiros indícios da sua presença em Portugal surgiram em 2011, mas a situação só se agravou a partir do final do ano seguinte.

Em 2012, referiu António Cruz, a corporação "procurou" informação sobre a praga noutros países, "como em França onde, supostamente tudo terá começado em Bordéus".

"Estivemos muito tempo sozinho. Há uma segunda fase em que alguns órgãos da administração central reagem, mas também rapidamente saltaram fora. Ninguém assumia a responsabilidade perante uma situação destas. Uns diziam que era um problema de saúde pública, outro da agricultura. Muita gente chutou para canto", lamentou.

Posteriormente, apontou, "foi feita uma primeira tentativa de desenhar um plano nacional de combate, mas apresentava fragilidades enormes ao ponto de querer obrigar as pessoas a pagar a destruição dos vespeiros".

"Precisávamos da ajuda das pessoas para nos informarem da existência dos ninhos, mas, logicamente, a pagar, as pessoas não informavam ninguém", especificou.

O método utilizado para destruir os ninhos foi também criado no concelho. A "geringonça" utilizada foi "engendrada" por um funcionário municipal com "muita imaginação que, no primeiro ano, permitiu queimar 400 ninhos".

Durante "vários anos", a corporação utilizava "uma garrafa de gás, ligada a uma mangueira extensível e a um queimador em aço inoxidável que queimava o ninho".

A destruição ocorre sempre quando cai a noite, período em que as vespas fundadoras estão no interior das colmeias.

"Não tínhamos alternativas. Entretanto, as empresas já reagiram. Há quem já utilize drones, espingardas de 'paint ball' para injetar o produto químico", explicou, referindo também que "só muito recentemente" tenha sido disponibilizado "financiamento público para a destruição de vespeiro".

Em fevereiro, um despacho do Governo refere que a "presença da vespa velutina tem vindo a aumentar no território nacional ao longo dos anos, afetando diversos setores, em particular o da apicultura, mas também o agrícola e o florestal, nomeadamente pela diminuição da quantidade de insetos polinizadores e óbvios efeitos que podem vir a causar a sustentabilidade dos respetivos ecossistemas". No documento, o Governo atribuiu um apoio de um milhão de euros para uma campanha nacional de destruição da vespa velutina.

Os principais efeitos da presença desta espécie não indígena manifestam-se não só na apicultura, por se tratar de uma espécie carnívora e predadora das abelhas, mas também para a saúde pública, porque, embora não sendo mais agressivas do que a espécie europeia, reagem de modo mais agressivo se sentirem os ninhos ameaçados, podendo fazer perseguições até algumas centenas de metros.