“Vamos aguardando que haja um milagre ou que o Papa decida beatificá-lo mesmo sem milagre”, afirmou à agência Lusa o sacerdote jesuíta Dário Pedroso a propósito da sessão de clausura do processo diocesano para a causa de beatificação de Francisco Rodrigues da Cruz, popularmente conhecido como padre Cruz, que hoje decorre em Lisboa.
Admitindo que suas expectativas “são muito grandes”, o vice-postulador explicou que a existência de um milagre é o “caminho normal, mas o Papa tem autoridade para beatificar mesmo sem haver milagre”.
“É tanta a devoção, é tanta a veneração, é tanto o relatório de testemunhos e de graças” recebidos que o Papa pode ultrapassar a exigência do milagre, adiantou.
Dário Pedroso reconheceu que “gostaria muito que fosse ainda” no pontificado do Papa Francisco, não tanto por este ser também jesuíta, “mas por ser o Papa dos pobres e dos sem-abrigo e dos marginais, como era o padre Cruz”, que a beatificação pudesse acontecer.
“Ainda por cima são ambos Francisco”, declarou Dário Pedroso, esperançado de que o Papa, quando conhecer o padre Cruz, “há de ter uma devoção particular”, porque “é, exatamente, o que ele sonha que os padres sejam, os homens das periferias”.
Dário Pedroso destacou diversas qualidades do padre Cruz, como “uma vida de oração intensa”.
“O padre Cruz era um homem que rezava continuamente, na rua, na igreja, na cama, na viagem, no automóvel, no comboio”, onde “punha a carruagem toda a rezar”, referiu, apontando outra qualidade: “[Era] o homem dos pobres, dos marginais do tempo, sobretudo dos presos”.
Salientando a “fama de santidade que o padre Cruz tem em todo o mundo”, o sacerdote jesuíta referiu que há menos de um mês foi rececionada uma carta das Filipinas e exemplificou existirem “pagelas com uma fotografia do padre Cruz de um lado e do outro lado a oração para a canonização ou pedido de milagre em chinês e em japonês impressas nesses países”.
Francisco Rodrigues da Cruz, popularmente conhecido como padre Cruz, era natural da vila de Alcochete, onde nasceu em 29 de julho de 1859.
Apesar da frágil saúde que o acompanhou desde cedo, e ao longo da sua vida, o padre Cruz concluiu os estudos secundários e seguiu para Coimbra, onde se formou em Teologia na Universidade de Coimbra em 1880, sendo ordenado sacerdote em 1882.
Entrou para a Companhia de Jesus em 03 de dezembro de 1940.
Segundo o Secretariado da Causa de Beatificação e Canonização do Padre Cruz, a característica dominante de toda a ação sacerdotal do padre Cruz foi o apostolado, uma vida de peregrinação, de norte a sul do país, Açores e Madeira, tendo sido também peregrino de Fátima.
Em 1913, deu a primeira comunhão à vidente de Fátima Lúcia, depois de um pároco se ter negado a fazê-lo.
Morreu aos 89 anos, em 01 de outubro de 1948, e foi sepultado no jazigo dos jesuítas no cemitério de Benfica, em Lisboa.
A sessão de clausura do processo diocesano supletivo realiza-se às 15:00, na Igreja de São Vicente de Fora, presidida pelo cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente.
Após esta sessão, a documentação é entregue na Congregação para as Causas dos Santos, em Roma.
O processo de canonização do padre Cruz teve início em 10 de março de 1951 e a fase diocesana decorreu até 18 setembro de 1965 – data em que foi entregue na Sagrada Congregação para a Causa dos Santos Cópia Pública dos três processos (Virtudes, ‘non culto’ e Escritos).
Segundo o Patriarcado de Lisboa, sendo necessário completar aquele processo com os elementos requeridos pelas novas normas para a instrução dos processos de canonização, incluindo uma Comissão de Peritos em História, em 12 de setembro de 2009, o então cardeal-patriarca José Policarpo nomeou um novo Tribunal e Comissão Histórica.
Entre março e maio de 2011 foram ouvidos os testemunhos sobre as virtudes heroicas do padre Cruz e a Comissão Histórica – esta já nomeada em 11 dezembro de 2018 por Manuel Clemente – entregou, no dia 01 de outubro de 2019, os documentos e a sua análise crítica.
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