Uma tarja de grande dimensão e onde se lia “Maus tratos nunca mais. Juntos somos mais fortes” foi colocada no coreto do jardim público de Valpaços. Em redor, dezenas de pessoas enfrentaram o frio da noite, pegaram em velas e em bandeiras de Portugal.

A iniciativa partiu de Jorge Araújo, um enfermeiro de 50 anos que denunciou recentemente alegados maus tratos sobre os seus pais que estavam institucionalizados no lar de São José, que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Valpaços.

“O objetivo é alertar e agir. Isto serve para mobilizar as pessoas para efetivamente tomarem uma posição. Já chega”, afirmou aos jornalistas.

Segundo o enfermeiro, Portugal “é o quinto país da Europa que pior trata os idosos, de acordo com as estatísticas em relação à violência doméstica”.

“O tema das instituições ainda é tabu, sobretudo nas misericórdias, e Portugal continua a ser um país terceiro mundista no que se refere ao tratamento dos idosos. Os lares são mal construídos, a arquitetura é asilar, as estruturas não são adaptadas para as pessoas com demência, a população está envelhecida”, salientou.

Carla Afonso, de 47 anos, participou nesta vigília porque “todos têm de lutar para o mesmo fim”.

“Não é uma questão de políticas, cores ou religiões, é uma questão que nos preocupa. Estamos aqui contra os maus tratos sobre idosos e nós todos para lá caminhamos”, afirmou.

Carla Afonso disse ter um familiar numa outra valência da Santa Casa e sublinhou que, até hoje, “não tem queixas” da instituição.

Sebastião Neves, 59 anos, também fez questão de se juntar à iniciativa, porque considera que é “preciso que as pessoas acordem” e o “concelho está doente”.

A vigília realizou-se na mesma noite em que decorreu uma reunião da assembleia-geral da Santa Casa da Misericórdia de Valpaços.

O pai de Jorge Araújo faleceu naquele lar há cerca de um mês e, segundo o filho, “aguarda-se o resultado da autópsia”. Naquele dia, contou, retirou também a mãe da instituição.

A denúncia de maus tratos foi acompanhada de filmagens recolhidas no quarto onde o casal residia.

Na semana passada, a Procuradoria Geral da República (PGR) disse à agência Lusa que o Ministério Público (MP) está a investigar os alegados maus tratos a utentes ocorridos no lar da Santa Casa da Misericórdia de Valpaços, num processo que está em segredo de justiça.

“Confirma-se a receção de uma participação. A mesma deu origem a um inquérito dirigido pelo Ministério Público da comarca de Vila Real. Encontra-se em investigação e está em segredo de justiça”, afirmou a PGR, em resposta escrita a um pedido de esclarecimento.

A Misericórdia disse, em comunicado, que a “gravidade do relato”, sobre os alegados maus tratos sobre utentes do Lar de São José, justificou que tivesse procedido “à competente denúncia ao Ministério Público para instauração de inquérito criminal” e a abertura de um processo interno de averiguações para total esclarecimento e adoção das medidas disciplinares que ao caso se mostrem adequadas”.

Entretanto, foi anunciada também a suspensão de nove funcionários daquela instituição.

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