Os números foram divulgados no final de uma marcha organizada pela “Ondjango Feminista” e que juntou várias dezenas de angolanos em Luanda, protestando contra os abusos sobre as mulheres.

De acordo com Júlia Augusto, da organização, dos casos registados no ano passado, 32% referem-se a mulheres que são vítimas de violência doméstica desde os 15 anos e que só num hospital de Luanda, no primeiro semestre de 2016, foram atendidas 574 mulheres vítimas de violência sexual.

“A violência contra a mulher continua a ser a maior violação dos direitos humanos no país, constatando que existe uma distância considerável entre os conteúdos dos diplomas legais, o discurso político e a realidade das mulheres e meninas com casos alarmantes”, sustentou a ativista.

Apresentando o manifesto desta marcha de repúdio à violência contra as mulheres, realizada hoje em Luanda, Júlia Augusto criticou a disparidade entre o discurso político e a crescente onda de violência contra a mulheres angolanas.

Na ocasião, a deputada Albertina Ngolo, da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido na oposição angolana, defendeu uma maior intervenção das parlamentares em defesa dos direitos das mulheres, por constatar graves violações dos seus direitos e das crianças.

“As mulheres no parlamento e no Governo devem abraçar causas dessas em busca de uma vida condigna e normal no país”, disse, depois de ter segurado, durante a marcha de hoje, um cartaz em que se lia “Quem ama não mata”.

“Estamos aqui por causa disso, as flagrantes violações dos direitos da mulher vão mesmo desde as próprias instituições do Estado, quando ela não tem acesso a emprego, saúde, educação, encontram no mercado informal o seu ganha-pão e aí são batidas”, criticou, defendendo ainda a necessidade de criação de mais diplomas legais.

Catarina Veríssimo da Costa “Mama Kwiba” saiu de casa pela manhã, para participar nesta marcha, e aplaudiu a iniciativa da “Ondjango Feminista”: “Todos devemos trabalhar em comunhão para se contrapor esses casos de violência. Daí que devemos sempre ajudar os jovens e aconselhá-los para uma melhor atitude”, disse.

O professor e politólogo Olívio Kilumbo Fortunato, que também participou na marcha, confessou estar repugnado com o crescente número de relatos de casos de violência contra a mulher que conhece.

“O facto de elas serem a maioria em Angola, de serem as marginalizadas e as menos beneficiadas das políticas públicas, é por isso que venho cá. Porque me repugno de tanta violência”, apontou.

“A situação é preocupante. Nos últimos dois meses os crimes foram violentos em função da crise que vivemos e do próprio desgaste da sociedade”, lamentou.