De acordo com os dados estatísticos do INMLCF sobre violência no namoro, a que a Lusa teve acesso, 2016 terminou com 767 pessoas vítimas de violência no namoro, o que representa um aumento de quase 10% em relação às 699 de 2015, mas significa um crescimento no número de casos de quase 60% quando comparando com as 484 vítimas de 2014.
Em declarações à agência Lusa, o responsável pelo estudo confirmou que, ao longo dos últimos três anos, tem constatado uma evolução de aumento do número de casos reportados ao INMLCF em que as vítimas identificam como sendo uma relação de namoro.
Para César Santos, isso corresponde não necessariamente a um aumento real do número de casos, mas antes a uma maior consciencialização das vítimas para os seus direitos e para a necessidade de apresentarem queixa.
“Na violência doméstica em geral e na violência no namoro em particular assiste-se a uma maior consciencialização da sociedade sobre estes fenómenos para o que são os comportamentos abusivos e para que [a vítima] deve fazer valer os seus direitos”, apontou o responsável, coordenador do Gabinete Médico-Legal e Forense do Médio Tejo.
O INMLCF apurou que, no que diz respeito ao perfil da vítima, a maioria (657) são do sexo feminino, havendo 14,3% de homens, tendo havido uma evolução de 55% entre 2014 e 2016, passando de 424 mulheres no primeiro ano para 657 no segundo.
De registar, no entanto, que o número de vítimas homens tem vindo a aumentar exponencialmente, já que em 2014 foram 60 e em 2016 110, o que representa uma subida de 83,3%.
Ainda em relação ao perfil da vítima, os dados do INMLCF revelam que em 34,9% dos casos a pessoa tem entre 18 e 25 anos e em 22,8% entre 31 e 39 anos.
Já no que diz respeito aos agressores, há uma evolução nos últimos dois anos, já que em 2015 eram maioritariamente ex-namorados (52,9%), enquanto em 2016 foram sobretudo os namorados (51,8%).
As formas de agressão mais frequentemente reportadas são variadas e vão desde facadas (16), unhadas (56), puxão de cabelos (104), pontapés (142), empurrões (166), apertões (176) ou bofetadas (230), mas também murros (258) ou estrangulamento (59).
Apesar da tentativa de estrangulamento não ser a mais frequente, o responsável pelo estudo aproveita para salientar que muitas vezes as pessoas não tem real perceção das consequências e apertar o pescoço poderá despertar reflexos que, em última análise, pode provocar uma paragem cardíaca.
“Chamamos a atenção para o apertar do pescoço porque é subvalorizada a sua importância quando poderá ter, em algumas situações, um desfecho inesperadamente fatal”, alertou César Santos.
O INMLCF faz também a análise aos meses, dias e horas em que ocorrem mais agressões para concluir que acontecem sobretudo nos meses de julho (88) e outubro (86), aos fins de semana (246), entre as 15:00 e as 16:59 (99) e as 21:00 e as 22:59 (102)
Estes dados vão ser apresentados publicamente por ocasião do seminário “E se a escola do namoro formasse profissionais em violência”, que decorre no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra, e assinala o Dia Internacional da Mulher.
De acordo com César Santos, este seminário pretende trazer algum contributo na sensibilização para estes temas junto dos mais jovens, sobretudo os alunos do secundário, mas também universitários, dando-lhes as ferramentas necessárias a reconhecer um abuso, perceberem as consequências na saúde física e psíquica mas também ao nível legal.
“O namoro não é suposto ser uma tortura, mas sim um relacionamento de respeito entre duas partes”, concluiu, reforçando que comportamentos abusivos podem muitas vezes ter desfechos trágicos e levar à morte da vítima.
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