Roza Luzia Lunardi, de 85 anos, a ser abraçada por uma enfermeira (Adriana Silva da Costa Souza). A imagem vale o prémio de "Fotografia do Ano" nos World Press Photo.
A separar Roza e Adriana está "apenas" uma cortina de plástico especial, transparente, que permite o contacto sem contágio.
Captada pelo fotógrafo dinamarquês Mads Nissen (Politiken/Panos Picture), a 5 de agosto de 2020, no lar de idosos Viva Bem, em São Paulo, no Brasil, a imagem carrega retrata mais do que um gesto afetuoso. O abraço, agora para a história, foi o primeiro que a idosa recebeu em cinco meses.
A imagem, que documenta o novo normal do contacto físico, foi também a vencedora do primeiro prémio na categoria de Notícias.
Reportagens sobre a explosão que destruiu parte de Beirute, no Líbano, a disputa da região de Nagorno-Karabakh, os incêndios na Amazónia, migrantes africanos em Itália e uma unidade de cuidados paliativos em França eram outros temas que competiam para os prémios de fotografia World Press Photo, numa edição muito marcada pela Covid-19, em trabalhos de vários dos candidatos.
Esta não é a primeira vez que o dinamarquês vence na categoria "Fotografia do Ano", considerada uma das mais importantes do prémio. Em 2015 Mads Nissen foi distinguido por um retrato íntimo de um casal homossexual, em São Petersburgo, na Rússia.
Os vencedores das várias categorias do prémio foram revelados na íntegra esta quinta-feira numa sessão online a partir de Amesterdão.
Terceiro lugar português
O fotojornalista Nuno André Ferreira, da agência Lusa, ficou em 3º lugar na categoria de Notícias Locais, com uma fotografia tirada em setembro de 2020.
A vitória nesta categoria foi entregue à fotógrafa norte-americana Evelyn Hockstein. Em segundo lugar ficou a bielorrussa Nadia Buzhan.
A imagem de Nuno André Ferreira foi captada em setembro de 2020 e mostra, em dois planos, uma criança dentro de um carro, e ao longe o recorte das chamas num incêndio que começou em Oliveira de Frades (Viseu) e se estendeu pelos concelhos vizinhos.
Nuno André Ferreira, nascido em 1979, vive em Viseu e trabalha com a agência Lusa desde 2009, e o seu trabalho tem sido premiado, nomeadamente em 2019 quando venceu por unanimidade o Prémio Rei de Espanha de Jornalismo, com a fotografia "O Nosso Presidente Marcelo", publicada pela agência Lusa a 19 de outubro de 2017.
No início de março deste ano, quando foram anunciados os nomeados para as várias categorias do concurso, o fotojornalista Nuno André Ferreira disse ver a nomeação para os prémios World Press Photo como "uma recompensa pela missão dos fotojornalistas em tentarem chegar aos leitores através das imagens".
"Escolhi aquela fotografia, porque há ali um contraste entre a ternura de uma criança e o incêndio, que é uma coisa tão má. E vemos ali uma criança dentro do carro, que parece que está imune àquilo tudo, porque também ela não percebe o que se passa à volta dela", explicou o fotojornalista, em declarações à Lusa.
A reportagem foi feita numa aldeia do concelho de Oliveira de Frades, num incêndio em que, durante a tarde, tinha morrido um bombeiro.
"Já tinha o meu serviço praticamente feito, mas decidi ficar, porque havia aldeias ameaçadas. E, estando em risco, a gente fica para ver até que ponto aquilo tem alguma gravidade ou não", recordou Nuno André Ferreira.
"Nós também temos a nossa missão, que é esta: é mostrar, é andar na rua. É quase como ter uma guerra e não ter ninguém a cobri-la, porque ficámos em casa com medo. Podemos ter medo, devemos ter, porque o medo acaba por ser um aliado para nos podermos salvaguardar, mas a nossa missão é esta. É tentar chegar às pessoas que não estão lá, é tentar transmitir alguns sentimentos, é tentar levar as emoções, é mostrar no dia a seguir às pessoas aquilo que tu viste e presenciaste", resumiu.
O trabalho do repórter foi reconhecido com o Prémio Rei de Espanha de Jornalismo 2019, com o prémio da Aliança das Agências de Notícias do Mediterrâneo em 2014 e nos prémios Estação Imagem em 2010.
Na história deste prémio internacional de fotografia há alguns premiados portugueses, entre os quais Eduardo Gageiro, Miguel Barreira, João Silva, Daniel Rodrigues e Mário Cruz, que também trabalha na agência Lusa.
* Com Lusa
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