A EDP revelou hoje que decidiu antecipar o encerramento das suas centrais a carvão na Península Ibérica, entre as quais a de Sines, no distrito de Setúbal, o que representa um custo extraordinário de cerca de 100 milhões de euros (antes de impostos) em 2020.

“É uma notícia excelente. Já tinha sido a antecipação de 2030 para 2023, mas antecipar em mais dois anos é uma boa notícia”, disse à Lusa o presidente da Zero.

De acordo com Francisco Ferreira, além de excelente, esta notícia é também um desafio em termos de descarbonização.

“Nós estamos já com um longo período em que quer a central de Sines, quer a do Pego, que será à partida a última a encerrar em novembro de 2021, não estão praticamente a funcionar e isso tem significado uma redução enorme em termos de emissões de dióxido de carbono para a atmosfera e um contributo significativo no que respeita à redução das emissões de gases com efeito de estufa e, portanto, a favor de combatermos as alterações climáticas”, salientou.

Francisco Ferreira lembrou que o carvão é a forma mais poluente de se produzir energia elétrica.

“Nós emitimos 900 gramas de dióxido de carbono por cada quilowatt/hora produzido de eletricidade. Este valor baixa substancialmente no caso das centrais de ciclo combinado a gás natural e, portanto, o caminho é efetivamente de mais eletricidade renovável e é aí que temos de fazer uma aposta sustentável”, disse.

Segundo o presidente da Zero, a eletricidade proveniente do solar representa ainda uma percentagem muito baixa na ordem dos 2%.

“Temos de apostar muito nas comunidades energéticas e sobretudo naquilo que são zonas construídas que devem vir a ter painéis fotovoltaicos nos telhados. O encerramento do carvão é acima de tudo um desafio em termos de descarbonização e implica uma resposta da parte da produção em termos de fontes renováveis e também noutras fontes e formas de distribuição de energia como é o caso da recente estratégia nacional de hidrogénio”, referiu.

Francisco Ferreira disse também que o encerramento da central de Sines e também do Pego, concelho de Abrantes, distrito de Santarém, é consequência de haver na Europa um comércio europeu de licenças de emissão.

“Isto é, das centrais térmicas terem de pagar pelo dióxido de carbono que emitem e estamos a falar de valores na ordem dos 25 euros por tonelada e também de o Governo português ter colocado desde há poucos anos de forma progressiva uma taxa de carbono a ser aplicada às centrais térmicas bem como a isenção do Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos. Ou seja, isto mostra que é muito importante a forma como a União Europeia e os governos podem influenciar fortemente as políticas climáticas se assim o desejarem”, disse.

Sobre os impactos do encerramento nos trabalhadores das centrais, a Zero considera que tem de haver um esforço conjunto entre governo e municípios para uma transição justa.

“Esta sempre foi uma grande preocupação para nós, bem como o futuro das centrais. (…) Há trabalhadores que estão na central desde o início e já estarão próximos da idade da reforma e aqui o impacto será menor, mas para muitos outros e até das empresas indiretamente ligadas à central temos de pensar numa transição justa”, sublinhou.

De acordo com Francisco Ferreira, há verbas que a União Europeia encaminha para situações como estas e o Governo em conjunto com os municípios de Sines e Abrantes, no caso do Pego, devem fazer um esforço para uma reconversão profissional que não comprometa a empregabilidade.

Em outubro, o Governo anunciou estar preparado para encerrar a central termoelétrica do Pego no final de 2021 e fazer cessar a produção da central de Sines em setembro de 2023.

Hoje, a EDP anunciou a decisão, justificando com “a continuada deterioração das condições de mercado para estas centrais durante o primeiro semestre de 2020”.

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