Numa comunicação ao país, em direto na televisão pública local, Mugabe reconheceu que as Forças Armadas lhe chamaram a atenção para vários problemas e preocupações. O ainda presidente do Zimbabué diz também estar ciente dos procedimentos do partido, que o destituiu. Porém, depois de notícias a dar conta do contrário, Mugabe mantém-se firme: não vai resignar.
O discurso foi lido pausadamente. Mugabe trocou até algumas páginas, num incidente que revela alguma fragilidade do homem que está há quase quatro décadas à frente do Zimbabué. Mas se as páginas se podem trocar, as convicções não.
O presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, pressionado pelo próprio partido, pelo exército e pelas manifestações da população para que se demita depois de 37 anos no poder, mantém-se.
Robert Mugabe, que foi hoje destituído da liderança União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF), voltou a reunir-se hoje com os generais do exército, pela segunda vez esta semana, informou o jornal estatal The Herald.
A mesma fonte avançava que a reunião decorreu no palácio presidencial do Zimbabué e sublinhava que Robert Mugabe foi visto a discutir com vários oficiais do exército, entre os quais, o chefe de Estado Maior, Constantino Chiwenga.
Durante a tarde, a agência Reuters avançava que o líder do Zimbabué tinha aceitado a resignação, citando fontes próximas da negociação.
Também a AFP dava detalhes sobre a eventual renúncia, citando "uma fonte próxima na condição de anonimato".
"Ele aceitou renunciar", disse a fonte ao ser consultada sobre o conteúdo da mensagem que Mugabe ia revelar ao país, após cinco dias de tensão com os militares.
Porém, contra todas as expectativas, Mugabe não desistiu e mantém-se à frente dos destinos do Zimbabué.
Mais: apesar de ter sido afastado do partido, anunciou também que vai presidir ao congresso da ZANU-PF, dentro de semanas.
No discurso, Robert Mugabe afirmou que, apesar da crise política que se vive nos últimos dias, "os pilares do Estado permaneceram funcionais" e que o país precisa "voltar à normalidade".
Apesar de a economia estar a passar por um "período difícil", o ainda Presidente do Zimbabué disse que "o Governo mantém-se comprometido em melhorar as condições sociais e materiais do povo" zimbabueano.
Robert Mugabe terminou o discurso dizendo "obrigado e boa noite".
Destituído pelo partido
A BBC, cadeia de televisão britânica, noticiou hoje que o partido no poder no Zimbabué destituiu Robert Mugabe da liderança da ZANU-FP.
Segundo a BBC, o Comité Central da ZANU-PF, que se reuniu de urgência para analisar a crise político-militar zimbabueana, decidiu também nomear como novo líder o antigo vice-Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, afastado do cargo há duas semanas por Robert Mugabe.
Além de passar a assumir a liderança do partido, Emmerison Mnangagwa foi também indicado, pelo partido no poder, para as eleições presidenciais do Zimbabué.
O afastamento de Mnangagwa desencadeou um conjunto de reações em cadeia, culminando com a intervenção militar do exército que tomou o controlo do poder e impediu Mugabe, 93 anos, de continuar a manobrar politicamente para que a sua mulher, Grace, o substituísse na Presidência do país.
Grace Mugabe, aliás, foi também expulsa, “para sempre”, do mesmo partido, bem como dois dos ministros mais próximos de Robert Mugabe, os da Educação Superior, Jonathan Moyo, e o das Finanças, Ignatius Chombo.
Na reunião do Comité Central, órgão encarregado de tomar as decisões no seio da ZANU-PF, oito dos dez Comités Coordenadores Provinciais do partido manifestaram-se a favor da destituição de Robert Mugabe devido à “incapacidade” provocada pela idade avançada (93 anos) e lamentaram que toda esta situação tenha criado várias fações internas.
Na passada quarta-feira, as forças armadas zimbabueanas detiveram Robert Mugabe, de 93 anos, e a mulher, Grace Mugabe, e garantiram o controlo de todas as instituições governamentais.
A ação político-militar teve as características de um golpe de Estado, uma vez que foram também detidos ou colocados sob prisão domiciliária grande parte dos membros do executivo.
[Nota: Uma primeira versão deste texto, citando agências internacionais, dava conta da resignação de Robert Mugabe. Depois do discurso desta noite, tal informação não se confirma]
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