Contratorpedeiro. Navio de guerra de porte médio, bem armado (mísseis, torpedos), veloz e facilmente manobrável, usado na escolta de outras embarcações, no combate a navios e submarinos. Se formos buscar a tradução da língua inglesa - Destroyer - ficamos a saber que é uma embarcação superior em termos de poder de fogo.

Fazendo uma analogia e uma leitura do que ao jogo se trata, temos, desde logo, a particularidade de uma das equipas, Villarreal, ser conhecida mundial como o “Submarino Amarelo” e jogar numa zona de grande importância náutica em Espanha.

Se olharmos para o aconteceu no tempo de descontos da primeira parte, período em que o Bruno Fernandes (o Bruno dos livres), o médio mais goleador da Europa que depois de uma recuperação de bola a meio campo galgou metros em aceleração e à entrada da área pura e simplesmente desferiu um míssil à baliza de Fernandez (o guarda-redes para a Liga Europa), sai justificada toda esta inicial alusão marítima.

Que até será reforçada, mais à frente, quando um companheiro (Jefferson) de tripulação de Bruno Fernandes decidiu meter água, ou dar um tiro no próprio pé, conforme a visão que se queira dar, deixando-se expulsar e desviando (ou afundando) o Sporting da rota dos oitavos-de-final da Liga Europa.

Em esquema que ganha, não se mexe

O resultado da primeira mão não augurava vida fácil para a deslocação do Sporting ao terreno do Villarreal. A estatística e a história também não estavam de feição para os leões nos embates com equipas espanholas. Das 15 vezes que aterrou em Espanha nunca ganhou. Regressou com três empates (Sevilha, em 1983-84, Real Sociedad (1989-89) e Atlético Madrid (2009-10) e 12 derrotas e com um diferencial 31 golos sofridos para 9 bolas dentro da rede.

Foi com esta a carta de más recordações que Marcel Keizer e os seus homens embarcaram para a zona de Valência. Ai chegados, uma certeza acompanhou a cabeça do treinador leonino: num sistema tático que ganha, não se mexe na disposição das peças.

Assim terá pensado Keizer, que depois de desenhar um modelo de jogo frente ao Braga em jogo da Liga (com o qual conseguiu uma vitória folgada), com três centrais (Ilori, Coates e Borja) e colocando os laterais subidos e Bruno Fernandes mais próximo do avançado Bas Dost, a dose foi repetida diante o Villarreal, no segundo encontro da Liga Europa. A geometria utilizada foi a mesma, mudaram, somente, alguns intérpretes do xadrez. Jefferson entrou para o lugar do castigado Acuña e Salin era o homem das redes, trocando de papel com Renan.

Villarreal atento a Bruno Fernandes. Bruno Fernandes atento aos colegas

Tal como o timoneiro leonino, Javier Calleja, o homem ao leme do Submarino Amarelo, meteu também novos homens em campo, nomeadamente Gerard Moreno (um habitual titular que não jogou em Alvalade). E foi do pé de Moreno o primeiro a remate à baliza de Salin, um gesto que foi imitado por Llambrich no mesmo minuto. Corriam os primeiros 10 minutos de jogo e os espanhóis, mais talhados para o contra-ataque, davam a iniciativa de jogo aos leões.

O Villarreal estava atento a Bruno Fernandes (na antevisão da partida serviu de aviso do que se iria passar em campo) e Bruno Fernandes estava atento para, a espaços, se libertar das marcações, num cerco que, por vezes, chgava em dose dupla. Mas quando o médio leonino recuava no terreno, fugia à marcação, procurava espaços, lançava o ataque ao primeiro toque, quando gesticulava, falava com os colegas de equipa, orientava-os e empurrava-os para a frente, assumindo, para além da braçadeira de capitão o papel de timoneiro em campo, numa clara extensão do papel do treinador dentro das quatro linhas, todo o futebol ofensivo mudava, para melhor.

Contudo, o cartão amarelo a terminar a primeira parte, que o atirava para fora do primeiro jogo dos oitavos de final (se os leões passassem o obstáculo espanhol), parecia abanar a estrutura da nau leonina. No entanto, Bruno Fernandes, numa jogada em que levou os motores até ao limite, recupera uma bola a meio-campo, passa por cima de Mori e, na cara de Fernandez, marca o golo em tempo de compensação da primeira metade. Estava empatada a eliminatória. Era um autêntico murro no estômago no adversário que até então tinha rematado em quatro ocasiões, contra somente uma do Sporting, numa eficácia de 100%.

Mais uma expulsão do lado esquerdo

O 11 português foi assim para o intervalo: a vantagem no marcador juntava-se a vantagem anímica de ter marcado em cima do descanso, igualando a eliminatória. Mas o futebol pode ser decidido em segundos. E quando menos se espera. Jefferson, que já tinha visto um amarelo no primeiro tempo, numa bola dividida, pisou o adversário que deslizava pelo chão e acabou expulso, com o segundo cartão da cor do equipamento da equipa espanhola.

Acabou aí, naquele segundo, a vantagem emocional, e Keizer é obrigado a rearmar a equipa, deslocando Borja para lateral e desfazendo o esquema de três homens à frente de Salin (o homem do jogo).

Minutos depois, Ekambi (12 golos e 30 jogos em época de estreia no Villarreal) entra em campo numa substituição que não mereceu aplausos dos treinadores de bancada, antes pelo contrário. Mas como se verá mais à frente, o homem que se senta no banco viria a provar que tinha razão.

O Submarino Amarelo empurrava, empurrava e tanto empurrou até que Carzorla desmarcou Ekambi que, descaído pela esquerda, junto à linha final, mete a bola no pé de Fornals que empatou a partida.

O Sporting abanou, e bem, e só não foi logo ao tapete porque Iborra (que também saltou do banco) falhou um golpe de cabeça dentro da área.

Já com Luiz Phellype ao lado de Bas Dost, num jogo direto, de regresso ao três centrais, sem laterais em campo, Salin evita um golo certo de Ekambi (deslizou de uma ponta da baliza à porta impedindo o tento do avançado dos Camarões). E no minuto seguinte, o guarda-redes francês vestiu a pele de líbero e salvou os leões de irem ao fundo naquele minuto.

A história de sobrevivência leonina, com 40 minutos a jogar em inferioridade e 10 a tentarem marcar um golo que lhes permitisse passar a eliminatória, até poderia ter um final feliz. Ao cair do pano, Bas Dost falhou onde não costuma e essa foi a gota de água com que os leões se despediram da edição 2018-2019 da Liga Europa.

Bitaites e postas de pescada

O que é que é isso, ó meu?

Jefferson e Bas Dost. O defesa brasileiro foi expulso com duplo amarelo deixando a equipa, que estava a ganhar e com a eliminatória empatada, a jogar 40 minutos em inferioridade. Tal como no jogo da primeira mão, o lado esquerdo leonino traiu as restantes 10 peças em campo. Já o avançado holandês, falhou onde costuma estar e...marcar. À boca da baliza, o pé (foi mais a “canela”) esquerdo falhou e o Sporting foi ao fundo na Liga Europa.

Salin, a vantagem de ter dois braços e um pé

Se até então já estava a ser o homem do jogo, quando faltavam cinco minutos para terminar o tempo regulamentar, Salin assina, num minuto, duas obras de arte. Primeiro, enfrentando dois jogadores que se apresentaram na sua cara, responde deslizando na relva de um poste para o outro e evitou o golo certo de Ekambi. Segundos depois, e com os leões completamente inclinados para a frente, mostrou que também sabe jogar com os pés. Foi líbero no lugar de um Coates, que tinha levado altura à frente de ataque mas já não conseguia recuar.

Fica na retina o cheiro de bom futebol

O golo do Villarreal é uma mostra clara de futebol ao primeiro toque em busca do golo. Os espanhóis jogavam com vantagem numérica, encostavam os leões às cordas e aproximavam-se na área leonina. Aí chegados, em segundos, em alta rotação, Carzorla desmarcou Ekambi, que perfurou a linha defensiva e atrasou a bola para Pablo Fornals desferir um potente remate que terminou nas redes leoninas.

Nem com dois pulmões chegava à bola

Ekambi está a ter uma primeira época de sonho ao serviço do Villarreal: aos 26 anos, o avançado leva 12 golos pela equipa que atua no Estádio de la Ceramica. Entrou no segundo tempo, ouviu apupos da bancada (não tanto para ele, mas para o jogador que substitui), mas o facto é que foi dos seus pés e de uma arrancada sua que nasceu o golo do empate que permitiu que o Submarino Amarelo carimbasse o passaporte para os oitavos-de-final da Liga Europa. Ristoski ficou a ver.