A revogação das credenciais por parte da AMA impede o LAD de proceder à análise das amostras por parte de federações ou organizações desportivas que tenham assinado o código mundial antidopagem.

Segundo o COP, "trata-se de uma decisão que compromete décadas de investimento", com "danos reputacionais irreparáveis para o desporto português". O organismo atribui este desfecho à "ausência de uma orientação estratégica, política, técnica e operacional consistente" no domínio da prevenção e combate à dopagem.

"A ausência de políticas para o setor, a par do desinvestimento feito na modernização de toda área da medicina desportiva pública, com especial incidência no período em que Portugal esteve sob ajuda financeira externa, associada a uma inadequada seleção de recursos humanos para áreas de responsabilidade estratégica penalizaram aquele que foi um dos setores mais qualificados do sistema desportivo nacional", pode ler-se no comunicado.

O COP exige ainda que sejam apuradas responsabilidades ou que sejam anunciadas medidas políticas que visem responder a este problema.

Contactado pela Agência Lusa, o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, admitiu a possibilidade de vir a recorrer da decisão da AMA.

Em comunicado divulgado na quinta-feira, a AMA revelou estar insatisfeita com os resultados de uma inspeção realizada para "assegurar a completa fiabilidade e precisão das análises antidoping e na divulgação dos resultados".

O LAD foi suspenso em 15 de abril de 2016 por um período de seis meses, tendo essa suspensão sido mais tarde ampliada para um ano.

Leia aqui o comunicado na íntegra:

O Comité Olímpico de Portugal toma posição pública em relação à revogação da acreditação do Laboratório de Análises de Dopagem decidida pela Comissão Executiva da Agência Mundial Antidopagem no comunicado que se segue:

“O Comité Olímpico de Portugal (COP) tomou conhecimento da decisão da Comissão Executiva da Agência Mundial Antidopagem (AMA), do passado dia 22 de Outubro, de revogar a acreditação do Laboratório de Análises de Dopagem (LAD) de Portugal.

Trata-se de uma decisão que compromete décadas de investimento que colocaram o País na vanguarda deste domínio e a qualidade científica granjeada por um laboratório reconhecido internacionalmente, servido por técnicos de craveira mundial, com danos reputacionais irreparáveis para o desporto português.

O COP, por diversas ocasiões, teve oportunidade de alertar para a iminência deste desfecho, pelo prestígio que notoriamente vinha sendo delapidado no domínio da prevenção e combate à dopagem perante a ausência de uma orientação estratégica, política, técnica e operacional consistente com as referências internacionais. A vulnerabilidade em que, por tal ausência, o País se colocou resulta evidente desta decisão da AMA, a qual, é aliás, pré-anunciada pela decisão anterior de suspensão do LAD em Abril de 2016.

A situação a que chegámos tem origens muito para além das responsabilidades do atual Governo e ultrapassam a área do desporto. A ausência de políticas para o setor, a par do desinvestimento feito na modernização de toda área da medicina desportiva pública, com especial incidência no período em que Portugal esteve sob ajuda financeira externa, associada a uma inadequada seleção de recursos humanos para áreas de responsabilidade estratégica penalizaram aquele que foi um dos setores mais qualificados do sistema desportivo nacional.

Perante esta fragilidade, agora evidenciada por ação internacional, oportuna e reiteradamente assinalada pelo COP na luta pela integridade no desporto em Portugal e num momento em que se colocam, neste âmbito, desafios cruciais ao Movimento Desportivo, a decisão da AMA não deve ser desvalorizada ou, considerada – o que seria lamentável -, de efeito nulo no combate à dopagem, pelo que se aguarda seja o apuramento total de responsabilidades, seja o anúncio das medidas políticas que a situação conhecida urgentemente requer.

O COP reitera a sua disponibilidade para cooperar com as autoridades políticas e desportivas nacionais no sentido de minimizar os custos da decisão agora anunciada e de colocar Portugal em linha com aquelas que são as orientações da AMA em matéria de salvaguarda da integridade do desporto.”