Curiosidade: no dia 21 de janeiro, o Sporting de Gijón, equipa das Astúrias e que joga na II Liga espanhola de futebol, apresentou nas redes sociais o seu novo reforço, Abdullah al-Hamdan. Contudo, no meio de um aparente entusiasmo da equipa de comunicação sobre a nova aquisição, aconteceu algo, no mínimo, inusitado: em vez de apresentar o jogador com o seu nome próprio e apelido, fez confusão e escreveu o nome do clube do qual era proveniente. Isto é, em vez do esperado “Benvindo Abdullah al-Hamdan”, saiu um “Benvindo Al-Shabab Abdullah”. Só que Al-Shabab FC é o clube que o emprestou. E se o comunicado está com a informação correta, o tweet nem tanto.
Este foi apenas um dos jogadores — e já são 9 atletas do Reino da Arábia Saudita — que aterraram em Espanha. A história é desenvolvida e contada no britânico The Guardian. Porém, que se deixe desde já a ressalva: nem todos eles estão com viagens marcadas para a Rússia. E uns são mais habilidosos que outros.
Para já, três foram colocados em equipas da I Divisão: o Levante recebeu Fahad al-Muwallad, autor do golo que garantiu a qualificação; o Villarreal vai contar com Salem al-Dawsari, extremo de posição; e, por fim, o Leganés, clube da área metropolitana de Madrid que eliminou recentemente o Real da Taça do Rei, vai contar com Yahya al-Shehri, também ele jogador do meio-campo para a frente. Nova curiosidade: os dois últimos estiveram presentes no jogo solidário com Portugal, em Viseu, na derrota por 3-0 contra a equipa das Quinas, em jogo de cariz solidário.
Todavia, há uma razão lógica para que tal aconteça. Eis, então, o plano. A Associação de Futebol da Arábia Saudita e a Autoridade Geral do Desporto daquele Reino estão cientes das dificuldades que vão enfrentar. Mais ainda se tivermos em conta que a esmagadora maioria dos seus atletas jogam no país de origem. Os adversários estão, em teoria, noutro nível. Num grupo com Rússia, Egito e Uruguai, a exigência será certamente outra. Por isso, ainda que os amigáveis sejam um bom começo, jogar numa liga mais competitiva, como é o caso da espanhola, trará melhor resultados.
É que a situação da Arábia Saudita é particular. Enquanto a maioria dos jogadores de classe mundial que vão estar presentes na Rússia jogam nas cinco principais ligas europeias (Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e França), a esmagadora maioria dos jogadores internacionais joga na liga nacional.
Mike Newell, que fez parte do plantel do Blackburn que ganhou a Premier League em 1995, é hoje Diretor Desportivo do Al-Shabab FC, equipa saudita de Riade que ocupa atualmente o 5º posto do campeonato e que emprestou Abdullah al-Hamdan — o tal jogador que o Gijón se equivocou no nome.
“Há aqui alguns bons jogadores e será uma grande experiência para eles. [Mas] vai ser um grande choque para eles, em vários aspectos, visto que os jogadores sauditas normalmente não vão para o estrangeiro. Mas, caso apenas um deles seja um sucesso, vai ser algo enorme para o futebol saudita”, revelou ao Observer.
O The Guardian diz que toda esta situação é um grande “mas”, visto que o salto da Premier League Saudita para a Liga Espanhola é um daqueles grandes. No entanto, o homem que engendrou as mudanças destes jogadores, Turki al-Alshaikh, responsável pela Autoridade Geral do Desporto da Arábia Saudita, quer que os jogadores “aprendam o que é ser verdadeiros profissionais, ganhem experiência e representem a nação no estrangeiro”. E acrescentou ainda: “Tenho uma fé inabalável na habilidade dos nossos jogadores. É nosso dever, de todos nós, de os apoiarmos nesta experiência, que será o começo de muitas transferências para a Europa”, rematou.
As condições são simples: os clubes espanhóis recebem os jogadores sem qualquer encargo para o que resta da época, sendo que os seus ordenados ficam a cargo da federação saudita, para além de ficarem com respetivos dividendos duns chorudos patrocínios. E os treinadores não têm nenhuma obrigação de os utilizar.
De acordo com o The Guardian, apesar das críticas sobre o modelo — um oficial saudita diz que os jogadores simplesmente não vão ter tempo de jogo nenhum e que esta não é a maneira correta de exportar o talento nacional — a Liga Espanhola está receptiva a esta iniciativa, visto que pode aumentar a sua popularidade no Médio Oriente. No entanto, é preciso esperar para ver como é que as equipas vão receber os jogadores e se os seus adeptos aceitam bem este modelo. Sem esquecer que os seguidores dos próprios craques sauditas podem resfriar os ânimos localmente, tendo em conta que os melhores ativos estão fora de portas e não jogam. Mas isso é algo que só o futuro prever.
A Arábia Saudita conquistou um lugar no Mundial de 2018, que a Rússia acolhe de 14 de junho a 15 de julho, ao ser segunda classificada do Grupo B da terceira fase da zona asiática de qualificação, atrás do Japão. E investiu num novo treinador, em novembro do ano passado, para arrancar o melhor resultado possível: o argentino Juan Antonio Pizzi.
O ex-futebolista internacional espanhol, de 49 anos, que representou o FC Porto na época 2000/2001, assinou em Tóquio o contrato que o liga à federação saudita. Antes disso, tinha orientado a seleção chilena nos últimos dois anos, tendo conquistado a Copa América em 2016, mas falhou o apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo.
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