Um bom treinador faz boas equipas com bons jogadores, um grande treinador eleva os seus jogadores para outro nível. Marinho sempre foi um jogador muito esforçado, veloz, com bom remate e capaz de causar tumultos na defesa adversária a partir da ponta. Mas nunca foi um jogador muito inteligente. Tentava muito e acertava, mas errava muito também. Desde que foi treinado pelo argentino, Marinho passou a ser muito mais efetivo. 

"Sampaoli me ensinou a jogar futebol. Antes eu acho que só corria. Evoluí diariamente como atleta", disse Marinho em entrevista à SporTv brasileira.

Marinho toma agora melhores decisões, não se desgasta tanto e, por isso, está a fazer a sua melhor temporada. Participou em 66% dos golos do Santos no Brasileirão. Liderou ou lidera o campeonato em estatísticas importantes como assistências, participação em golos, duelos ganhos e faltas sofridas. Nesta temporada, ele já balançou as redes 12 vezes, 50% a mais do que no ano passado, com nove partidas a menos.

Nesta última semana, Tite teve, inclusive, que responder a perguntas sobre o facto de não ter sido convocado para a seleção brasileira.

"Nós temos pontas [extremos] como o Cebolinha, que foi o melhor atacante da Copa América, a gente tem Neymar, tinha Gabriel Jesus, tem Everton Ribeiro que é um jogador da flutuação. É uma questão muito mais da concorrência que tem nesses setores", respondeu em entrevista à ESPN.

Mas Marinho já foi taxado de jogador de equipa pequena e visto como uma piada entre os adeptos. Ficou famoso, em cenário nacional, após uma entrevista extremamente sincera ao sair de campo numa vitória do Ceará em 2015, o seu clube na época, a militar na Série B, a segunda divisão brasileira. Autor do golo da vitória, recebeu um cartão amarelo pela comemoração. Ao ser questionado sobre a suspensão pelo terceiro amarelo, Marinho, espontaneamente como sempre, respondeu: "Que merd*... sabia não". A entrevista viralizou.

Marinho já esqueceu que já marcou golo após bater a cabeça em campo, já comemorou golo imitando o árbitro e o VAR, já falou que o seu remate foi um "minimíssil aleatório"... uma fábrica de memes no futebol brasileiro. Ganhou o carinho do adepto, mas não o reconhecimento pelo seu futebol. Até agora.

Formado no Fluminense, rodou por equipas de média e pequena dimensão até ficar famoso. Teve uma oportunidade no Cruzeiro, com bons momentos, mas não se afirmou. Foi para o Vitória e fez um campeonato primoroso. Cobiçado por grandes clubes, resolveu ganhar dinheiro na China. Voltou ao Grêmio, com passagem apagada, e no Santos reencontrou o bom futebol.

Num plantel cheio de jovens, Marinho é o líder técnico da equipa. Decidiu que em 2020 não vai virar meme e quer brilhar com seus golos. Mais calado e contido fora de campo, brilha a cada jornada do Brasileirão e faz o Santos pontuar mais do que previam os especialistas. 

Marinho é a prova daquilo que um grande treinador pode fazer com quem tem talento e vontade de evoluir. Pode ter demorado a perceber que precisava de mais. Pode não ter tido a sorte de encontrar Sampaoli antes. Mas aos 30 anos Marinho é, definitivamente, um dos melhores do Brasil. E a sua espontaneidade aproxima-o do adepto. O futebol também é isso. Marinho tem carisma de sobra. Bom para o futebol brasileiro.