Hoje, 5 de agosto, cerca das 24h00 (20h00 no Rio de Janeiro) começam os XXXI Jogos Olímpicos de Verão da Era Moderna. Ao longo de quase quatro horas aguarda-se a proclamação, em pleno Estádio Maracanã, em inglês, francês e em bom português, da frase "declaro abertos os Jogos Olímpicos...". Dez segundos de fama para Michel Temer, presidente interino, a que se seguem muitos mais segundos de uma música para "abafar" assobios, numa cerimónia em que tudo aponta para que seja o tenista Gustavo Kuerten a entrar com a chama olímpica. Sobre quem acende a Pira, nada se sabe. Sabe-se que haverá uma na Igreja da Candelária. Pelo meio, com direção criativa de Daniela Thomas, Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") e Andrucha Waddington, coreografado por Steve Boyd, americano que conta com treze eventos olímpicos, com orçamento mais de dez vezes inferior a Londres 2012, há dança, música, luzes, fogo de artifício, os esperados "uaus" de espanto, história e celebridades.
E aqui entram figurões e grandes nomes do MPB, entram Gilberto Gil e Caetano Veloso, novas vozes, do rap e hip hop, MC Soffia (12 anos que "arrasam" nas redes sociais) e Karol Conka, desfilará a top model Gisele Bündchen ao som de "A garota de Ipanema", entre olhares indiscretos e olhos regalados, Lea T, brasileira transexual, a primeira do género a fazê-lo numas olimpíadas. O desfile das delegações começa com a Grécia, e em seguida os países entram por ordem alfabética. No P de Portugal, desfilam 92 atletas liderados pelo porta-estandarte velejador João Rodrigues, com sete participações nestas andanças, o "país" dos refugiados é o penúltimo, e na sequência o Brasil entra com a promessa de delírio total dos presentes.
Hoje o Rio de Janeiro é e continua lindo. Hoje é feriado na cidade maravilhosa. E começam as Olimpíadas. E cariocas e brasileiros, como uma espécie de bipolaridade, esquecem tudo o que antecedeu recentemente num país sem tradição olímpica mas que cujos anos mais recentes levou a cabo esforços e investimentos olímpicos para pôr de pé um Mundial, em 2014, e agora, dois anos depois, os JO Rio 2016.
A partir da meia-noite espera-se que o Estádio Mário Rodrigues Filho, vulgo Maracanã, se transforme numa enorme pista de dança e convívio entre nações. Mas se rebobinarmos, a música foi, até hoje, outra. Zika. Dilma. Impeachment. E Lava-Jato. Quatro palavras que atingiram elevados índices de "popularidade" no Google quando se procura por Brasil. Se juntarmos as últimas três obtemos uma frase que resume quase tudo de que se falou e ainda se fala de e no Brasil, de Brasília à Cidade Maravilhosa. É assim: a operação Lava-Jato, a maior investigação levada a cabo pela Policia Federal brasileira, mega-escândalo de corrupção, originou um processo de impeachment que levou à destituição de Dilma Roussef, a presidente do Brasil, entretanto substituída por Michel Temer, presidente interino. Uma "tempestade perfeita", vendaval político que só encontra paralelo com o da Ditadura Militar de 1985, misturado com uma recessão económica quase sem precedentes.
Ou seja, dos JO do Rio de Janeiro propriamente ditos só se falou dos atrasos em relação à construção de infraestruturas, a (ausência de) despoluição da baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, do doping de atletas russos, dos perigos do vírus, a quarta palavra, a Zika, que preocupa autoridades sanitárias e organizações desportivas, atletas, ao ponto de alguns de renome, em especial no golfe, não terem embarcado para o Brasil, e que afastou igualmente turistas e, finalmente, das questões de segurança.
E por falar em segurança, ao todo 85.000 mil profissionais, divididos entre agentes, forças de segurança pública e soldados que terão à sua guarda os 10.500 atletas em representação de 206 países. 17 dias na luta por 306 provas com medalhas, sendo que 161 são provas masculinas, 136 femininas e 9 são mistas. 42 desportos, sendo que há duas novidades: o golfe e o râguebi.
Portugal , com 92 atletas representando 16 modalidades, terá José Garcia, ex-canoísta, como Chefe de missão de Portugal. Há atletas medalhados (Nelson Évora), repetentes (Telma Monteiro), naturalizados (Tamila Holub, nadadora nascida na Ucrânia e a mais jovem atleta lusa presente) e muitas esperanças face às mais recentes conquistas em diversas modalidades, seja na Canoagem (Fernando Pimenta), Ciclismo (Rui Costa), no Taekwondo (Rui Bragança), no Ténis de Mesa (equipa), no Atletismo (Patrícia Mamona e Sara Moreira), no Judo (Telma Monteiro) e no Futebol, seleção sub-23 que regressa ao palco olímpico depois Atenas 2004. A correr por fora estará a ginástica de trampolins (Ana Rente) ou tiro (João Costa).
O Navio Escola Sagres (NRP Sagres), embaixada nacional itinerante durante o maior acontecimento desportivo a nível mundial e que será a primeira edição de sempre de uns Jogos Olímpicos numa nação de língua oficial portuguesa, dará assistência a toda a comitiva hospedada na Aldeia Olímpica que, segundo números do Comité Olímpico Português (COP), rondará as 180 pessoas, entre atletas, treinadores, "staff" COP, equipa médica e fisioterapeutas, chefes de equipa por modalidade, 45 profissionais de media de 19 órgãos de comunicação social e o departamento de comunicação do COP (duas pessoas).
Medalhas? Ouro? Prata? Bronze? Essa é sempre a pergunta demasiado cara para ser feita e à qual ninguém avança com números. Favoritos? À partida, remo, judo, ténis de mesa, atletismo.... À saída das Terras de Vera Cruz, quando a popa do Navio Escola Sagres apontar ao Cristo Redentor, esperemos que, no Torna Viagem, traga o porão carregado de metal precioso e que rume aos jardins do Palácio de Belém, onde à sua espera estará Marcelo Rebelo de Sousa. Aguardaremos então pelo desenlace de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016. E pela cerimónia ainda no segredo dos Deuses. Para ser vista por 3.5 mil milhões de pessoas em todo o mundo.
Comentários