Segundo o Correio da Manhã, que avançou com a notícia, Paulo Gonçalves foi detido por alegadamente, em nome da SAD do clube das águias, ter subornado três funcionários judiciais para ter acesso a informações processuais sobre o caso dos emails, alegadamente, com recurso a oferta a prendas que envolviam bilhetes para lugares cativos no estádio da Luz ou até peças de merchandising do clube encarnado. De acordo com o Observador, tais prendas terão um valor financeiro fora do alcance do poder de compra daqueles funcionários públicos. Estes funcionários de vários organismos da justiça já estão identificados.

Recorda ainda o Observador um e-mail relativo ao dia 27 de março de 2017, em vésperas do SL Benfica-FC Porto que, alegadamente, serve um destes subornos e que foi divulgado por Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto. No e-mail assinado por Paulo Gonçalves e dirigido a Ana Zagalo, funcionária do Benfica, podia ler-se: "Para além dos bilhetes que requisitei, preciso dos seguintes convites: Nuno Cabral, 3; Ferreira Nunes, quatro; Júlio Loureiro, três (…)".

Em comunicado, a Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária confirmou duas detenções no âmbito da "operação e-toupeira" por "corrupção e violação de segredo de justiça".

"A Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e no âmbito de um inquérito que corre termos no DIAP de Lisboa, deteve dois homens pela presumível prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal", pode ler-se no comunicado, que não avança com o nome dos visados.

A operação, detalha a PJ, "envolveu cerca de 50 elementos da Polícia Judiciária, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público", e "foram realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios", acrescenta a nota. Acrescenta a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa que foram cumpridos seis mandados de buscas domiciliárias, um de busca a gabinete de advogado e 21 mandados de buscas não domiciliárias na presença de um juiz de instrução criminal, dois procuradores-adjuntos, inspetores da PJ e peritos informáticos.

Em causa nesta investigação, "iniciada há quase meio ano", está "o acesso ilegítimo a informação relativa a processos que correm termos nos tribunais ou Departamentos do Ministério Público a troco de eventuais contrapartidas ilícitas a funcionários", informa a PJ.

Na mesma linha, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa detalha na sua página na internet que o inquérito está relacionado com “a prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas ao assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens”. A PGDL não refere, porém, que a sociedade anónima desportiva é a SAD do Benfica.

Os dois detidos, que não são identificados nas informações prestadas pela PJ e pela PGDL, vão ser sujeitos a primeiro interrogatório judicial.

Benfica confirma buscas e reitera vontade de colaborar com as autoridades

"A Sport Lisboa e Benfica SAD confirma a realização de buscas às suas instalações no âmbito de um processo de investigação sobre eventual violação do segredo de justiça e reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade", pode ler-se no comunicado publicado no site oficial do cube da Luz.

Na mesma nota o SL Benfica "manifesta a sua confiança e convicção de que o Dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos".

O clube informa ainda que vai pedir "com carácter de urgência uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República, pelas reiteradas e constantes violações do segredo de justiça, sobre os processos que envolvem o clube, numa estratégia intencional e com procedimentos fáceis de serem investigados, como hoje foi claramente comprovado".

Segundo a SIC que Paulo Gonçalves foi detido na sua residência, em Santarém, e que a operação acontece na sequência de uma denúncia anónima que dava conta de que o clube estava a ter acesso a elementos do processo que estavam em segredo de justiça.

Segundo a estação de televisão e a revista Sábado, além de Paulo Gonçalves foi detido um técnico informático do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça com acesso ao sistema informático Portal Citius.

O técnico e outros funcionários judiciais, suspeitos na investigação, recolheriam informação diretamente do sistema, a qual chegaria depois a Paulo Gonçalves.

Paulo Gonçalves foi constituído arguido no caso dos emails em 19 de outubro. Neste processo foram já constituídos outros três arguidos, avança a SIC, nomeadamente dois funcionários judiciais dos tribunais de Guimarães e Fafe e um agente de futebol, tendo a estação de televisão nomeado Óscar Cruz.

Em outubro de 2017, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) confirmou a investigação a um suspeito pelos crimes de corrupção passiva e ativa, por parte da nona secção do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, no referido caso dos emails do Benfica.

Esta investigação levou, em 19 de outubro último, a buscas nas instalações do Benfica, na sequência de denuncias do diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, que acusou os ‘encarnados’ de influenciarem o setor da arbitragem e apresentou alegadas mensagens de correio eletrónico de responsáveis ‘encarnados’, nomeadamente de Paulo Gonçalves e Luís Filipe Vieira.

Entre outras situações, o responsável dos ‘dragões’ revelou também a alegada partilha de mensagens de telemóvel do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, na altura em que presidiu à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), entre o diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra, e o ex-presidente da Assembleia-Geral da LPFP Carlos Deus Pereira.

O Ministério Público (MP) juntou os inquéritos dos ‘vouchers’ e dos ‘emails’ do Benfica num só processo, mantendo-se as investigações em segredo de justiça.

O caso dos ‘vouchers’ decorre de declarações do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, em 05 de outubro de 2015, num programa televisivo da TVI, sobre ofertas do Benfica a equipas de arbitragem em todos os jogos que poderiam atingir um valor global por época a rondar os 250 mil euros. Posteriormente, em 27 de janeiro de 2017, no âmbito da justiça desportiva, a Comissão de Instrutores (CI) da LPFP decidiu arquivar este processo.

No passado dia 21 de fevereiro, o Tribunal da Relação do Porto deu razão ao Benfica, proibindo os dragões de continuar a divulgar e-mails dos encarnados. Perante esta decisão, os dragões, mais especificamente o diretor de comunicação, Francisco J. Marques, deixaram de poder continuar a revelar os emails alegadamente comprometedores das águias no canal do clube da Invicta.

O clube liderado por Luís Filipe Vieira avançou com uma providência cautelar alegando que estes e-mails contém informação confidencial e que a sua divulgação prejudica o negócio, seja porque revela informação sigilosa, seja porque tem um impacto negativo nos adeptos, e, logo, na assistência aos jogos, o que pode prejudicar as receitas do clube.

A primeira decisão, proferida pelo Tribunal Cível do Porto, considerou que a revelação dos e-mails não constituía "concorrência ilegal", como começou por alegar o clube da Luz.