Ouvido na qualidade de testemunha e por videoconferência, Coentrão admitiu que, sem ajudas, "não tinha passado" no exame, já que só saberia responder a metade das perguntas.
O futebolista explicou que tinha ficado sem carta e que na altura estava a iniciar a sua carreira no Real Madrid, pelo que seria "muito difícil" obter nova carta, tanto em Espanha, pelas dificuldades de língua, como em Portugal, por impossibilidade de deslocação devido aos treinos diários.
Disse que "muita gente falava" que uma escola em Prado, Vila Verde, "facilitava" a vida aos alunos a troco de contrapartidas financeiras, e que recorreu a ela, até porque o Real Madrid já o estaria a "pressionar muito" para tirar a carta.
Explicou que um dos examinadores lhe dava as respostas do exame teórico através de gestos com os dedos.
Fábio Coentrão chegou a ser arguido, mas entretanto o Ministério Público (MP) optou pela suspensão provisória do processo, a troco do pagamento de 3.000 euros ao Banco Alimentar Contra a Fome de Braga.
As declarações do futebolista foram feitas durante o julgamento de um megaprocesso de corrupção com cartas de condução, referente a exames feitos no Centro de Exames de Vila Verde da Associação Nacional dos Industriais de Ensino de Condução Automóvel (ANIECA).
O processo conta com 47 arguidos, entre os quais examinadores, industriais de condução, instrutores e um agente da GNR.
O principal arguido é um examinador daquele centro, classificado pelo MP como o "interlocutor privilegiado" nos episódios de corrupção, "por ser o mais velho" e o que ali exercia funções há mais tempo.
Este arguido é acusado de 35 crimes de corrupção passiva para ato ilícito.
O objetivo era que os alunos fossem auxiliados pelos examinadores, a troco de quantias monetárias que, em média, variavam de 1.000 a 1.500 euros, no caso dos exames teóricos, e de 100 a 150 euros nos práticos.
A acusação diz que, com este esquema, cinco examinadores conseguiram arrecadar 1,1 milhões de euros, dinheiro que o MP quer que seja declarado perdido a favor do Estado.
O processo envolve escolas de Vila Verde, Barcelos, Ponte de Lima, Vizela, Guimarães, sendo que os factos terão decorrido entre 2008 e 2013.
Na investigação, desenvolvida durante anos pela Polícia Judiciária, também foram "apanhados" vários alunos, mas em relação a estes o MP optou pela suspensão provisória do processo.
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