O holandês Max Verstappen (Red Bull) e o britânico Lewis Hamilton (Mercedes) disputaram - até mesmo ao fim - quem seria o campeão mundial de Fórmula 1 de 2021, na última corrida da temporada, que decorreu em Abu Dhabi. Foi um final  de grande emoção, decidido na última volta, em que Max Verstappen se adiantou a Hamilton e cruzou a meta em primeiro lugar.

Lewis e Verstappen chegam à 22.ª prova empatados, com 369,5 pontos, sendo que Verstappen tinha vantagem confronto direto (nove vitórias, contra as oito de Hamilton). Partiu na frente para a corrida, depois de ter conquistado a ‘pole’, no sábado, e chegou na frente quando cortou a reta na última volta à pista.

Para Max Verstappen estava em jogo o primeiro triunfo da sua carreira, enquanto para Lewis Hamilton se tratava de arrebatar um inédito oitavo título mundial de pilotos, deixando para trás os sete conquistados pelo alemão Michael Schumacher.

O piloto da Red Bull venceu sua 10ª corrida nesta temporada e terminou o Mundial à frente do heptacampeão mundial Hamilton. O título dos construtores ficou com a Mercedes e o terceiro lugar no pódio neste domingo no circuito de Yas Marino foi ocupado pelo espanhol da Ferrari, Carlos Sainz.

A corrida e o Mundial foram decididos com o suspense a manter-se até ao final, numa prova a que os dois rivais chegaram empatados. Nestas condições, a equação era simples: o piloto que obtivesse uma melhor posição na última prova conquistaria o título.

O favoritismo esteve até ao fim com Lewis Hamilton, que saiu melhor na prova e liderou a maior parte da corrida. Mas um 'safety car' quando faltavam cinco voltas para o fim mudou o destino: Verstappen trocou os pneus, Hamilton não. Ao retomar a corrida, o holandês ultrapassou o adversário na última volta.

A AlphaTauri do japonês Yuki Tsunoda e o francês Pierre Gasly completaram o Top 5.

Também pontuaram o finlandês Valtteri Bottas (Mercedes), o britânico Lando Norris (McLaren), o espanhol Fernando Alonso (Alpino), o francês Esteban Ocon (Alpino) e o monegasco Charles Leclerc (Ferrari).

O finlandês Kimi Räikkönen (Alfa Romeo) disse adeus à F1 saindo no meio da prova devido a um problema mecânico.  Aos 42 anos, aposentou-se das pistas após 19 temporadas na elite e um título mundial com a Ferrari em 2007.

Max Verstappen
Red Bull's Dutch driver Max Verstappen arrives on the grid of the Yas Marina Circuit before the start of the Abu Dhabi Formula One Grand Prix on December 12, 2021. (Photo by ANDREJ ISAKOVIC / AFP) créditos: AFP or licensors

Max Verstappen, uma estrela (e máquina de fazer dinheiro) na Holanda

"Nunca vi um atleta de um desporto individual tão popular no nosso país", diz Erik van Haren, que faz a cobertura da Fórmula 1 para o jornal De Telegraaf. "Antes dele, (a F1) era o terceiro desporto [mais popular], depois do futebol e da patinagem de velocidade. Agora é o segundo, muito próximo do futebol", afirma Joe van Burik, jornalista desportivo holandês especializado em desportos motorizados.

Desde 1950, uma dezena de pilotos holandeses chegaram à Fórmula 1, mas nenhum havia subido ao pódio antes de Jos Verstappen, pai de Max, em duas ocasiões, em 1994. E claro, nenhum ganhou uma corrida antes de um Max muito jovem fazê-lo, pela primeira vez, em 2016.

Foi na época de 'Jos the Boss' que a Holanda começou a interessar-se pela principal categoria do automobilismo. Para Van Burik, foi o "efeito Verstappen 1.0".

"Foi graças ao meu pai que os fãs começaram a acompanhar-me", considera também o agora piloto da Red Bull, entrevistado pela AFP em 2019. "Acompanharam-no a ele e depois, eles mesmos ou os seus filhos, começaram automaticamente a interessar-se por mim".

"Eu deveria ter à época o maior fã-clube [de F1]", diz Jos ao podcast da Fórmula 1. "Houve grande interesse dos media, mas nada comparável ao que acontece com Max", assume.

O seu pedigree e seu currículo contribuem para isso, mas não são a única coisa. O seu aparecimento coincide com um período muito difícil para a seleção de futebol e a sua "personalidade franca e direta, típica dos holandeses", também explica essa popularidade, segundo Arjan Schouten, jornalista do diário Algemeen Dagblad.

Difícil, de facto, é não ver os seus fãs nos circuitos em todas as corridas, vestidos de laranja e particularmente barulhentos. Algo que se repete em todos os Grandes Prémios. "Os demais pilotos às vezes dizem-me que a quantidade de holandeses que chegam é uma loucura", diz Max, sorrindo.

É preciso reconhecer que têm uma vantagem: a agência de viagens 'Max Verstappen Official Travel', que lhes permite apoiar numa arquibancada reservada em várias corridas por ano, quando no caso da maioria dos seus rivais isso só acontece quando correm em casa.

A marca Verstappen é particularmente bem administrada pelo seu circuito pessoal, começando pelo seu pai e pelo seu agente, Raymond Vermeulen.

Um pouco como piada, mas também um sinal de seu faro para os negócios, o jovem de 24 anos avisou que no próximo ano vai competir com o nº 1, que distingue o campeão mundial, em vez do seu habitual nº 33, ao contrário de seu rival Lewis Hamilton, que manteve o 44, apesar de ter sido campeão nos últimos anos.

Uma família nas corridas

"A família inteira viveu para as corridas, então acho que a pessoa que Max é e o que ele conquista neste momento é algo natural", disse à AFP seu empresário Raymond Vermeulen que já estava associado ao pai, Jos Verstappen, que disputou 107 corridas entre 1994 e 2003, com dois pódios no primeiro ano.

A mãe, Sophie Kumpen, era parceira de outro campeão mundial de Fórmula 1, Jenson Button, no karting. A belga era "uma piloto fantástica, muito rápida", lembrou o britânico no podcast da F1.

Nada surpreendente porque Max - sempre à frente da sua idade, segundo o empresário - se tornou o mais jovem piloto num Grande Prémio, em 2015, aos 17 anos, 5 meses e 15 dias, vestindo as cores da Toro Rosso.

Em seguida, foi o mais jovem vencedor, no Grande Prémio da Espanha em 2016, aos 18 anos, 7 meses e 15 dias, na sua primeira temporada com a Red Bull.

Os registros iniciais não param por aí. Ao ser coroado neste domingo, o holandês, nascido na Bélgica em 30 de setembro de 1997 e residente de longa data em Mónaco, tornou-se apenas o quarto campeão mais jovem, aos 24 anos, 2 meses e 12 dias, atrás de Sebastien Vettel, Lewis Hamilton e Fernando Alonso.

Mad Max

Insolente no início, o impetuoso Max aprendeu a domar o temperamento na pista, mostrando desde o ano passado uma maior capacidade de reflexão e simpatia.  Longe daquela versão que colidiu inutilmente com Esteban Ocon no Grande Prémio do Brasil 2018, antes de empurrar o francês diante das câmaras, ou ameaçar os media quando lhe perguntavam sobre seus erros no Canadá naquele mesmo ano.

Continua a ser um piloto que não deixa nada para trás, como pode ser visto nas suas batalhas com Hamilton neste ano; na Grã-Bretanha, Itália e no Brasil.

Mais uma vez, vem de família: o pai, Jos, nunca foi o homem mais simpático do 'paddock'.

Mas, agora, 'Mad Max' é o líder indiscutível de uma equipa ambiciosa como a Red Bull.  "Ele simplesmente ganhou em maturidade. Tem mais experiência na Fórmula 1 e na vida, está muito confortável, está bem na equipa, com confiança e é isso que ele sente", disse o líder da equipa, Christian Horner no ano passado.

Uma maturidade que se traduziu em resultados, com dois terceiros lugares, em 2019 e 2020, o melhor resultado possível atrás da intocável Mercedes, mas que não significa que tenha mudado de estilo. Por exemplo, quando questionado sobre qual foi a sua melhor compra, respondeu: "A minha namorada", referindo-se a Kelly Piquet (filha do tricampeão mundial de F1 Nelson Piquet), com quem aparece frequentemente nas redes sociais.

Lewis Hamilton
Mercedes' British driver Lewis Hamilton wipes his face in the Parc Ferme of the Yas Marina Circuit after the qualifying session of the Abu Dhabi Formula One Grand Prix on December 11, 2021. (Photo by KAMRAN JEBREILI / POOL / AFP) créditos: AFP or licensors

A marca Hamilton: de "showman" a "empreendedor social"

É oitavo atleta mais bem pago do mundo em 2021. Segundo a revista Forbes, o britânico ganhará 62 milhões de dólares só pelas suas atividades desportivas, com um salário fixo de 55 milhões.

A fortuna do heptacampeão mundial, na F1 desde 2007, é avaliada em 339 milhões de dólares, tornando o piloto da Mercedes o desportista mais rico da história do Reino Unido, de acordo com o Sunday Times e o  o mais bem pago na Fórmula 1, à frente de Max Verstappen, que tem um contrato estimado de 25 milhões de dólares, mais 17 milhões em bonificações.

Além dos patrocinadores ligados à sua equipa (Petronas, Ineos, IWC, Epson... ), Hamilton emprestou a sua imagem à marca de som Bose, à L'Oréal, Sony, Vodafone e Puma.

O piloto co-projetou dois modelos para a marca de motociclos MV Agusta, criou uma bebida energética para Monster Energy e coleções para Tommy Hilfiger e Police.

Para administrar os seus negócios, tem sua própria empresa, a "Project Forty Four" (Projeto 44, o seu número nas corridas).

"Ele é um grande "showman", o que é ideal para a F1. Todos os patrocinadores adoram isso", explicou o ex-piloto francês Jean Alesi em 2017, na sua primeira incursão no Top 10 da Forbes dos atletas mais bem pagos.

Ele é o "único piloto a ultrapassar o âmbito do seu desporto" desde Michael Schumacher, disse então Hervé Bodinier, ex-vice-diretor administrativo da Lagardère Plus, uma agência de consultoria voltada para marcas.

Amigo ou conhecido de muitas celebridades, assíduo em desfiles de moda e noites de espetáculo, Hamilton gosta de fazer incursões no mundo dos sucessos de bilheteira ("Cars", "Zoolander 2") e videojogos ("Call of Duty"). Um filme sobre a F1 estará também em preparação, com a participação de Brad Pitt.

Muito popular nas redes sociais, Hamilton tem 25,6 milhões de seguidores no Instagram, 6,8 milhões no Twitter e 5,9 no Facebook (contra 6,5, 2,2 e 2 para Verstappen).

Condecorado no final de 2020, Sir Lewis agora usa esse público para comunicar questões sociais (ecologia, causa animal, veganismo, racismo e diversidade).

Uma vez que o piloto, que fará 37 anos em janeiro, não se vê necessariamente a continuar nas pistas depois dos 40, Chadwick antecipa que Hamilton está a preparar o seu futuro: "Não acho que as suas posições sobre causas sociais sejam inteiramente anódinas".

Os campeões nos últimos anos da F1

É esta a lista dos últimos dez pilotos e construtores campeões mundiais de Fórmula 1.

Pilotos:

2021: Max Verstappen (HOL/Red Bull)

2020: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2019: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2018: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2017: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2016: Nico Rosberg (GER/Mercedes)

2015: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2014: Lewis Hamilton (GBR/Mercedes)

2013: Sebastian Vettel (GER/Red Bull-Renault)

2012: Sebastian Vettel (GER/Red Bull-Renault)

Construtores:

2021: Mercedes (Lewis Hamilton e Valtteri Bottas)

2020: Mercedes (Lewis Hamilton e Valtteri Bottas)

2019: Mercedes (Lewis Hamilton e Valtteri Bottas)

2018: Mercedes (Lewis Hamilton e Valtteri Bottas)

2017: Mercedes (Lewis Hamilton e Valtteri Bottas)

2016: Mercedes (Lewis Hamilton e Nico Rosberg)

2015: Mercedes (Lewis Hamilton e Nico Rosberg)

2014: Mercedes (Lewis Hamilton e Nico Rosberg)

2013: Red Bull (Sebastian Vettel e Mark Webber)

2012: Red Bull (Sebastian Vettel e Mark Webber)