Não é o mais amado dos jogadores do SL Benfica, provavelmente muito por culpa dos quatro golos marcados no campeonato na época passada, três deles nas três primeiras jornadas – Haris Seferovic prometeu muito no início da época transata e quando não cumpriu as expetativas que recaíram sobre ele (ainda assim, apontou 7 golos em 29 jogos na temporada passada, em todas as competições), os adeptos sentiram-se “traídos”.
Pois bem, depois do jogo de hoje, essa “traição” parece ter sido perdoada.
Mas já lá vamos. Primeiro, o jogo. Um jogo que na primeira parte conseguiu “adormecer” o mais indefetível e entusiasmado dos adeptos. Como referiu o GoalPoint no seu acompanhamento twitteriano, aos 35 minutos o número de cartões amarelos era três vezes superior ao número de remates enquadrados com a baliza.
É verdade que a primeira parte teve um um falhanço de Seferovic na cara de Casillas (ainda que o lance fosse anulado por fora de jogo do suíço) e um amarelo para o guarda-redes espanhol aos 18 (!) minutos por demora na reposição da bola em jogo. Mas foi basicamente “isso”. As equipas não conseguiam libertar-se uma da outra, os lances de perigo rarearam e fomos para intervalo com um nulo mais do que justificado (infelizmente para o espetáculo...)
Esperava-se que a segunda parte não fosse “mais do mesmo” e adivinhava-se que um golo poderia trazer emoção ao jogo. E foi o que aconteceu. Depois de uma jogada benfiquista (precedida de fora de jogo, contudo) em que Gabriel proporciona a defesa da noite a Casillas, Haris Seferovic apareceu na cara do guardião portista e abriu o marcador. A jogada começa em Gabriel, que faz um passe em profundidade para Pizzi, ao que este responde com um cabeceamento com conta, peso e medida para o avançado suíço, que de pé direito inaugurou o marcador.
A reconciliação de Seferovic com os adeptos benfiquistas estava finalmente consumada. É verdade que os golos ao Nacional da Madeira e ao AEK tinham ajudado. Mas marcar ao FC Porto é diferente. E marcar ao FC Porto, dando a vitória (quatro anos depois da última) e a liderança aos encarnados, vale ainda mais.
Até ao final da partida, o FC Porto procurou carregar, criando perigo acima de tudo através de lances de bola parada. Danilo, por duas vezes (uma no último lance do encontro), esteve muito perto de marcar e empatar a partida, num jogo que não terminou com 11 jogadores para cada lado. Lema, central argentino que substituiu o lesionado Jardel, o castigado Conti e o retirado Luisão, foi expulso aos 82 minutos, naquele que foi o terceiro jogo consecutivo que os encarnados terminaram com 10 jogadores (curiosamente, as três expulsões foram de defesas-centrais: Conti contra o Desportivo de Chaves, Rúben Dias contra o AEK e agora Lema, no Clássico frente ao FC Porto).
Destaque ainda para os dois treinadores. Primeiro, para Rui Vitória, que ao 20.º jogo frente ao FC Porto consegue a sua primeira vitória. Depois, para Sérgio Conceição, que na flash interview teve uma declaração cada vez mais rara no futebol de hoje em dia: “Não foi pelo árbitro que perdemos o jogo”, referiu o treinador dos dragões, depois de dar os parabéns a Fábio Veríssimo por uma arbitragem num jogo que é tradicionalmente difícil.
Contas feitas, o SL Benfica cola-se ao SC Braga na frente do campeonato (ambos com 17 pontos), ultrapassa o FC Porto (15 pontos e já com o mesmo número de derrotas que em toda a temporada passada) e espera pelo resultado do Sporting CP em Portimão para saber se a diferença face ao 2.º classificado será de dois ou um ponto, no final da jornada.
O Clássico foi sonolento, mas o campeonato está animado.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
É verdade que o lance não contaria, uma vez que foi precedido de fora de jogo, mas o desperdício de Seferovic na cara de Casillas (após passe de Cervi que o deixou isolado) deve ter deixado os adeptos benfiquistas desesperados. O lance foi depois interrompido, mas que foi uma grande perdida do suíço, lá isso foi.
Seferovic, a vantagem de ter duas pernas
O canhoto suíço valeu-se do seu pé direito para dar a vitória ao Benfica no Clássico da Luz. É verdade que a assistência de Pizzi (bem como o passe que este recebe de Gabriel) é primorosa, mas não é menos verdade que foi o golo do suíço que acordou um jogo sonolento e que colocou as águias na liderança do campeonato, em igualdade pontual com o SC Braga.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Poderíamos mencionar a jogada de entendimento do ataque do Benfica que termina num remate de Gabriel para boa defesa de Casillas, naquele que foi o lance mais perigoso da partida até ao golo. Poderíamos mencionar a jogada do tento benfiquista, em que a primorosa assistência de cabeça de Pizzi para Seferovic vale meio golo. Mas que dizer desta receção de calcanhar de Rui Vitória? “É disto que o meu povo gosta”, como dizia Jorge Perestrello.
Nem com dois pulmões chegava à bola
Perto do intervalo, Otávio chegou a ter mais faltas que toda a equipa do Benfica. Mais: o brasileiro cometeu 7 faltas nos 52 minutos que esteve em campo (!). De facto, não foi o jogo mais feliz do brasileiro, que para além do número de faltas que cometeu nunca conseguiu pegar no jogo e criar perigo no ataque azul-e-branco.
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