O Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, território de concursos hípicos desde 1937, ganha nova vida de hoje, 22, até 31 de maio. Nos próximos dois meses, mudará de personagens principais e de objeto de ação no cenário.

O relvado pisado pela elite do hipismo mundial, onde desfila o Cavalo Lusitano e se escuta Jazz, está transformado num tapete verde pronto a receber 30 cavalheiros (15x15) de olhos fixos numa bola oval e envoltos numa luta leal entre placagens, ensaios, formações ordenadas (mêlée) e espontâneas (rucks), alinhamentos (touches), mauls e disputas no solo ao longo de 80 minutos.

A infraestrutura municipal será a “casa de visitas” do Cascais Rugby nas cinco jornadas da fase final do campeonato nacional de râguebi Divisão de Honra, 10 jogos de todos contra todos de onde sairá o campeão da temporada 2024-2025.

O hipódromo, não é, contudo, um local estranho para o râguebi de Cascais. Trata-se, isso sim, de um regresso a uma casa onde o clube já foi feliz. Muito feliz.

Entre artes. Da vizinhança da Praça de Touros aos concursos equestres 

Ao longo dos 50 anos de existência, o Cascais Rugby mudou várias vezes de casa.

Conquistou 6 campeonatos, cinco dos quais no hipódromo, conforme confirmou Carlos Reis, antigo jogador e presidente.

O clube abriu o livro de títulos (1986/87) no Guilherme Salgado, campo pelado vizinho da antiga Praça de Touros, “casa” partilhada com o futebol, modalidade nascida em 1917, três anos depois da fundação do Dramático de Cascais.

Futebol e Cascais Rugby caminharam juntos no Guilherme Salgado. As duas bolas, oval e a redonda, reencontraram-se no Campo da Guia, piso sintético partilhado desde 2005. Pelo meio, o râguebi deu um salto até ao hipódromo da Quinta da Marinha.

“(A Guia) É partilhado entre o râguebi e o futebol e as duas modalidades, em especial a nossa, têm crescido em número de praticantes”, sublinhou Correa Sampaio. “Temos muita necessidade de ter campos alternativos”, acrescentou, vendo com bons olhos a abertura de portas no hipódromo.

Dos seis títulos nacionais, cinco deles consecutivos (1991/1992, 1992/93, 1993/94, 1994/95 e 1995/96) foram conquistados em terras outrora pertencentes ao Marquês dos Olivais. No hipódromo municipal, ergueram igualmente a primeira Taça Ibérica de Râguebi, em 1992, duelo que viriam a vencer mais duas vezes, nos dois anos seguintes.

“Já jogámos no hipódromo, na altura dos títulos dos anos 90”, recordou José Maria Corrêa Sampaio, presidente do Cascais Rugby, sessão criada em 1975 e um dos braços desportivos do centenário (1915) Grupo Dramático Sportivo de Cascais. “É um local que pode servir de inspiração”, disse ao SAPO24, numa referência clara à década dourada do emblema cascalense que celebra 50 anos de existência.

"Já tínhamos tido um protocolo de utilização do hipódromo, mas nunca nestas condições”, assumiu Corrêa de Sampaio. “O investimento por parte da Câmara Municipal de Cascais permitiu ter condições para fazer estes jogos da Divisão de Honra até ao final da época no hipódromo”, constatou, nas vésperas da receção ao CDUL (sábado, 22, 18h00), na jornada inaugural da fase final da Divisão de Honra.

“A nossa preocupação foi uma preocupação também da Câmara e a nossa atividade não colide, de maneira nenhuma, com a atividade hípica, e outras, portanto, iremos o utilizar o campo até 31 de maio”, asseverou o presidente do Cascais Rugby.

“No próximo ano, logo se vê, para já, é isto”, referiu ainda ao recuperar as memórias de meio século de vida, onde o clube saltitou de um terreno limítrofe da arena tauromáquica de Cascais e a área reservada aos saltos de obstáculos e ao bailado de dressage. “Estamos entre artes, entre outras artes”, comparou José Maria Corrêa Sampaio.

Reviver os anos 90

“Está combinado com o clube para que não seja um ato isolado e não fique por aqui”, garantiu Francisco Kreye, vereador do Desporto da CMC.

“Há intenção de continuidade”, prometeu. “Já estamos a trabalhar para projetar a próxima época desportiva para que o Cascais continue a utilizar o hipódromo, salvo ajustes que sejam necessários, havendo um outro evento de interesse municipal e que tenhamos que utilizar o hipódromo”, salvaguardou o responsável camarário.

“Na qualidade de vereador de desporto tem um grande simbolismo e uma grande importância que ali continue”, expressou Francisco Kreye, detalhando o mote por detrás da mudança de palco do râguebi para o hipódromo municipal.

Volvidos cerca de 30 anos da saída do hipódromo, “ainda sentíamos que continuava a haver um grande apelo por parte da população para, vou usar uma expressão inglesa, um revival daquela década que marcou as pessoas de Cascais”, consubstanciou.

Foi feito um “alisamento, terraplanagem e um redimensionamento das medidas mínimas exigidas”, em especial no “comprimento” e recebeu a homologação por parte da Federação Portuguesa de Râguebi para acolher os jogos da fase final.

“É uma obra que representa muito para a comunidade do râguebi e para Cascais”, sintetizou. “Recuperámos esta bandeira de algo que tem muito a ver com a identidade tão marcante e as tradições de Cascais”, concluiu o responsável do Desporto.