Em declarações à Lusa, o diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) realça a “oportunidade de ter receitas extraordinárias” com a venda dos direitos de transmissão no estrangeiro das 10 jornadas que faltam jogar-se, perante um público ávido de futebol após a paragem ditada pela pandemia de covid-19.
“É uma fatia que pode chegar às dezenas de milhões para estas 10 jornadas, o que numa altura destas para o futebol português é valiosíssimo”, resume.
A I Liga vai ser reatada sob fortes restrições e sem público nos estádios em 03 de junho, com o encontro entre Portimonense e Gil Vicente, naquele que vai ser o primeiro dos 90 jogos das últimas 10 jornadas, até 26 de julho.
Após 24 jornadas, o FC Porto lidera a competição, com 60 pontos, mais um do que o campeão Benfica, estando a postos para um regresso que, na Alemanha, aconteceu em 16 de maio, mas não vai acontecer em França, Escócia, Bélgica ou Países Baixos, cancelados, e só mais tarde em Itália, Espanha ou Inglaterra.
Daniel Sá considera que, no meio das dificuldades trazidas pela pausa competitiva, há um “filão que está a ser explorado”, no caso a transmissão, fruto de “algum prestígio da Liga portuguesa internacionalmente”, que poderá gerar “mais receitas e visibilidade” fora do país.
O especialista em marcas Carlos Coelho explica à Lusa que essa oportunidade existe porque “há uma grande sede de retoma de normalidade, e quem regressar primeiro tem benefícios com isso, quanto mais não seja pela escassez de oferta de outros”, sobretudo no panorama internacional.
Ainda assim, o criativo alerta para um momento em que a pandemia trouxe “uma certa desconsideração global daquilo que podem ser manifestações como o futebol”, nomeadamente devido às “polémicas, guerras” e outros problemas, como “a corrupção” e a violência.
“Uma coisa das marcas nos novos tempos é explicar o que trazem de bom à sociedade. Não vai chegar marcar golos”, afiança Carlos Coelho, que destaca a “importância agregadora dos clubes”.
Nesse contexto, adianta, é preciso que as marcas respondam a algumas perguntas: “Qual é a razão da sua existência, que valores têm, o que entregam à sociedade, porque é que aquelas pessoas [jogadores e equipa técnica] ganham tanto?”.
O especialista em marcas vê o lado negativo do futebol como algo que o transforma “numa cegueira, um circo” que o torna difícil de valorizar. “O grande desafio pós-pandémico é as marcas explicarem-nos o que estão cá a fazer”, acrescenta.
Apelando a que “o lado não desportivo do fenómeno” possa ficar para trás, e que Portugal seja “um exemplo” nessa questão, Carlos Coelho pede ainda que os clubes possam “ir buscar a nobreza à base” das suas fundações, para que possam afastar-se de “má gestão, corrupção, droga, máfia”, num espaço de “excecionalidade que em vez de lhe dar nobreza tem-lhe dado irresponsabilidade”.
Também o presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF), Artur Fernandes, deixa um apelo à união de toda a gente para “promover ao máximo e potenciar ao máximo o futebol português lá fora”.
O dirigente da ANAF não tem “a menor dúvida” que a tragédia mundial vai trazer consequências “desportivas e sobretudo financeiras” para o setor, especialmente porque “o mercado não vai ser como antes”.
“Vai ser um mercado diferente, mais baixo do ponto de vista do poder de compra, e isso vai refletir-se também nos clubes vendedores, que somos nós [enquanto campeonato]. Temos de estar preparados”, comenta à Lusa.
Artur Fernandes diz que com “menos dinheiro e menos receitas” dos principais campeonatos, tradicionalmente compradores noutras ligas, não vão aparecer negócios como nos últimos anos.
Por outro lado, mesmo que algum clube possa reparar em jogadores que “chamem à atenção” fruto da transmissão televisiva da I Liga em mais países, e antes de regressarem outros campeonatos, isso será uma “exceção”.
“Dos jogadores que estão referenciados, os clubes já têm a sua ficha completa. (...) Algumas ligas terminaram, e de alguma forma quem não é visto não é lembrado. Mas os clubes já têm os alvos definidos. Isso seria uma exceção, que pode acontecer”, refere.
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