"Fui eu que montei esta equipa do Al-Hilal. Será uma meia-final em que o Flamengo terá imensas dificuldades porque vai jogar contra uma grande equipa". As palavras são de Jorge Jesus, lembradas hoje no Diário de Notícias, que também recordou as declarações de JJ antes da Supertaça disputada em 2015, logo depois de assumir o comando técnico do Sporting: "O Benfica não mudou nada, zero. Vou jogar contra uma equipa com ideias minhas. O cérebro daquilo já não está lá, o treino não vai ser o mesmo, mas tudo aquilo continua", disse então o treinador português.
Jorge Jesus é assim. Nem sempre politicamente correto, é uma personagem ímpar nas últimas décadas do futebol nacional e talvez “sofra” daquela síndrome que afeta a maioria dos portugueses que emigra, principalmente no mundo do futebol: cá dentro, só é bom para aqueles que estão do seu lado, lá fora é bom para todos. Mas a verdade é que, de uma forma geral, somos todos um pouco assim, não é verdade? Se viajarmos para um país estrangeiro e ouvirmos alguém falar mal de Portugal, isso, regra geral, vai provocar-nos uma reação (mesmo que não seja exteriorizada).
E é por isso que, há cerca de um mês, todos os que são portugueses e gostam de futebol estavam a torcer pelo Flamengo na final da Libertadores (ganha dramaticamente em cima do apito final). E que todos celebrámos a dobradinha do Mengão, no dia seguinte à conquista continental. E que hoje estávamos ao lado de JJ na sua estreia no Mundial de Clubes frente ao Al-Hilal, gigante clube saudita de onde o treinador português saiu antes de ingressar no Flamengo.
Não sabemos se, tal como disse Carlos Alberto (brasileiro que é capitão dos sauditas, ex-FC Porto) na antevisão da partida, este Al-Hilal já “não tem quase nada da equipa de Jesus”. O que sabemos é que, na primeira parte teve a atitude "mandona" que o Flamengo de JJ tem apresentado em quase todas as suas partidas desta época.
É certo que a posse de bola pertenceu maioritariamente aos brasileiros, mas o perigo, esse, veio quase sempre do lado dos sauditas. Primeiro foi Gomis, que aos 15 minutos falhou de baliza aberta já depois de Salem Al-Dawsari ter rematado descaído pela esquerda, para grande defesa de Diego Alves. Depois, foi o próprio Al-Dawsari a efetivar a ameaça minutos antes: Giovinco soltou na direita, há cruzamento para o coração da área e o extremo saudita (que já passou pelo Villarreal, sem grande sucesso) apareceu solto para rematar de pé direito e abrir o marcador.
Estávamos nos 18 minutos da primeira parte e, até final, deste primeiro período, apenas Bruno Henrique esteve perto de empatar a partida, quando aos 25 minutos surgiu isolado pela esquerda mas um corte in extremis de um defensor saudita não deixou o avançado brasileiro fazer o 1-1.
Ora, não sabemos aquilo que Jesus disse ao intervalo aos seus jogadores - nem se foi parecido ao que lhes disse no intervalo da final da Copa Libertadores, em que o Flamengo também foi a perder por 1-0 no término do primeiro tempo. Mas é provável que lhes tenha relembrado de dezembro de 1981. Porquê? Porque foi há 38 anos que o Mengão disputou a final da então Taça Intercontinental (que entretanto se converteu no Mundial de Clubes) frente ao Liverpool, vencendo por 3-0.
O que sabemos, isso sim, é que os Rubro-Negros entraram na segunda parte dispostos a corrigir o resultado. E logo aos 48 minutos, fizeram-no. Gabigol isolou Bruno Henrique e este, descaído para a direita na grande área e só com o guarda-redes saudita pela frente, não foi egoísta e tocou para o meio onde De Arrascaeta não fez aquilo que Gomis fez na primeira parte. Sem ninguém na baliza, o uruguaio empatou a partida a uma bola e relançou o jogo logo depois do reatamento.
O jogo prosseguiu e a verdade é que, durante largos minutos, perigo foi coisa que não se viu a rondar as balizas de ambas as equipas. Até que, já no último quarto de hora do encontro e quando começava a cheirar a prolongamento, Bruno Henrique correspondeu da melhor forma a um cruzamento de Rafinha e, como mandam as regras, cabeceou a bola na direção da baliza do Al-Hilal e colocou o Flamengo em vantagem no marcador. O passe que isolou Rafinha foi de Diego, ex-FC Porto que, tal como na final da Copa Libertadores, voltou a ser decisivo depois de substituir Gérson (na altura, por lesão, hoje, por opção).
E escrevo decisivo porque, logo depois, essa vantagem foi dilatada. Bruno Henrique apareceu solto dentro da área - após passe de Diego, lá está - e, descaído para a esquerda, cruzou para a "confusão" onde Ali acabou por introduzir a bola na própria baliza. Estava feito o 3-1 e o jogo tinha encontrado o seu vencedor.
Até final, deu ainda tempo para André Carrillo (ex-Sporting e Benfica) ser expulso por vermelho direto e para o Flamengo ir gerindo a vantagem e começar a pensar na final de sábado, onde encontrará o Monterrey (do México) ou o Liverpool (de Inglaterra), podendo reeditar o jogo de há 38 anos, caso os ingleses saiam vencedores da meia-final de amanhã.
Jesus quererá o Liverpool, pelo que um "Até sábado, Jurgen" poderá ter sido pensado por JJ assim que se ouviu o apito final, "saudando" o treinador alemão que se senta no banco dos Reds.
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