Portugal participou pelo sexto ano consecutivo no Campeonato Europeu de Futsal para Pessoas com Diabetes (DiaEuro), disputado em Bratislava, na Eslováquia. O evento anual reservado exclusivamente a jogadores com diabetes nasceu em 2012 com o apoio da Federação Ucraniana de futebol, um apoio prestado por ocasião do campeonato europeu de futebol (organização conjunta Ucrânia e Polónia).

Portugal, que marca presença desde o início da competição, em 2013, esteve representado com a equipa que nasceu do projeto DiabPT United. Depois do 2º lugar alcançado no ano de estreia (perdeu na final para a Hungria nas grandes penalidades), a formação nacional terminou em 9º lugar, numa competição que finalizou hoje e que juntou 17 países, um recorde de participações.

“A diabetes é uma condição que afeta mais de 382 milhões de pessoas em todo o mundo e mais de um milhão de portugueses”, pode ler-se num caderno de apresentação do projeto DiabPT United, projeto criado em 2012 pelo Núcleo Jovem da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (NJA) a que se juntou a Associação de Jovens Diabéticos de Portugal (AJDP).

Bernardo Rodrigues, João Nabais e Bruno David
créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Constituída por jogadores entre os 19 e os 49, que jogam das distritais à 2ª divisão nacional de futsal, para além das naturais ambições competitivas “quisemos quebrar barreiras, mitos e lutar contra a discriminação mostrando que a diabetes, quando adequadamente tratada, não é uma limitação, em particular para a prática desportiva”, salientou João Nabais ao SAPO24, manager e guarda-redes e que “tem mais anos da diabetes (36) que qualquer um dos outros jogadores”, confidenciou Bruno Fuzeta, treinador.

“Temos que desmistificar”, reafirma João Nabais. “60% joga em equipas federadas”, frisa. “Vivem e sabem viver com a diabetes, 24h/dia, 365 dias por ano”, adianta. “Temos uma educação terapêutica, temos o conhecimento do nosso corpo que permite tomar decisões, somos autodidatas”, salienta.

Mas a desconfiança não é só na prática desportiva. Em campo entra a questão dos problemas levantados no “acesso ao emprego ou nas escolas”, exemplifica. “Tudo o que é desconhecido assusta. Não aceitam crianças nos ATL’s porque acham que têm de ter uma pessoa a cuidar quem tem a diabetes”, descreve. “Temos atletas que estão na Faculdade de Motricidade Humana, não há impedimento, mas sim mitos à volta da doença”, reforça João Nabais que explica que com este projeto procuram “lutar contra a discriminação” e colocar a diabetes “na agenda política”.

“Na fase do namoro com a doença foi muito importante o grupo”

Bruno Fuzeta é há dois anos treinador da equipa, um desafio que aceitou depois de um passado ligado à formação do Benfica e de ter sido selecionador distrital de Santarém. “Olho para este projeto como algo que faço em representação do meu país, com jogadores que por acaso têm diabetes”, nota.

Bruno Fuzeta
créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

“Não tinha contacto com a doença, não sou diabético”, avisa. Sobre o treino e a forma como lida com os atletas afirma que não faz “nada diferente do que fazia nas outras equipas”. “Antes de começar a treinar verificam os níveis glicemia e fazem os ajustes. Tomar ou não insulina depende, sendo que eles próprios conhecem-se e ajudam-se uns aos outros”, descreve. “Até eu consigo perceber algumas reações”, atira.

Bernardo Rodrigues, do Núcleo Jovem da APDP descobriu a doença em “2002”, recorda. Jogou na 2º divisão e reforça a “doença não nos limita. Não afeta o nosso dia-a-dia”, remata, admitindo que hoje “é mais fácil viver com a diabetes”.

Por sua vez, Bruno David tem diabetes desde “há quatro anos”. Com 32 anos recorda “que foi um choque numa fase inicial. Tinha uma vida rotinada para o desporto”, recorda o professor de educação física e instrutor de surf. “Passo a vida ligada ao desporto. Estando controlado... até me excedo um pouco mais porque consigo controlar as medições de glicemia”.

Fuzeta defende que a “doença não faz diferença”, e que a “diabetes não lhes limita a vida e que eles querem prová-lo a jogar futsal”, sustenta. Admitindo que o desporto ajuda a combater a doença, a equipa e o projeto DiabPT United ajudam à integração. Dá um exemplo: “o Rafa, que joga desde os benjamins, descobriu a doença há ano. Na fase do namoro com a doença foi muito importante o grupo”, finaliza.

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