Terá sido Bruno de Carvalho a mudar a hora do treino da equipa principal de futebol do Sporting CP no dia da invasão à Academia de Alcochete. Ao contrário do que o dirigente terá defendido em tribunal, Jorge Jesus, em entrevista ao Correio da Manhã, revela que foi o antigo presidente a alterar o treino das dez da manhã para as quatro da tarde. “Ele disse que precisava de tempo para que fosse criada uma nota de culpa para suspender a equipa técnica”, afirma o treinador português relembrando a reunião na véspera dos acontecimentos.
"Não, quem mudou [o horário do treino] foi ele. Agora não sei se foi com a intenção de alguma coisa"
Jorge Jesus confessou-se surpreendido pela detenção do antigo dirigente do Sporting, afirmando que agora todos "vão ter de se justificar e defender". "Vivemos num país democrático com leis, às vezes, brandas demais", diz, trazendo à conversa a pena aplicada ao indivíduo que atacou o autocarro do Borussia Dortmund com um explosivo, um caso que considera ser bastante diferente do que se passou em Alcochete, mas que é paradigma da justiça lá fora.
Bruno de Carvalho está acusado, como autor moral, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados.
Confrontado com as novas imagens agora divulgadas na comunicação social, o antigo treinador dos leões diz que "custou" visioná-las. "Nunca tinha visto. Eu não tinha a noção do que se tinha passado naquele momento", confessa.
"Ele nem sequer lá estava"
Perante o jornalista, que relembrou as palavras de Bruno de Carvalho relativamente às agressões ao técnico português, que terá dito que este terá levado uma "vergastada muito levezinha, pois não viu marcas", Jesus terá sublinhado que foi agredido duas vezes, no corpo e no rosto.
"Estava lá muita gente, incluindo jogadores que viram. O Petrovic viu e o William também viu essa agressão. Eu virei-me a alguns adeptos e disse que aquilo em Alcochete era uma traição ao Sporting. Logo a seguir levei um soco que me fez cair."
"Estava lá muita gente, incluindo jogadores que viram. O Petrovic viu e o William também viu essa agressão. Eu virei-me a alguns adeptos e disse que aquilo em Alcochete era uma traição ao Sporting. Logo a seguir levei um soco que me fez cair. Ele [Bruno de Carvalho] nem sequer lá estava", conta Jorge Jesus que diz que se sentiu indefeso, mas que garante que fez tudo para defender o clube e os jogadores. "Eu não tive medo de nada. O meu ADN é assim desde infância. Nem pensei se me iam dar com tacos de basebol, barras de aço e cintos", sublinha.
No seguimento do ataque, nove jogadores rescindiram unilateralmente os contratos com o Sporting, e quatro deles, Daniel Podence, Gelson Martins, Ruben Ribeiro e Rafael Leão, mantêm-se em litígio com o clube.
William Carvalho e Rui Patrício acordaram os valores para a sua saída, enquanto Bas Dost, Bruno Fernandes e Rodrigo Battaglia voltaram atrás na decisão de abandonar o clube.
O treinador confessa que apesar de nunca ter tido medo, ficou "surpreendido como é que eles [invasores] entraram com tanta facilidade em Alcochete". No entanto recusa apontar dedos, sublinhando à equipa do jornal diário que o processo está em segredo de justiça. "Eu vou ser ouvido quando chegar a Portugal. Os meus advogados já foram informados", revela.
"Estou num projeto em que quero ficar"
Na mesma entrevista, Jorge Jesus é ainda questionado sobre o alegado interesse do SL Benfica, clube que treinou antes de se sentar no banco do Sporting CP, noticiado nos últimos tempos. O técnico garante que "não foi contactado" e elogiou Luís Filipe Vieira por ter segurado Rui Vitória. "Não esperava outra coisa do presidente do Benfica. O Benfica precisa de paz e sossego", diz.
Sobre o futuro, Jesus é peremptório: "Estou num projeto que quero ficar. Vou voltar a Portugal, não sei é quando, nem como, nem qual o clube. Importante é voltar para um clube que me quer, tenho de sentir que as pessoas me querem".
"Não me devem qualificar por ter mudado do Belenenses para o Sporting de Braga ou do Benfica para o Sporting. Isso é uma injustiça. Qualifiquem se eu sou bom ou mau treinador", afirma o técnico.
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