Aursnes e Bah chegaram no início da temporada, Casper Tendstedt aterrou segunda-feira em Lisboa, e Andreas Schjelderup foi o último, tendo sido confirmado esta quinta-feira. É clara a aposta do Benfica em futebolistas nórdicos, neste caso dois dinamarqueses e outros dois noruegueses.   

É preciso recuar até às décadas de 80 e 90 para ver tantos jogadores do norte da Europa em Portugal, e concretamente no Benfica. Recordamo-nos do dinamarquês Michael Manniche, dos suecos Stromberg, Mats Magnusson, Jonas Thern, Stefan Schwartz, mas depois dessa geração foram poucos os que viajaram para o nosso país.

O SAPO24 foi tentar perceber esta aposta em futebolistas que já não serão apenas altos, loiros e de olhos azuis. É que a mesma não se resume apenas ao Benfica e a Portugal. Os nórdicos têm conquistado os principais clubes europeus nos últimos tempos, como comprovam os casos dos noruegueses Haaland (Manchester City) e Odegaard (Arsenal), ou de Ola Solbakken, que foi contratado pela Roma de José Mourinho em dezembro, depois de ter sido um dos 'culpados' da dura derrota dos romanos aos pés do Bodoe/Glimt, na Liga Conferência. Mas também os dinamarqueses têm feito correr muita tinta, como Daramy, do Copenhaga, que tem sido insistentemente apontado ao AC Milan, e o seu compatriota Sander Berge brilha no Sheffield e é visto como possível reforço do Liverpool.

Mas há mais. Estes são, apenas, poucos exemplos, mas os mais conhecidos nos últimos tempos.

Fomos então ouvir alguém que diz algo aos portugueses e que está por dentro do que tem acontecido no universo do futebol nórdico. Azar Karadas, ex-avançado que passou pelo Benfica na temporada 2004/2005, é atualmente treinador das camadas jovens do Brann, na Noruega, e não lhe espanta o sucesso recente dos noruegueses e de outros futebolistas do norte da Europa.

"Sempre houve grandes futebolistas, mas não tinham condições para se desenvolverem ainda mais. Antes o talento chegava, nos nossos dias já não. E foi isso que começou a fazer-se há poucos anos, uma aposta séria no desenvolvimento dos jovens. Dar-lhes mais condições a todos os níveis, desde as escolas às infraestruturas nos clubes. Não estranho este sucesso e acredito que seja só o começo", começou por salientar Karadas, abordando o caso de Haaland.

"Evoluiu muito rapidamente porque o seu pai [ex-jogador do Manchester City] sabia que tinha de lhe garantir mais condições. E essas, infelizmente, ainda não podiam ser garantidas na Noruega e foi para a Áustria [em 2019]. Se calhar até foi graças a Haaland que os clubes perceberam que para segurarem os jogadores, para poderem receber mais dinheiro por eles, tinham de dar-lhes uma estrutura diferente", salientou.

Karadas
Azar Karadas quando representava o Rosenborg, num jogo na Luz. Representou os encarnados na época 2004/2005. MIGUEL RIOPA / AFP

Mas o que um jovem jogador na Noruega, por exemplo, tem agora que não tinha antes? "Olhe, tem, por exemplo, a possibilidade de estar no clube de manhã à noite. Clubes como o Brann, onde estou, o Copenhaga, Rosenborg, Molde, muitos outros, permitem que os jovens possam viver e estudar nas academias. Há um acompanhamento muito mais profissional. E agora, também, quase todos os clubes têm muitos campos de treino, e campos específicos, onde se pode trabalhar, por exemplo, a questão física, corrida, sprints, etc, como outros onde podem aprender a melhorar a capacidade defensiva, ofensiva, etc. É um futebol muito mais profissional do que aquele que era há uns anos", referiu.

"Se calhar até foi graças a Haaland que os clubes perceberam que para segurarem os jogadores, para poderem receber mais dinheiro por eles, tinham de dar-lhes uma estrutura diferente"

É caso para dizer que os nórdicos já não são apenas altos, loiros e de olhos azuis? "Também se ouve isso em Portugal? Nunca ouvi, quando estive aí, mas sim, é algo que persegue a população deste canto do mundo. Podemos ser isso tudo, mas muito mais. No futebol, olhe, agora todos olham para nós e não é apenas pelos olhos. Não temos só olhos azuis, temos muita qualidade. A aposta do Benfica é muito boa".

E os nórdicos que aterraram em Lisboa nos últimos tempos?

Três já cá estão e um chegará nos próximos dias. Karadas conhece-os bem e diz que o facto de na década de 80 e 90 ter chegado outro 'carregamento' de futebolista do norte da Europa não foi o facto que levou estes a aceitarem o desafio de representarem o Benfica

Tengstedt
Dinamarquês Tengsted assinou contrato até 2028 Site do Benfica

"O Benfica é um grande clube para qualquer jogador. Claro que há outros com mais poder, com mais força, onde será provável ganharem mais dinheiro. Mas também não é comum que esses contratem jogadores na Dinamarca ou Noruega, preferem ver se resultam em outras ligas, antes de avançarem para a contratação. Schjelderup é um enorme talento, tem muito futuro, já foi apontado a muitos clubes grandes, como o AC Milan. Mas hoje em dia se os clubes evoluíram, a estrutura que os jovens jogadores têm a trabalhar consigo também evoluíram e sabem o que é melhor para eles evoluírem. E o Benfica é um desses casos. Todos sabem os jogadores que o Benfica fez evoluir e todos os jovens hoje em dia olham para o Benfica como um clube onde podem crescer para depois irem para outra liga. Há poucos que preparam os jovens como o Benfica, atualmente", disse o agora treinador, falando depois dos outros nórdicos que representam as águias.

"Quanto o Benfica vai pagar por Schjelderup? [10 milhões, mais cinco por objetivos] Pois, foi o que ouvi. Em pouco tempo o Benfica fará três ou quatro vezes mais. É fenomenal, fico contente que tenha escolhido o Benfica"

"Acho estranho o Fredrik [Aursnes] não ter tido oportunidades em clubes de um campeonato maior. Cresceu nos Países Baixos, chegou este ano ao Benfica, mas tem um talento incrível, podia estar em outra liga. É super completo, daquele tipo de jogador que todos os treinadores gostam. Faz mais que uma posição, todas bem, que grande jogador! O Bah não conheço tão bem, vi alguns jogos e é o estilo dos novos jogadores dinamarqueses, muito rápido e bom tecnicamente. O Tengstedt surpreendeu todos este ano, na Noruega. Veio este ano da Dinamarca, poucos o conheciam, mas em pouco tempo demonstrou enorme talento. Ao final de poucos meses já se ouvia do interesse de clubes de Inglaterra e França. É muito rápido, tem muita força e um instinto louco para o golo, grande contratação", disse Karadas, deixando depois as últimas palavras para o jovem Schjelderup.

"Se continuar a sua evolução, será mesmo um caso sério, mesmo! Tem tudo. É muito bom taticamente, tem uma técnica incrível, é excelente a pensar o jogo, marca golos, que querem que diga mais? Ah, tem apenas 18 anos. Quanto o Benfica vai pagar por ele? [10 milhões, mais cinco por objetivos] Pois, foi o que ouvi. Em pouco tempo o Benfica fará três ou quatro vezes mais. É fenomenal, fico contente que tenha escolhido o Benfica", afirmou Azar Karadas, de 41 anos, não querendo dar pistas de outros craques que estejam a despontar para aquelas bandas.

"Não posso fazê-lo. Já viu se todos esses jovens forem embora? Em vez de continuarmos a evoluir, a construir uma liga forte e formar grandes futebolistas, serão os outros a ganhar com isso. Os clubes que procurem, se quiserem", completou.