SL Benfica e Sporting de Braga sabiam que não existia a hipótese de virem a ter sorteada uma eliminatória, teoricamente, fácil. Os segundos lugares na fase de grupos da Liga Europa deixaram os emblemas portugueses à mercê dos melhores da competição e ainda das equipas repescadas da Liga dos Campeões.

É caso para dizer que entre Roma, Arsenal, Bayer Leverkusen, PSV Eindhoven, Nápoles, AC Milan, Villarreal, Dínamo de Zagreb e Hoffenheim, Shakhtar Donetsk, Ajax, Club Brugge ou Manchester United que venha o diabo e escolha.

Chamar diabo a Maniche, convidado de honra da UEFA para tirar a sorte das 32 equipas em competição, é tremendamente injusto caso não sejamos um guarda-redes que um dia tenha visto passar uma 'bomba' diretamente do pé do antigo médio do FC Porto e da seleção nacional para o fundo da baliza, mas, verdade seja dita, o que aí vem para águias e minhotos não é nada fácil - ou até é. Depende da perspetiva.

Por exemplo, os encarnados vão defrontar os ingleses do Arsenal, um nome que assusta pela história e dimensão do clube, mas que, concretamente, está a milhas de ser o Arsenal que venceu, invicto, a Premier League. Aliás, estatisticamente o Benfica pode sorrir. As duas equipas só se encontraram uma vez em competições oficiais, na segunda ronda da Taça dos Campeões Europeus de 1991/92. Na primeira-mão um empate a um golo no antigo estádio da Luz empurrou a decisão para Londres. Em Terras de Sua Majestade, o resultado repetiu-se, mas no prolongamento as águias foram mais fortes e venceram por 3-1 avançando para a próxima fase.

Mas a estatística vale o que vale, sobretudo porque o embate parece que foi numa Europa do futebol de outros tempos. Bastará talvez dizer que a final da Taça dos Campeões Europeus desse ano foi um impensável - nos dias de hoje - FC Barcelona Vs. Sampdoria. Duas épocas antes os encarnados tinham disputado a final com o AC Milan, de onde saíram derrotadas por 0-1.

Esta é a forma de ver o copo meio cheio, que só se pode concretizar se ignorarmos que o SL Benfica também está longe não só do que era naquela época em que defrontou os Gunners como do grande projeto europeu com que se pretendia afirmar esta temporada, evidente não só na eliminação perante o PAOK na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, como na incapacidade em vencer o grupo da Liga Europa perante um modesto Rangers.

Já para Carlos Carvalhal e o Sporting de Braga não será necessário tapar um olho para ver o copo meio cheio (ou a transbordar). O sorteio não correu de feição ao treinador português que pediu Manchester United ou Tottenham como adversários, mas não se poderá dizer que a AS Roma é um adversário que não esteja ao mesmo nível dos emblemas ingleses desejados e que seja uma verdadeira prova de ferro para os bracarenses, como desejava o técnico português.

As duas equipas nunca se defrontaram oficialmente, mas os Guerreiros do Minho vão encontrar do outro lado um velho conhecido, Paulo Fonseca. O técnico português permite aqui uma análise de amor-ódio. Se por um lado, enquanto timoneiro do Braga (2015/16), para além de ter conquistado uma Taça de Portugal alcançou uns quartos-de-final da Liga Europa, onde foi eliminado pelo Shaktar Donetsk, a equipa que iria treinar no ano seguinte; por outro, Fonseca só perdeu um encontro, em sete, frente aos arsenalistas, sempre que os defrontou enquanto técnico. As últimas vitórias sobre os minhotos aconteceram na temporada 2016/17, quando estava à frente da formação ucraniana. 2-0, na Ucrânia, e 2-4 em Braga em dois encontros a contar para a fase de grupos dessa edição da Liga Europa.

A AS Roma é sexto classificado na Serie A italiana, uma posição que pode ser enganadora visto que a equipa da capital está a apenas seis pontos da primeira posição. Fazendo assim da formação de Dzeko e companhia a 'encomenda' perfeita para Carvalhal.

Três jogos dos 16-avos que merecem atenção

Maccabi Tel Aviv - Shaktar Donetsk

Para além de Jorge Jesus, Carlos Carvalhal e Paulo Fonseca, Luís Castro é outro treinador português em competição. À frente dos ucranianos do Shaktar Donetsk, numa temporada que não se está a revelar fácil e que a prova disso é o clube não ser líder do campeonato ucraniano, o antigo treinador do FC Porto B, Rio Ave, CD Chaves e Vitória Sport Clube tem frente aos israelitas do Maccabi Tel Aviv uma boa oportunidade para voltar a colocar a época nos eixos.

Real Sociedad - Manchester United

Com equipas dignas de Liga dos Campeões, o sorteio não anunciou um grande duelo europeu para os 16-avos de final. Assim, sobram o SL Benfica - Arsenal e o Real Sociedad - Manchester United como principais iguarias. Se o primeiro se justifica, também, pelo passado, o segundo justifica-se pelo passado e presente. Pelo passado europeu recente do United que em 2016/17, com José Mourinho, venceu a competição, um troféu que mais parece um oásis no deserto que é o clube na era pós-Alex Ferguson, e pelo presente de um Real Sociedad que não só é líder em Espanha (com dois jogos a mais que o Atlético de Madrid) como pelo plantel que construiu e que inclui nomes como Willian José, Mikel Oyarzabal, David Silva ou Illarramendi.

Tudo aponta para uma eliminatória bastante discutida.

Lille - Ajax

A armada portuguesa do Lille vai defrontar um Ajax relegado da Liga dos Campeões. A equipa francesa que teve um bom início de época em França e que se exibiu a bom nível na Liga Europa, em parte com base no renascer de Renato Sanches, terá um desfio muito complicado pela frente, os holandeses que chegaram à meia-final da Champions de 2018/19. Embora já sem vários dos elementos que conseguiram concretizar aquela caminhada europeia, o Ajax continua com argumentos mais do que suficientes para se assumir como um candidato a erguer o troféu da prova.