A notícia avançada pela revista Sábado revela que a operação conjunta leva a cabo pelo Ministério Público (MP), Polícia Judiciária (PJ) e Autoridade Tributária (AT) tem como principal alvo os negócios relacionados com três jogadores líbios: o extremo esquerdo Hamdou Elhouni, o médio defensivo Mohamed Al-Gadi e o médio ofensivo Muaid Salem Ali, mais conhecido como Muaid Ellafi.

Os três atletas envergaram a camisola do Santa Clara na temporada 2015/16, sendo que Elhouni chegou a ser transferido para o Benfica no verão de 2016, não tendo nenhum dos clubes divulgado o montante envolvido na transação do jogador que nunca chegou a representar a equipa principal das águias, uma vez que nesse defeso foi cedido por duas épocas ao Desportivo de Chaves e mais tarde ao Desportivo das Aves, um dos clubes visados pelo processo Mala Ciao, através do qual acontecem estas buscas.

Para além das instalações dos clubes, a Sábado afirma que as buscas decorrem também em empresas e residências particulares, inclusive do presidente do clube açoreano, o advogado Rui Cordeiro, do administrador e diretor desportivo Diogo Boa Alma e do empresário brasileiro Khaled Ali Mesquita Saleh, que representa o principal acionista particular da SAD do Santa Clara.

Segundo a TVI, o presidente Luís Filipe Vieira também é um dos principais visados desta operação, decidida pelo juiz Carlos Alexandre, sob suspeita de crimes como corrupção desportiva, assim como  Paulo Gonçalves, antigo braço direito de Vieira na SAD, que saiu na sequência da acusação no processo ‘E-toupeira’, mas que continua a fazer negócios com o clube da Luz.

O objetivo das buscas levadas a cabo esta segunda-feira de manhã é que "aceder e cruzar as contabilidades do Santa Clara e do Benfica para apurar os contornos destes negócios com jogadores líbios, e sobretudo perceber se o fisco português foi defraudado no pagamento de impostos" assim como verificar "se não se verificou uma espécie de financiamento encapotado do clube da Luz ao Santa Clara e posteriormente ao Desportivo de Aves", avançou uma fonte à revista Sábado.

Ministério Público detalha investigações

A Procuradoria-Geral da República já confirmou as investigações, não especificando, no entanto, o nome dos clubes ou indivíduos envolvidos. No comunicado enviado esta manhã às redações, o Ministério Público revela que estão a ser levadas a cabo "oito investigações domiciliárias, uma, a uma fundação, seis, a instalações de três sociedades desportivas, nove, a outros tipos de sociedade, três, a dois clubes desportivos e duas, a dois escritórios de advogados".

"Nos inquéritos investigam-se factos suscetíveis de integrarem crimes de participação económica em negócio ou recebimento indevido de vantagem, corrupção ativa e passiva no fenómeno desportivo, fraude fiscal qualificada e branqueamento", pode ler-se na nota.

Segundo o MP, investigam-se "a aquisição dos direitos desportivos e económicos dos jogadores por parte de clubes nacionais de futebol, empréstimos concedidos a um destes clubes e a uma sociedade desportiva por um cidadão de Singapura com interesses em sociedades sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e a utilização das contas do mesmo clube e de outro, para a circulação de dinheiro."

Para além do acima referido, as investigações incidem também sobre o "envolvimento de outros tipos de sociedades (algumas ligadas ao setor imobiliário), o pagamento em dinheiro de prémios de jogo, a satisfação de dívidas pessoais de dirigentes, a utilização por estes de valores dos clubes e a omissão declarativa de operações fiscalmente relevantes".

Benfica e Santa Clara confirmam buscas

Contactadas pela Lusa, fontes oficiais dos dois clubes confirmaram a realização de buscas, tendo ambos os emblemas da I Liga remetido esclarecimentos para mais tarde, através de comunicados.

O primeiro a fazê-lo foi o clube insular que confirmou "operações de recolha de informação por elementos da equipa de investigação da Polícia Judiciária nas instalações da Santa Clara Açores, Futebol SAD", acrescentando que "desde o primeiro momento, disponibilizamo-nos a fornecer toda a informação requerida, colaborando ativa e serenamente com as demais entidades para o esclarecimento cabal de toda esta situação".

Já a SAD benfiquista manifestou a "total disponibilidade para colaborar com as autoridades no esclarecimento das questões suscitadas no âmbito da diligência em curso".

O caso ‘Mala Ciao’, desencadeado em 25 de junho de 2018, visa o SL Benfica, estando em causa a alegada compra de passes de jogadores como forma de contrapartida de corrupção desportiva e pagamento de incentivos a equipas adversárias para vencer o FC Porto. A investigação deste caso atingiu ainda Desportivo das Aves, Vitória de Setúbal, Paços de Ferreira e Marítimo.

 *Artigo atualizado às 14h53