A Meia Maratona de Lisboa correu-se este domingo, 12 de março, entre a Ponte 25 de Abril (partida) e o Mosteiro dos Jerónimos (chegada). Mas, nem todos conseguiram participar. Numa publicação na rede social Instagram, a página Iron Brothers, dos irmãos Pedro e Miguel Pinto, fez notar que os atletas de cadeira de rodas foram impedidos de participar.
Pode-se ler na publicação: "Hoje o impensável aconteceu. Quando as cadeiras da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa estavam a descer das carrinhas, para os utentes e voluntários participarem na Mini Maratona, como já é tradição da associação há mais de 20 anos, o Diretor de prova, no local, deu indicação à PSP [Polícia de Segurança Pública] para o impedir, dizendo que estavam proibidas as cadeiras de rodas na prova. No século XXI isto é absolutamente inadmissível e é uma violação gritante do princípio da igualdade. É uma descriminação vergonhosa de pessoas com deficiência, quando andaram a publicitar a prova como inclusiva», denunciou ainda a dupla, onde Pedro, com paralisia cerebral, é uma presença habitual nestas provas.
Lembrar que em 2022, a Meia Maratona de Lisboa contou com a presença de Eric Domingo Roldan, um maratonista amador espanhol que correu a empurrar a cadeira de rodas com a mãe, Silvia, que tem esclerose múltipla, e que em 2021 bateu o recorde do mundo da maratona dessa categoria, marca que consta no Guinness Book.
De volta a 2023, o relato do que aconteceu nesta prova não se fica por aí. Elsa Farinha, que acompanhou pela segunda vez a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa à Meia Maratona relata o que aconteceu, numa publicação na rede social Facebook, quando lá chegaram:
"Hoje foi a EDP Meia Maratona de Lisboa e seria a segunda que eu faria com a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa. Se a primeira em 2019 já tinha sido uma aventura, esta não tem equiparação, chegamos às 8h30 à ponte onde paramos ao lado de um autocarro que estava a "descarregar" malta que iria participar em todas as vertentes da prova ... Não pudemos "descarregar" e disseram-nos que deveríamos de o fazer depois das portagens ... Que foi o que foi feito, estávamos a começar a tirar o Pedro quando chega o Director da prova "NÃO PODE HAVER CADEIRAS DE RODAS" ... Como assim? (...) Tivemos de voltar para Lisboa ... Adeus meia maratona, não há passagem da ponte para deficientes. Comecei a ler o regulamento, li e reli e nada. Ah ... Espera: "32. É expressamente proibido a participação de pessoas com animais de estimação, carrinho de bebé, patins, bem como com qualquer outro acessório que não seja utilizado para este tipo de provas".
"Não acredito, seria demasiado ignóbil pensar que uma cadeira de rodas é um acessório ou então deve de ser a forma que eles encontraram para discriminar "sem discriminar". Decidiu se não dar o tempo por perdido e paramos em Alcântara para ir ver a prova ... Encontramos um agente da PSP que nos viu e explicamos a situação "mas se estão inscritos e tem dorsais podem participar" ... Que foi o que acabamos por fazer. Não houve passagem da ponte porque a organização acha que cadeiras de rodas são um acessório (só pode) mas fizemos os kms seguintes e se da organização só posso dizer que foram uma vergonha, pelo contrário só posso enaltecer os vários agentes da Polícia Segurança Pública que fomos encontrando pelo caminho ... A todos eles um muito obrigada".
Em comunicado à LUSA, a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) contesta o sucedido no domingo, por participar “há muitos anos” no evento, com pessoas em cadeira de rodas: "Para surpresa de todo o grupo que integrava a participação nesta edição, foi barrado o acesso, tendo sido impedidos de participar, com o argumento de que o regulamento não permite a participação de pessoas em cadeira de rodas", lê-se na mensagem da APCL, recordando a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
A APCL reclama a “total ausência de inclusão”, na edição de 2023, considerando ofensivo o recurso ao regulamento da prova, que determina: “É expressamente proibida a participação de pessoas com animais de estimação, carrinho de bebé, patins, bem como qualquer outro acessório que não seja utilizado para este tipo de provas”, tal como Elsa Farinha o tinha feito.
Por fim, a APCL considerou esta "uma forma camuflada de exclusão das pessoas com mobilidade reduzida", apelando a que "todas as entidades competentes pela defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência que tomem uma posição nesta matéria".
Entretanto, a organização da Meia Maratona já lançou um comunicado sobre a situação, afirmando que "a não participação de concorrentes em cadeiras de rodas, cadeiras de bebés e outros equipamentos nas provas deste domingo, se deve exclusivamente a questões de segurança e em consequência de incidentes graves ocorridos em edições anteriores. Estas regras foram comunicadas no regulamento das provas e na Sport Expo, que lamentamos se não estiveram claras o suficiente. Recordamos que enquanto organizadores de provas, fomos pioneiros na inclusão e, que entre 1998 e 2018, organizámos em Lisboa, em conjunto com a Meia Maratona, 20 edições da prova de deficientes motores em cadeiras de rodas com atletas semi-profissionais de todo o mundo".
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