Com a qualificação inédita para o torneio, os jogadores zairenses foram premiados pelo governo ditatorial de Mobutu Sese Seko com novas casas, carros, dinheiro e uma lista extensa de luxos, prémios que seriam ainda maiores com uma boa participação na prova.

O Zaire (agora República Democrática do Congo), comandado pelo jugoslavo Blagoje Vidinic e composto apenas por jogadores que atuavam em clubes do próprio país, foi sorteado no Grupo 2, logo com os campeões Brasil, mas também com a Jugoslávia e Escócia.

“Disseram-nos que se perdêssemos por quatro ou mais golos, não poderíamos regressar a casa, ao nosso país e voltar a ver nossa família”

A estreia, em 1974, aconteceu com os escoceses, em Dortmund, com uma derrota por 2-0, resultado que subitamente alterou o comportamento Mobutu Sese Seko. O ditador zairense não gostou da derrota e retirou todos os prémios que tinha oferecido aos jogadores, no valor de 45 mil dólares para cada futebolista.

Por essa razão, o Zaire esteve perto de não entrar em campo na segunda jornada, frente à Jugoslávia, mas acabou por marcar presença no Parkstadion, em Gelsenkirchen, no que acabou por se tornar a segunda maior goleada de sempre da história dos Mundiais.

O Zaire foi ‘esmagado’ por 9-0, num encontro marcado pela expulsão do avançado Ndaye Mulamba, por alegadamente ter pontapeado o árbitro da partida, o colombiano Omar Delgado. Mais tarde, as imagens mostraram que tinha sido Mwepu Ilunga a agredir o juiz e não Mulamba.

A goleada enfureceu ainda mais Mobutu Sese Seko, que fez um ultimato aos jogadores no duelo com o Brasil, como contou Mwepu Ilunga, que viria a protagonizar um dos lances mais caricatos dos Mundiais.

“Disseram-nos que se perdêssemos por quatro ou mais golos, não poderíamos regressar a casa, ao nosso país e voltar a ver nossa família”, explicou Ilunga.

O palco foi novamente Gelsenkirchen e, aos 79 minutos, Valdomiro fez o terceiro golo do Brasil, deixando os jogadores do Zaire com pouco mais de 10 minutos para ‘sobreviver’.

A cinco minutos do fim, o Brasil teve um livre direto, em boa posição para fazer o quarto golo, o que levou ao desespero Ilunga. Quando Jairzinho se preparava para rematar, o defesa saiu disparado da barreira e chutou a bola para longe, para a estupefação dos jogadores ‘canarinhos’ e dos árbitros, que pensaram que o zairense não tinha entendido as regras da modalidade.

“Fiz aquilo de propósito. Esperava até ser expulso, como forma de protesto, mas o árbitro apenas me deu um amarelo”, explicou Ilunga.

O jogo acabou 3-0 e os jogadores zairenses puderam regressar ao seu país. Tanto o Zaire como a República Democrática do Congo nunca mais voltaram a participar na fase final de um Campeonato do Mundo.

Mwepu Ilunga faleceu em maio de 2015, em Kinshasa, vítima de doença prolongada, mas ficou eternizado pelo seu pontapé de ‘revolta’ no Mundial de 1974.


Para os mais curiosos, o podcast We Came To Win, dedicado a histórias míticas em Campeonatos do Mundo de futebol, dedicou um episódio a este incidente, explicando toda a história por detrás do mesmo. O áudio está em inglês.